*Atualizado em 14 de março de 2024
Sempre ouvi falar muito bem de Anton Tchekhov, mas não conhecia nenhuma obra do autor. Então, encontrei esse livro no sebo e resolvi apostar na peça de teatro As Três Irmãs, considerada por muitos a obra-prima do autor russo. E essa obra não decepciona nem um pouco! Aliás, me surpreendeu com tantos diálogos incríveis.
Em suma, a peça narra a história de três irmãs: Olga, Irina e Macha, que vivem há bastante tempo na província em companhia de seu irmão Andrei. Aqui encontramos três mulheres com personalidades fortes e distintas.
Olga é uma mulher solteira que se aproxima dos 30 anos: vê os anos passarem e com eles a oportunidade de se casar; Macha é esposa de um ex-professor que está frustrada com seu casamento; Irina, a mais nova das irmãs, é a mais delicada e esperançosa, aquela que ainda acredita no futuro.
Para estas irmãs, Moscou é sua única salvação, local onde passaram a infância e desejam retornar imediatamente. No entanto, o tempo passa, e essa vontade vai ficando cada vez mais enterrada no passado.
Também conferimos na peça o comandante Verchinin (que se apaixona por Macha) e seu destacamento chegarem à província. Dois dos oficiais de Verchinin fazem a corte a Irina. Nesse meio tempo, enquanto as irmãs resolvem seus “problemas” (aumentados de tamanho), Natália, esposa de Andrei, passa a dominar a casa.
A peça é dotada de diálogos incríveis: questionamentos sobre a vida provinciana, a necessidade de trabalhar, as imposições que fazemos a nós mesmos e nunca conseguimos cumprir, os desejos abandonados e a frustração iminente de uma classe social desiludida, representada pelas três irmãs.
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Fiz tantos grifos no livro que é até complicado transcrever todas as falas que achei pertinentes para ressaltar a obra do autor russo.
“O homem deve trabalhar, trabalhar até a última gota de seu suor… Cada homem, sem exceção. Está nisso o objetivo e o sentido de sua existência, sua felicidade, sua alegria. Ser um operário que levanta de madrugada e vai quebrar pedras na rua…” (p.17)
O livro As Três Irmãs é curtinho e consegui devorar em dois dias. Nunca uma peça de teatro mexeu tanto comigo! A genialidade de Tchekhov é tamanha que é possível identificar-se com a situação, as personagens e o contexto histórico mesmo estando a anos e quilômetros de distância da Rússia do ano 1900.
“Sim, seremos todos esquecidos. É a vida e nada podemos fazer. O que nos parece importante, grave, pesado de consequências, um dia será esquecido e deixará de ter importância. E o curioso é que não podemos saber hoje o que um dia vamos considerar grande ou importante, medíocre ou ridículo.” (p.29)
“Daqui a mil anos o homem suspirará como hoje: ‘Ah! Como a vida é dura!’. Mas, da mesma maneira que hoje, terá medo e não quererá morrer”. (p. 66)
Essa fragilidade do ser humano, a necessidade de autoafirmação de que trabalhar é preciso, trabalhar é solução para tudo, o trabalho enaltece o homem, trabalhar, trabalhar… É frustrante demais, ainda mais atualmente, quando a exploração só aumenta ao invés de diminuir.
Ao mesmo tempo em que o modo de trabalhar sofreu alterações, a nossa dependência parece crescer. Essa sensação de estarmos sempre com a corda no pescoço e enjaulados pela rotina de “trabalhar por dinheiro” é desesperadora.
No contexto da peça As Três Irmãs, no entanto, o autor parece enaltecer o trabalho a fim de criticar uma família provinciana que não deseja nada além de bem-estar, conforto e os luxos que só o dinheiro pode proporcionar.
Analisando o contexto russo, percebe-se a ironia do autor, mas o livro é complexo o suficiente para fazer com que os leitores de hoje reflitam sobre as condições atuais em relação ao trabalho e toda a dignificação da ideia de que “trabalho é tudo nessa vida”.
Ler Tchekhov além de trazer um alívio, também é triste. Quando lemos a sentença “da mesma maneira que hoje, o homem terá medo e não quererá morrer”, percebe-se como os nossos temores, não importa onde nem quando, serão sempre os mesmos.
Para finalizar, só tenho a dizer: leiam essa peça incrível!
Nota:
Isabela Zamboni Moschin é jornalista, especialista em Língua Portuguesa e Literatura e mestre em Mídia e Tecnologia. Adora café, livros, séries e filmes. Atualmente, trabalha como Analista de Conteúdo na Toro Investimentos
Este livro é excelente
Olá! Adorei a resenha. Me fez pensar para além do texto da peça. Queria recomendar um outro texto: O Tempo e os Conways, de J. B. Priestley. É um texto que também fala sobre o tempo, nostalgia, a inevitabilidade do futuro… É bastante interessante. 🙂
Adorei a indicação, Zelda! Muito obrigada 🙂
Olá! Adorei a resenha. Me fez pensar para além do texto da peça. Queria recomendar um outro texto: O Tempo e os Conways, de J. B. Priestley. É um texto que também fala sobre o tempo, nostalgia, a inevitabilidade do futuro… É bastante interessante. 🙂
Adorei a indicação, Zelda! Muito obrigada 🙂