Muito além da questão referente à qualidade musical, é inegável que Anitta é um fenômeno. A cantora de apenas 25 anos acaba de ganhar uma biografia “não autorizada”, feita pelo jornalista Léo Dias. Furacão Anitta aborda desde a infância no bairro de Honório Gurgel, no Rio de Janeiro, ao sucesso astronômico.
Resolvemos ler o livro ainda no formato e-book, para entender tudo o que envolve a estrela do pop: sua trajetória, o marketing (muito bem feito pela cantora), as inimizades, os amores, enfim, conhecer melhor o ser humano que está por trás da figura nos palcos.
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“Toda biografia é um apanhado de histórias, um recorte nem definitivo nem mentiroso, apenas um ponto de vista entre tantos outros possíveis”, comenta o autor ainda na introdução. Boa parte do livro – do início até a metade – acompanhamos a saga de Larissa em busca da fama.
“Com um ano e oito meses já demonstrava uma autonomia surpreendente […] Miriam pediu para que fizessem um teste, pois sabia que a filha era esperta demais. Dito e feito: a pequena arrasou e foi matriculada”.
De acordo com o biógrafo, desde a infância, a garota se destacava por seu jeito extrovertido, força de vontade, carisma e talento musical. Nascida e criada em uma família católica, Anitta deu seus primeiros passos na música ainda na igreja, ao lado do avô, que já contava com um tino musical aguçado.
“Muitos, inclusive, faziam cara feia. As outras meninas, então, nem se fala. Não pela zona que elas aprontavam, mas por ciúmes, mesmo. Larissa ganhou corpo muito cedo. Peitão, bundão. E ainda tinha atitude, sempre confiante. Para completar, era engraçada, brincalhona. Tudo chamativo demais. Os garotos babavam, mas as garotas espumavam de raiva”.
Em Furacão Anitta, temos uma dimensão das inspirações, lutas e sonhos de uma garota suburbana do Rio em busca da fama que, até então, parecia extremamente distante. Tanto que Larissa levou uma vida comum até o início da fase adulta: estudou, passou em um processo de estágio na Vale e estava começando a “encaminhar a vida”.
“Os conceitos de administração que estava aprendendo na Faetec já começavam a despertar em Larissa um tino comercial incrível”.

Segundo o autor, a “cara de pau” da cantora sempre a levou longe: conseguiu diversas conquistas importantes para a sua carreira na base do “jeitinho”, como quando ligou para a FM O DIA, durante uma entrevista de Hugo Gloss, e pediu – ao vivo – para que o blogueiro a seguisse nas redes sociais.
“A principal inspiração foi a personagem da minissérie Presença de Anita da TV Globo exibida em 2001. Uma menina que era sexy e poderosa e tinha um quê de ingenuidade ao mesmo tempo”.
O primeiro contrato com a Furacão 2000 veio, em seguida, com a K2L, ambos cheios de dificuldades. Já batizada como MC Anitta, a garota sofria com a inveja e boicotes por parte de alguns membros e produtores. Ao mesmo tempo, aprendeu que, se quisesse fazer sucesso de verdade, deveria mudar alguns detalhes importantes: seu jeito, postura, forma de se vestir, de falar e, até mesmo seu corpo.
“Kamilla teve que conversar muito com a cantora para mostrar que existia uma elite de nariz empinado ávida por consumir a cultura funk desde que viesse “embalada” de outra forma”.
Diversos assuntos são abordados, porém, de forma bastante introdutória. Nada que alguns minutos no Google ou em sites de fofocas não resolvam. Por isso, após ler Furação Anitta, fiquei com a impressão de que a cantora realmente não foi a fonte oficial para os relatos contidos no livro.
Assim como a maioria dos fãs de Anitta têm uma faixa etária mais jovem, acredito que o público do livro seja o mesmo. Não é difícil vermos termos como “crush”, “lacradora”, “boy magia” nas páginas da obra. A linguagem se assemelha bastante às colunas de fofoca e sites de entretenimento – como o próprio blog do autor Léo Dias e o famoso Hugo Gloss. Se você espera ver muito mais sobre a intimidade da estrela do pop, infelizmente, vai ficar querendo.
