Resenhas  |  21.07.2015

Resenha: Madame Bovary – Gustave Flaubert

Madame Bovary é aquele livro que todo mundo já ouviu falar na escola: é o marco do realismo, foi muito polêmico na sua época, é um clássico da literatura mundial… mas quando estamos no colegial nos preparando para o vestibular, a leitura desse livro passa longe de ser prazerosa. Aliás, quase tudo que vira obrigação perde a graça, né?

Resenha: Madame Bovary - Gustave Flaubert
FOTO: Isabela Zamboni | Resenhas à la Carte

Mas eu, pelo contrário, não li Madame Bovary na época do colégio: li agora, aos 24 anos, pós-faculdade. E posso afirmar que essa obra é incrível, não somente no seu estilo, mas também no forte conteúdo. Incrivelmente, o livro foi escrito em 1857, mas MUITAS coisas se assemelham aos dias de hoje.

Madame Bovary conta a história da triste e solitária Emma, uma moça criada no campo que tem grandes sonhos burgueses. Emma é muito apegada a seus livros e acredita que sua vida será igual aos romances que devora com fervor todos os dias. 

Sempre esperando uma vida melhor e cheia de riquezas, Emma casa com Charles Bovary, um médico do interior. A partir deste momento, vamos acompanhar uma linha sucessória de acontecimentos e momentos deprimentes, começando pelo tedioso casamento de Charles e Emma.

Frustrada por levar uma vida tediosa, monótona e ter um marido extremamente devotado, Emma começa a procurar novas aventuras. Acaba se envolvendo em duas relações extra-conjugais e, aos poucos,  percebe que a vida real é bem diferente daquela retratada nos livros.

“E Emma buscava saber o que significavam exatamente, na vida, as palavras felicidade, paixão e embriaguez, que tão belas lhe pareceram nos livros.”

Vamos por partes: é bem complicado ser sucinta quando o assunto é Madame Bovary. São muitos temas diferentes retratados e inúmeras mensagens nas entrelinhas. Primeiramente, Flaubert com certeza estava satirizando os autores românticos, que contavam histórias de belas donzelas que seriam salvas por um príncipe.

Ao mostrar a realidade dura dos casamentos arranjados (sem amor nenhum por parte de Emma), conseguimos perceber a ironia do autor, que, de forma singela, consegue demonstrar a vida deprimente de uma mulher perdida em suas próprias ilusões.

Charles é um marido devotado, ingênuo e apaixonado: faz de TUDO por Emma, mas ela não corresponde e ainda o trata com o maior desprezo do mundo. Sua vontade é fugir, viver uma paixão sórdida, um romance proibido. Cansada do marido e da sua pobreza (ser médico no interior não era nenhum luxo na época), Emma busca novos amantes, que lhe prometiam o mundo, mas no fim das contas não lhe deixam com nada.

Resenha: Madame Bovary - Gustave Flaubert
FOTO: Isabela Zamboni | Resenhas à la Carte

Os personagens de Flaubert são todos bem icônicos: desde o farmacêutico pomposo amigo da família, até a sogra de Emma, que faz o típico papel de mulher azeda que não suporta a própria nora. Cada diálogo do livro é precioso, criticando a religião, o falso moralismo e os “bons costumes”.

Não é à toa que Flaubert é o marco da escola realista e influenciou tantos autores que vieram logo após, como Eça de Queiroz, que fez uma bela releitura de Madame Bovary em sua obra “Primo Basílio“.

“No fundo de sua alma, no entanto, ela esperava um acontecimento. Como os marinheiros aflitos, passeava seus olhos desesperados pela solidão de sua vida, buscando ao longe algum véu branco nas brumas do horizonte.”

Madame Bovary foi tão polêmico que chegou a ser censurado! Flaubert foi levado aos tribunais e choveram críticas à sua obra. Seu livro foi reconhecido e aplaudido como um clássico da literatura mundial somente muito tempo depois. Nos dias de hoje, é absurdo considerar este um livro polêmico. A história de uma mulher adúltera, sonhadora e insatisfeita com o próprio casamento não chegaria nem perto de ser censurada. Mas em 1857 era imperdoável.

