Lembra daquela velha brincadeira em que uma pessoa começa a história e a outra continua de onde parou? Pois é mais ou menos assim que funciona a Red Door HQs.
Toda terça-feira, um participante publica uma página da HQ, dando continuidade na história. Essa página é produzida em segredo e os outros dois participantes a veem pela primeira vez junto com todo mundo, quando é publicada. E assim a história vai seguindo, sem roteiro pré-definido. Essa é a ideia dos autores Bruno Arruda, Daniel Queiroz Porto e Rafael Oliveira, que estão a todo vapor com a Red Door HQ. Conversei com os autores e eles falaram um pouco sobre o projeto e ainda deram dicas superlegais para quem tem vontade de fazer quadrinhos no Brasil. Confira:

Daniel, Bruno e Rafael
Resenhas: Vocês podem falar um pouquinho sobre como surgiu a ideia da Red Doors? Qual é o diferencial de vocês com esse projeto?
Red Door: Nós sempre tivemos muito interesse em quadrinhos, líamos sempre, e tivemos pouca experiência em produzir, mas nossa vontade de criar era sempre suprimida por um certo receio de que nosso desenho não estivesse “pronto” para produzir um quadrinho. Então, em 2013, o Rafael Oliveira veio com uma ideia: perder esse medo e começar a produzir logo, sem pensar muito. A ideia da Red Door surgiu com esse convite, o combinado foi que toda semana um faria a página e teríamos que publicar em um site, independente da qualidade dela, e um dando continuidade ao que o outro autor fez, sem roteiro definido. Em uma semana já tínhamos um blogspot, uma página definida, um nome para o projeto e a ordem de publicações! Tudo muito rápido para começar a produzir logo e não ficar de mimimi, assim poderíamos aprender na prática e não ter receio de produzir. Outra coisa ótima do projeto é que estamos em grupo e isso ajuda a dividir as tarefas, motivar um ao outro e a melhorar nossa narrativa e nossa percepção do que o outro deseja fazer ou para onde seguir com a história. Assim todos crescem! Mas o maior diferencial é o ato de as histórias serem produzidas no improviso, página a página.
CONFIRA A ENTREVISTA COM RENATO QUIRINO E ANDRÉ TURTELLI, AUTORES DA HQ “AOKIGARAHA”
Resenhas: Como é o processo de criação das páginas? Existe um roteiro pré-definido ou é mais livre, cada um faz do jeito que acha melhor?
Red Door: No primeiro ano era totalmente livre. A história ficou com 45 páginas e cada hora acontecia algo mais bizarro, e a história foi perdendo o rumo demais! Com alguns feedbacks de amigos e até entre nós mesmos, surgiram novas ideias de mudar algumas diretrizes dentro da nossa dinâmica. Então, desde o ano passado temos feito um pouco diferente para ter um certo direcionamento. As histórias possuem 10 páginas, para que cada um saiba o momento em que o final se aproxima e começarmos a dar um clímax para ela. Outro ponto que melhoramos é que quem começa a história, dá um gênero para ela, como por exemplo: suspense, ação, tiroteio, aventura de RPG. Assim, ela fica mais uniforme e não tão louca como no nosso primeiro ano. Mas fora a limitação do tamanho das histórias, cada um tem bastante liberdade para criar as páginas. Sempre tentamos respeitar os personagens e o gênero da história, mas somos livres para desenvolvê-la como acharmos melhor dentro disso.
Resenhas: Como tem sido o contato com o público? Vocês recebem um retorno bacana dos leitores?
