Resenhas  |  21.10.2019

Resenha: 24 Horas na Vida de uma Mulher – Stefan Zweig

Comecei a ler 24 Horas na Vida de uma Mulher, de Stefan Zweig, depois de encontrar a edição da Zahar disponível no Kindle.

Trata-se de uma novela – gênero situado entre o conto e o romance – bem curtinha, de apenas 107 páginas. A história foi classificada por Freud como uma “obra-prima” e conta, literalmente, um acontecimento que dura somente um dia na vida de uma mulher.

Resenha: 24 Horas na Vida de uma Mulher - Stefan Zweig
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

Confira a sinopse:

Estamos em pleno anos 1920, no seleto cenário da Côte D’Azur, em Monte Carlo, onde o plácido ritmo dos hóspedes internacionais de um respeitável hotel sofre uma rápida reviravolta devido a um evento tão dramático quanto escandaloso. À noite, Madame Henriette, esposa e mãe irrepreensível, foge com um jovem francês, recém-chegado ao hotel. É o suficiente para instalar o tumulto num unido grupo de turistas, com muitas discussões acaloradas e tomadas de partido contra e a favor da fugitiva. No entanto, as 24 horas que o título anuncia não são da vida de Madame Henriette, mas de uma fidalga inglesa, que só depois do escândalo cederá ao desejo e à necessidade de deixar a própria discrição de lado para contar ao narrador, por sua vez hóspede do hotel, o acontecimento bem mais imprevisível e desconcertante que cerca de 30 anos antes revolucionou a sua vida.

Após Madame Henriette ter fugido com um jovem francês, o narrador é um dos poucos que se coloca a favor de não julgar a mulher, ao contrário dos demais hóspedes, totalmente abismados com a situação. Como pode uma mulher largar marido e filhos para fugir com alguém que acabou de conhecer?

Julgamentos morais e discussões acaloradas deixam as pessoas enfurecidas, mas a calma e o ponto de vista objetivo do narrador acabam por chamar a atenção da fidalga Mrs. C, que deposita neste desconhecido sua total confiança e a vontade de desabafar aquilo que a vinha sufocando há muitos anos.

“Argumentei que aquela negação do fato incontestável de que uma mulher, em algumas horas de sua vida, está à mercê de forças misteriosas e mais poderosas que sua vontade apenas dissimulava o medo que sentimos de nosso próprio instinto, o medo do caráter demoníaco de nossa natureza, e que muitas pessoas pareciam encontrar prazer em se sentir mais fortes, mais obedientes à moral e mais puras do que as “fáceis de seduzir.” Eu pessoalmente considerava mais honroso uma mulher seguir de modo livre e apaixonado seus próprios instintos em vez de, como em geral era o caso, trair seu marido fechando os olhos quando estava em seus braços.”

A história narrada por Mrs. C é envolvente e o suspense é arrebatador, aumentando a cada página o sentimento de ansiedade no leitor. Mas, afinal, o que de tão terrível aconteceu com essa mulher há 30 anos? O que a sufoca, a assola e a faz desabafar com um completo estranho? Morrendo de vergonha, culpa e medo, ela resolve contar em detalhes sobre as 24 horas em que, da mesma forma que a fugitiva Henriette, quase abriu mão de tudo por apaixonar-se por um homem bem mais novo.

Resenha: 24 Horas na Vida de uma Mulher - Stefan Zweig
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

Essa novela me remeteu bastante à famosa frase “o coração tem razões que a própria razão desconhece”. Essa inglesa, após 20 anos sofrendo calada de vergonha, sente a necessidade de abrir o coração para contar as 24 horas mais apaixonantes e desesperadoras de sua existência. Em Monte Carlo, com 40 anos de idade, viúva e solitária, ela passeava por um cassino, onde conheceu um jovem que parecia prestes a tirar a própria vida. Vítima de um vício inexplicável, ele não tirava os olhos da roleta, gastando cada centavo no jogo. Após perder quase tudo, o jovem segue em frente com o corpo cambaleante, desesperado, caminhando rumo à morte.

“Envelhecer, no fundo, é apenas deixar de temer o passado.”

Mrs. C fica hipnotizada pelas atitudes do jovem no cassino e sente uma profunda necessidade de ajudar o rapaz. Segue-o e oferece-lhe ajuda, e, então, em apenas poucas horas, suas vidas se entrelaçam de uma maneira inexplicável. Por pouco, ela quase deixa toda sua vida para trás para seguir adiante com esse moço – cuja idade era similar à de seu filho mais velho – para perseguir uma paixão arrebatadora.

Escrito em uma época em que as mulheres não tinham espaço para seguirem suas vontades ou desejos, vemos aqui o arrependimento amargo de uma viúva que sentiu na pele as emoções mais calorosas, mas ao mesmo tempo cheias de culpa e remorso. Por vinte anos essa mulher não conseguiu superar o fato de que também pode sentir o impulso e o vigor da paixão, do arrebatamento. Essa “tempestade” interna de sentimentos sempre foi renegada às mulheres, que precisavam prestar o papel de donas de casa, mães, esposas, mas nunca de mulheres com desejos delirantes.  Impulsividade e vontades secretas sempre foram sinais de desonra, vergonha e profundo amargor, e Stefan Zweig demonstra com maestria essa explosão de entusiasmo reprimido.

“Pessoalmente, encontro mais prazer em compreender as pessoas do que em julgá-las.”

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Indico bastante a leitura de 24 Horas na Vida de uma Mulher para, principalmente, quem busca uma história empolgante, com reviravoltas interessantes e discussões acerca da liberdade feminina. E o melhor de tudo: o e-book é baratinho e também está disponível no Kindle Unlimited! :)

E você, já leu? O que achou? Deixe sua opinião nos comentários!

NOTA:

*Última atualização em 8 de março de 2024

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