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Livro Madame Bovary de Gustave Flaubert

Para finalizar, o que mais me tocou neste livro é como ele consegue mexer com nossos sentimentos. A amargura de Emma queima na pele; sentimos pena de Charles ao lembrarmos de tantos homens como ele; odiamos os amantes de Emma, que são aqueles típicos homens que prometem o mundo às suas amantes e, na primeira dificuldade, pulam fora do barco; ficamos morrendo de raiva da hipocrisia e falsidade dos membros da pequena cidade francesa, que não sabem fazer nada a não ser futricar; morremos de tédio ao ver como a vida de uma dona de casa daquela época podia ser tão pavorosa; não conseguimos entender a frieza dos pais com a pequena filha, sempre jogada nos braços da empregada.

“O dever é sentir que somos grandes, é amar o que é belo e não aceitar todas as convenções da sociedade com as infâmias que ela nos impõe.”

Afinal, você é Madame Bovary, sempre insatisfeita com tudo, ou Charles, otimista e perdido na ingenuidade?

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*Última atualização em 14 de março de 2024

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20 Comentários “Resenha: Madame Bovary – Gustave Flaubert”
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  1. Isabela      19 nov 2019 // 02H54

    Amei sua resenha!!

    • Isabela Zamboni      19 nov 2019 // 02H54

      Obrigada xará!

      Beijos

  2. Mariana Silva      19 nov 2019 // 02H54

    Livro maravilhoso! Além de remontar um quadro da sociedade burguesa da epoca, nos propõe uma imensidao de análises a respeito das individualidades de cada personagem. Desse modo, ainda ao contemplar a personagem principal, Ema Bovary, Flaubert consegue fixar nosso olhar aos demais personagens, avaliando sempre sua progressao e singularidade. Simplesmente perfeito!

    • Isabela Zamboni      19 nov 2019 // 02H54

      Perfeição define mesmo, Mariana! <3

  3. cicero dos santos oliveira      19 nov 2019 // 02H54

    isabela, fantastica a sua resenha ! agora vou ler o livro depois dessa resenha ninguem mais me segura sou apaixonado por romances classicos…e vc.. faz a melhor resenha que ja vi.. bjs….

    • Isabela Zamboni      19 nov 2019 // 03H03

      Que bom que gostou, Cícero! Espero que goste do livro tanto quanto eu.

      Abraços!

  4. Thiago Carvalho      19 nov 2019 // 02H54

    Muito boa a resenha de vocês meninas, parabéns!!!

    • Isabela Zamboni      19 nov 2019 // 02H54

      Obrigada Thiago! Volte sempre :)

  5. arlindo fidencio      19 nov 2019 // 02H54

    Acabei de ler ! Não dá vontade de parar a leitura, é muito interessante .recomendo !

    • Isabela Zamboni      19 nov 2019 // 02H54

      Muito bom mesmo, Arlindo!

  6. Mariana Silva      11 jan 2019 // 07H17

    Livro maravilhoso! Além de remontar um quadro da sociedade burguesa da epoca, nos propõe uma imensidao de análises a respeito das individualidades de cada personagem. Desse modo, ainda ao contemplar a personagem principal, Ema Bovary, Flaubert consegue fixar nosso olhar aos demais personagens, avaliando sempre sua progressao e singularidade. Simplesmente perfeito!

    • Isabela Zamboni      14 jan 2019 // 08H51

      Perfeição define mesmo, Mariana! <3

  7. arlindo fidencio      05 nov 2018 // 09H32

    Acabei de ler ! Não dá vontade de parar a leitura, é muito interessante .recomendo !

    • Isabela Zamboni      06 nov 2018 // 03H05

      Muito bom mesmo, Arlindo!

  8. cicero dos santos oliveira      22 out 2018 // 09H24

    isabela, fantastica a sua resenha ! agora vou ler o livro depois dessa resenha ninguem mais me segura sou apaixonado por romances classicos…e vc.. faz a melhor resenha que ja vi.. bjs….

    • Isabela Zamboni      23 out 2018 // 08H53

      Que bom que gostou, Cícero! Espero que goste do livro tanto quanto eu.

      Abraços!

  9. Thiago Carvalho      13 mar 2017 // 01H27

    Muito boa a resenha de vocês meninas, parabéns!!!

    • Isabela Zamboni      13 mar 2017 // 01H39

      Obrigada Thiago! Volte sempre :)

  10. Isabela      02 nov 2016 // 08H37

    Amei sua resenha!!

    • Isabela Zamboni      02 nov 2016 // 08H39

      Obrigada xará!

      Beijos