Resenhas  |  06.07.2015

Resenha: Lolita – Vladimir Nabokov

“Lolita, luz de minha vida, labareda em minha carne. Minha alma, minha lama. Lo-li-ta: a ponta da língua descendo em três saltos pelo céu da boca para tropeçar de leve, no terceiro, contra os dentes. Lo. Li. Ta. Pela manhã ela era Lô, não mais que Lô, com seu metro e quarenta e sete de altura e calçando uma única meia soquete. Era Lola ao vestir os jeans desbotados. Era Dolly na escola. Era Dolores sobre a linha pontilhada. Mas em meus braços sempre foi Lolita. Será que teve uma precursora? Sim, de fato teve. Na verdade, talvez jamais teria existido uma Lolita se, em certo verão, eu não houvesse amado uma menina primordial.”

Resenha: Lolita - Vladimir Nabokov
FOTO: Melissa Marques / Resenhas à la Carte

Com um início desses, impossível não querer continuar Lolita, o clássico escrito por Nabokov. Lolita é referência na literatura mundial e não apenas ousou ao mostrar o ponto de vista de um pedófilo sobre amor e o sexo, como se tornou um marco na história. O livro de Nabokov foi recusado inúmeras vezes até ser publicado em Paris, no ano de 1955.

O protagonista Humbert Humbert trabalha como professor de literatura e se apaixona pela rebelde Dolores Haze, também conhecida como Lolita, uma menina de 12 anos. Depois de se casar com Charlotte Haze e se tornar padrasto da menina, Humbert se envolve sexualmente com Lolita, a quem intitula “ninfeta” – uma menina que está na transição para a fase adulta, isto é, uma garota com o corpo em desenvolvimento.

Logo no começo, sabemos que Humbert escreveu sua história enquanto estava na prisão, ou seja, este é um narrador não confiável: conhecemos Lolita por meio do ponto de vista do homem de meia-idade. É justamente aí que reside o triunfo da obra: vemos o mundo por meio do olhar de um pedófilo, um homem desesperado e cego pelo amor e luxúria, uma pessoa desnorteada e obsessiva.

Resenha: Lolita - Vladmir Nabokov
FOTO: Melissa Marques / Resenhas à la Carte

Não nego que Humbert é realmente apaixonado por Lolita, mesmo que de forma doentia. Aos olhos de qualquer um, Lolita seria apenas uma menina rebelde, mal-educada e magricela de 12 anos. Aos olhos do protagonista, Lolita é endeusada e descrita de forma esplêndida: cabelos cor de mel, pele aveludada, usando apenas uma soquete. O estilo de Nabokov é riquíssimo, com um vocabulário extenso, amplas descrições que não caem na mesmice ou no tédio… um jeito único de narrar a história.

Para comprar o livro, é só clicar no link abaixo:

No começo, fiquei com asco do personagem, já que este frequentava parquinhos para observar meninas brincando e pensando em como elas seriam em cima de seu colo (quão nojento é isso?). Mas, como não me choco facilmente, avancei na leitura e percebi o quão interessante é a narrativa proposta pelo autor.

Odiamos Humbert Humbert por suas atitudes grotescas em relação a Lolita e outras ninfetas, mas também é possível se solidarizar com o protagonista em alguns momentos. Lolita também é uma menina insuportável, mas que conseguimos compreendê-la, já que sua infância foi arruinada e sua vida virou de cabeça para baixo.

O medo constante do protagonista em ser descoberto, as loucuras que fez pela menina, todo seu êxtase sexual ao encostar na pele da garota, são descritos de uma forma minuciosa.

Dificilmente nos deparamos com livros tão meticulosos e perfeccionistas, mas Lolita é um bom exemplo. Alguns podem achar certas partes descritivas maçantes, principalmente quando Humbert se delonga ao registrar a paisagem norte-americana, mas nada que tire o prazer da leitura.

Depois de Frankenstein, Dorian Gray e Grandes Esperanças, adicionei mais um clássico para minha lista e não me arrependo nem um pouco. Obs: já tinha assistido ao filme de Kubrick, mas, apesar de bom, nem se compara ao livro (como sempre). Leiam e depois assistam, a experiência com certeza é bem melhor :)

NOTA

banner classicos

*Última atualização em 11 de março de 2024

Anterior
Próximo
Compartilhe
Comente Aqui
6 Comentários “Resenha: Lolita – Vladimir Nabokov”
[fbcomments]
  1. Geraldo Lacerda      02 fev 2020 // 09H19

    Aqueles que buscam na leitura de Lolyta, pornografia estimulante, serão recepcionados por uma escrita literariamente impactante. O leitor mais experimentado, começará, logo de inicio, a suspeitar que suas expectativas eram um tanto equivocadas. Não obstante todas objeções feitas ao tema, o autor não erotiza o leitor. A relação entre o Humbert e Lolyta é mantida nas paginas, o leitor é mantido neutro, no que se refere a sexo. Obviamente, seu julgamento estará, na maioria dos casos em ação todo o tempo. Gostei de ter lido e recomendo a todos que apreciam uma boa prosa literária.

  2. Geraldo Lacerda      20 jan 2020 // 04H33

    Deveria fazer algum comentário ao término do livro, mas não me contendo apresento minha primeira impressão: Atraído pela temática tanto debatida, procurei entender como a literatura trata dela. O tema não me era desconhecido, mas a riqueza da prosa de Nabokov, esta ninguém havia medito. Escreve diabolicamente bem. Digo diabólica pelo espinhoso assunto.
    Paro meus comentários por aqui para prosseguir nesta irriquieta leitura.

  3. Thatiane      14 jun 2018 // 02H20

    Eu não consegui sentir pena de Humbert-Humbert em momento nenhum da leitura, sempre o enxerguei como o pedófilo monstruoso que ele é. No mais, adorei a leitura, me arrependi de não ter lido antes. A narrativa é incrível, me surpreendeu muito a forma como o autor consegue escrever de forma tão poética sobre um tema tão difícil.
    Separei meus trechos preferidos no blog <3
    http://camarguices.blogspot.com/2018/06/trechos-de-lolita-vladimir-nabokov.html

    • Isabela Zamboni      14 jun 2018 // 02H27

      Sim, Humbert é nojento demais, não é fácil de ler as coisas que ele pensa… e o livro é incrível, vale a pena ser lido e relido!

  4. Felipe Macedo      14 ago 2015 // 02H34

    De fato, achei o livro terrível. Não consegui completar a leitura.
    Parabéns pelo blog!

    Saudações.

    • Isabela Zamboni      15 mar 2018 // 12H10

      Obrigada Felipe!

      Não é um livro fácil mesmo.

      Abraços!