Red Door: Por morarmos em Bauru-SP, sempre tivemos pouco contato com leitores de outros lugares. Achávamos que os leitores do nosso site fossem apenas amigos e familiares. Mas isso acabou mudando quando fomos para a CCXP (Comic Con Experience) em dezembro de 2014. Durante o evento, sentimos como é o contato com pessoas que conhecem e quem passou a conhecer lá o nosso trabalho. Foi uma experiência extremamente gratificante. Na Comic Con, conhecemos alguns leitores que já nos acompanhavam há alguns meses e até ficamos amigos do Gabriel, um leitor que em todos os dias do evento vinha até a nossa mesa nos dar um bom dia. Foi muito interessante como algumas pessoas compravam um quadrinho sem saber muito o que esperar e para nossa surpresa, no dia seguinte, voltava e comprava as outras hqs para ler todas! Recentemente o Rafael Oliveira nos representou na 21ª Fest Comix, e falou que alguns leitores que passaram na nossa mesa já possuíam um ou outro de nossos quadrinhos que compraram em lojas que distribuímos no Brasil. É muito bom ter esse tipo de contato com as pessoas que leem o que produzimos, assim temos uma noção de como atingem muito mais do que imaginamos!
Resenhas: O que vocês acham mais difícil na hora de criar os quadrinhos? A história, o desenho, a finalização…? Quais são os desafios?
Red Door: Nessa parte acho que cada um possui uma dificuldade, mas em todos esses aspectos temos algo para melhorar. Nós três somos formados em Design, então naturalmente nos expressamos melhor por imagens. Temos alguma facilidade em criar histórias, mas na hora de escrever é sempre um desafio deixá-la redonda para o roteiro. Assim como temos dificuldades em desenhar algo que nunca desenhamos ou também achar um estilo de finalização que se encaixe melhor na história. Porém esses desafios são o que nos fazem crescer e aprender que tudo isso é uma questão de hábito e se desafiar a fazer! Mas o que é mais desafiador na produção de quadrinhos é que é uma tarefa bem solitária e passamos muito tempo na prancheta/computador. Por esse motivo temos que ter uma grande força de vontade e permanecer horas e horas para que saia com a melhor qualidade possível.
Resenhas: Vocês lançaram a versão impressa da HQ, o volume 1. Quais são os planos futuros? Vocês pretendem continuar publicando ou vão focar mais no digital?
Red Door: Nossos planos são de produzir um volume da Red Door por ano, já que no site produzimos semanalmente, então o compilado disso se tornaria nosso volume anual. Outro motivo para que isso aconteça é que também colecionamos quadrinhos e é muito bom ter a HQ física para ler e reler quando quiser! Como a Red Door funciona como um selo, também temos nossos quadrinhos pessoais, então fora esse volume anual, podem surgir outras hqs. Inclusive, já estamos produzindo para esse ano: mais uma física e uma outra digital. Então, a ideia é que o impresso alimente o site e o site alimente o impresso, com histórias em ambos!
Resenhas: Quais dicas vocês dão para quem quer começar a fazer quadrinhos?
Red Door: A maior lição que o projeto nos ensinou foi parar de ter esse receio de começar a fazer alguma coisa por achar que não está pronto e começar a fazer de fato. Isso vale para tudo, não só para quadrinhos, com o tempo e aprimoramento você vai melhorando e, para que isso aconteça, é bom que desenhe páginas de quadrinhos. Só assim é possível praticar e aprimorar sua narrativa. Outra dica é que você não precisa fazer tudo sozinho. É normal querer pegar todo o trabalho para si, e muitos de nós, como artistas, temos histórias que queremos contar nós mesmos. Mas não se prenda a isso como uma obrigação, faça amizades, arranje companheiros. Se você não é bom em escrever histórias, mas gosta de desenhar, procure um parceiro para colaborar! Ache pessoas que complementem suas habilidades e dividam um sonho com você. Mesmo que seja para cada um trabalhar em um projeto pessoal, mas tenha pessoas com quem pode compartilhar seu trabalho e deixar o ato de produzir quadrinhos menos solitário!

Isabela Zamboni Moschin é jornalista, especialista em Língua Portuguesa e Literatura e mestre em Mídia e Tecnologia. Adora café, livros, séries e filmes. Atualmente, trabalha como Analista de Conteúdo na Toro Investimentos