“O crescimento concomitante de Anitta e da internet no Brasil não foi mera coincidência […] O período de surgimento e estouro de Anitta, por exemplo, coincide com o crescimento econômico da classe C, embalado por programas sociais e de governo”.
Algumas mensagens trocadas no WhatsApp estão praticamente copiadas e coladas no livro, além de alguns grupos de inimizades estarem expostos. Fica a critério do leitor acreditar ou não nos fatos expostos ali, ainda mais tendo em vista que algumas passagens de Furacão Anitta beiram o absurdo, e pintam artistas como Preta Gil, Pabllo Vittar, Ivete Sangalo, Maluma – entre outros – como pessoas dispostas a criticar e tentar acabar com a carreira da cantora.
Além disso, alguns pontos considerados mais “polêmicos”, são retratados no livro, como: a bissexualidade da estrela do pop e o fato de sua religião ser afrodescendente. Nada que choque.
Um ponto me incomodou durante a leitura e vale ser ressaltado: no livro, Anitta é retratada sempre como uma figura vitimizada. Todas as brigas públicas foram causadas por outras pessoas, nunca por ela, que é sempre a sofredora da história. Sabemos que na vida real as coisas não são bem assim e que toda história tem dois lados, mas em Furacão Anittao autor é categórico e mostra um ser humano praticamente imaculado e sem falhas.
“E lá foi a pobre da Anitta, cheia de dor, recém-operada, se apresentar. Coitada, mal conseguia se mexer”.
Uma leitura fluida, fácil, de poucas horas. Que traz uma certa dimensão de quem é Anitta – ou Larissa – por trás dos holofotes, mesmo que seja claramente uma “rasgação de seda” para a cantora. Mais diverte do que informa.
“Bang” tornou Anitta moderna, cool, desejável e, principalmente, vendável. “Vai Malandra” serviu para lembrar ao mundo de onde ela veio, e, como a favela é a principal imagem do Brasil no exterior, nada melhor do que dizer que Anitta veio de lá. Mesmo que Honório Gurgel esteja bem longe de ser uma favela.
Como eu já disse anteriormente aqui no blog, não costumo julgar o conteúdo de uma biografia – pois acredito que, por se tratar do relato sobre a vida de alguém, essa não é a melhor forma de avaliar a obra. Mas sim, costumo avaliar a forma com que o autor aborda o assunto em questão, a quantidade e a qualidade das fontes, a pesquisa feita por trás da obra.

Nesse quesito, Furacão Anitta deixa MUITO a desejar. A pesquisa feita por Léo Dias me parece bastante preguiçosa: em momento algum as fontes são citadas ou o autor explica de onde as afirmações teriam vindo (tarefa básica de um jornalista, né?). Me lembrou bastante a biografia de Heath Ledger, escrita por Brian J. Robb, autor famoso por suas biografias “não autorizadas”.
“A cantora não fez fortuna com a sua música, mas sim com a sua marca”.
Enfim, para quem gosta do gênero, já indicamos algumas boas biografias e autobiografias (inclusive de outros astros da música) por aqui: Minha Breve História – Stephen Hawking, Na Natureza Selvagem – John Krakauer, CASH – Johnny Cash e Patrick Carr, Maria Stuart – Stefan Zweig.
Por fim, ao autor comenta a escolha do título Furacão Anitta para a biografia não autorizada da cantora: “Esta biografia não se intitula Furacão Anitta por acaso. Em breve, a personagem criada por Larissa Macedo chegará ao fim. A sexbomb rebolativa, poderosa, meiga e abusada abandonará de vez os palcos deixando marcas inesquecíveis no cenário da música pop internacional“. E a própria voz dos hits “Show das Poderosas” e “Downtown” afirma que seu sucesso é algo com prazo de validade: “Depois de mim, virá outra. Não tem por que eu ficar disputando com essa outra. Não vou ganhar nunca essa disputa. É fisicamente impossível…“.
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Melissa Ladeia Schiewaldt é jornalista, especialista em Marketing Digital e tem MBA em Gestão de Projetos.