Resenhas  |  27.06.2018

Resenha: A Amiga Genial – Elena Ferrante

*Atualizado em 11 de março de 2024

Eu ainda estou tentando digerir o livro para escrever esta resenha. Sim, vou começar de forma bem dramática, porque A Amiga Genial mexeu muito comigo!

Será difícil transpor em palavras a genialidade dessa história, mas prometo que tentarei fazer um pouquinho de jus aos momentos intensos que Elena Ferrante me proporcionou durante a leitura dessa obra incrível.

Resenha: A Amiga Genial - Elena Ferrante: lidos em 2018
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

Vamos à sinopse oficial:

“A Série Napolitana, formada por quatro romances, conta a história de duas amigas ao longo de suas vidas. O primeiro, A Amiga Genial, é narrado por Elena Greco e cobre da infância aos 16 anos. As meninas se conhecem em uma vizinhança pobre de Nápoles, na década de 1950. Elena, a menina mais inteligente da turma, tem sua vida transformada quando a família do sapateiro Cerullo chega ao bairro e Raffaella, uma criança magra, mal comportada e selvagem, se torna o centro das atenções. Essa menina, tão diferente de Elena, exerce uma atração irresistível sobre ela.”

O que move toda a narrativa é a amizade de Elena e Lila (Raffaella), seus encontros e desencontros desde a infância até os dezesseis anos. As duas se unem, brigam, fazem planos, competem, estão sempre atreladas, mas com uma tensão pairando no ar.

Lila é uma criança com uma inteligência acima da média, sempre se sobressaindo à amiga Elena, narradora da história. As duas têm um futuro promissor pela frente, principalmente em relação aos estudos; porém, moram em um bairro pobre marcado pela violência, gritos e agressões dos adultos, que, de uma forma ou de outra, tentam minar o sonho das garotas que almejam uma vida melhor.

Quando as duas terminam a quinta série, a família de Elena resolve apoiá-la nos estudos, mas os Cerullo não investem na educação de Lila. A partir daí, as duas seguem caminhos distintos e a competição entre elas cresce cada vez mais.

Uma das coisas mais incríveis do livro é a forma com que Elena Ferrante descreve a complexa dinâmica da amizade feminina: ao mesmo tempo em que há cumplicidade, encanto e admiração entre as garotas, é notável como elas sempre tentam superar uma à outra, seja nas pequenas coisas do dia a dia, nos estudos ou relacionamentos amorosos.

Pode-se dizer que A Amiga Genial é um romance de formação, trazendo como pano de fundo as mudanças ocorridas na Itália no pós-guerra. A tensão que paira entre os jovens do bairro pobre de Nápoles é constante, assim como o olhar ingênuo das crianças – e mais tarde, adolescentes – sobre o que acontece à sua volta, sem nunca perceber o que realmente acontece no mundo dos adultos.

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Eu senti um mix de sensações enquanto lia essa história. Como vemos tudo pelo ponto de vista de Elena, é complicado saber exatamente como funciona a cabeça de Lila. A narradora coloca a menina como alguém fora do comum, deslumbrante, que transforma a energia dos locais por onde passa. O status de admiração é tão grande, que Lila é praticamente colocada em um altar de bajulação.

Lila é raivosa, impetuosa, inteligentíssima, corajosa; enquanto a narradora se coloca sempre como a amiga inferior – que precisa se esforçar muito para ir bem nos estudos, que engorda, ganha espinhas e precisa usar óculos. Enquanto isso, Lila, a inalcançável Lila, mantém sempre aquele ar distante e misterioso.

Resenha: A Amiga Genial - Elena Ferrante
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

A narrativa em primeira pessoa é uma excelente escolha de Elena Ferrante: o tempo todo precisamos lidar com a baixa autoestima de Greco e com a personalidade forte e rígida de Lila. Greco quer ser como Lila, a inveja cresce dentro dela, mas ao mesmo tempo confunde-se com arrebatamento, estupefação. Elas se amam, mas se repelem.

As atitudes de Lila são sempre imprevisíveis, enquanto Greco é a boa moça – a adolescente que passa por várias fases conturbadas, que precisa ganhar sua própria voz e fugir de sua amiga genial.

O título do livro é ambíguo: o tempo todo imaginei Lila como a amiga genial, fora do comum, avançada pela sua idade; mas em determinada passagem, Lila, momentos antes de um evento que vai permear o final do livro (não vou dar spoiler), diz à Greco: “nunca deixe os estudos, você não pode parar de estudar, você é minha amiga genial”.

Uma comparação que não pude deixar de fazer nesse livro foi com O Grande Gatsby, especialmente no começo. Elena contando a história de Lila me lembrou muito Nick Carraway mostrando sua fascinação por Gatsby. E como eu gosto muito da obra de Fitzgerald, me prendi ainda mais ao livro de Ferrante.

O final é desesperador: termina no ponto alto da trama, com um acontecimento que com certeza vai trazer muitas reviravoltas. Quando cheguei na frase final do último capítulo, não conseguia acreditar que não tinha mais nada escrito. Corri para comprar os volumes seguintes: História do novo sobrenomeHistória de quem foge e de quem fica e História da Menina Perdida. Provavelmente os próximos volumes vão contar mais sobre a amizade de Greco e Cerullo – e eu não posso esperar!

Mais um adendo: a tetralogia Napolitana fez tanto sucesso que virou série da HBO! Veja o trailer abaixo:

Elena Ferrante é um mistério: o nome da autora é um pseudônimo e não se sabe ao certo nenhum detalhe sobre sua vida particular. Ela participa de pouquíssimas entrevistas, sem nunca revelar sua verdadeira identidade.

Existe muita polêmica em torno dessa temática: o jornalista investigativo Claudio Gatti afirma que Elena é, na verdade, a tradutora Anita Raja, esposa do escritor Domenico Starnone. Contudo, ela nunca se manifestou sobre isso, mantendo sua identidade em sigilo.

A Amiga Genial é sobre duas garotas que passam por situações de todo o tipo em uma Itália devastada e em constante mudança, precisando lidar com homens grosseiros, famílias violentas, jovens invejosos, professores rígidos, pobreza, transformações do corpo, primeiros amores.

E o jeito com que a autora conduz a trama, tecendo a história com tantos detalhes e nuances, nos faz abraçar o livro e não querer que ele acabe nunca.

Nota

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