Resenhas  |  30.10.2015

Resenha: Americanah – Chimamanda Ngozi Adichie

*Atualizado em 12 de março de 2024

Posso afirmar, com certeza, que esse é um daqueles livros que entraram no meu TOP 10 de obras favoritas e para a lista de livros-mais-incríveis-que-já-li-na-vida. Em Americanah, Chimamanda Ngozi Adichie mostra como é uma escritora fenomenal, revelando não apenas uma história inspiradora, mas personagens bem estruturados, uma narrativa empolgante, temas importantes que DEVEM ser discutidos e a realidade triste de que, na verdade, o racismo está sempre presente – e, muitas vezes, nem percebemos.

Resenha: Americanah - Chimamanda Ngozi Adichie
FOTO: Isabela Zamboni | Resenhas à la Carte

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Sabe aquele tipo de livro que não sai da sua cabeça? Não é fácil explicar. Eu termino as páginas, passa um tempinho, vou fazer outras coisas, mas minha mente não tira aqueles personagens e nem a história da cabeça. Dá vontade de ser amiga da Ifemelu, a protagonista da trama.

Queria muito dar um abraço no Obinze, o namorado de adolescência e melhor amigo da Ifem. Gostaria de estar lá, conversar com eles e dizer: “vocês são personagens incríveis”. Sou estranha, né? Hahaha, me apego demais a personagens fictícios, gente! Apesar que, não sei ao certo, mas tenho quase certeza que a Chimamanda se inspirou nela mesma para escrever esse livro.

É surpreendente o quanto do que somos depende da cama onde acordamos pela manhã, e é surpreendente o quanto isso é frágil.

Mas vamos falar sobre a trama: nesse livro incrível, acompanhamos a trajetória de Ifemelu, uma jovem da cidade de Lagos, na Nigéria, que vai estudar nos Estados Unidos. Seu país está passando por problemas, como greves de professores, desemprego e um regime militar.

Chegando ao país, ao mesmo tempo em que se torna uma aluna exemplar, ela começa a perceber como pode ser difícil a vida para um imigrante, tendo que lidar com a questão racial e de gênero, além de precisar aprender uma nova rotina, com outro ritmo e novos costumes.

Em paralelo, acompanhamos a vida de Obinze, seu namorado da adolescência, que também passa por problemas parecidos ao sair da Nigéria para viver na Inglaterra. Chimamanda Ngozi Adichie aposta em uma história de amor para debater questões universais como imigração, preconceito racial e desigualdade de gênero.

Aquilo lhe causava uma estranheza desorientadora, porque sua mente não mudara no mesmo ritmo que sua vida, e ele sentia um espaço oco entre si próprio e a pessoa que supostamente era.

Resenha: Americanah - Chimamanda Ngozi Adichie
Foto: Isabela Zamboni | Resenhas à La Carte

É terrível perceber a atitude das pessoas em relação aos negros nigerianos e também de outras nacionalidades. Tratados como pessoas “exóticas”, Chimamanda ironiza a superioridade norte-americana em relação aos imigrantes e também discute a questão da estrutura de classes. Ifemelu é sempre tratada como se fosse inferior, ou não merecesse o que os brancos acham que são merecedores.

Um dos pontos que mais me marcou nesse livro foi como foi difícil para a personagem aceitar seus cabelos crespos.

Depois de passar por vários relaxamentos, cortar curtinho, tentar alisar, trançar, esconder seu lindo cabelo, chorar e nem querer sair de casa por vergonha dos fios, é aterrorizante perceber como a sociedade machuca pessoas que não se encaixam no padrão do corpo magro, pele branca e cabelo liso.

Ifemelu é inteligente, de personalidade forte, corajosa, divertida, mas sempre é rebaixada e, no começo de sua empreitada americana, não conseguia arranjar emprego em lugar nenhum. É desesperador.

O estranhamento cultural também é recorrente:  Ifemelu está sempre indignada com atitudes dos norte-americanos, a forma como se alimentam, os valores que têm intrínsecos e seu modo de tratar pessoas de outros países. O mais incrível de Americanah é ser uma ficção tão realista, que dá até uma dor na alma de pensar a quantidade de pessoas que enfrentam atitudes machistas, racistas e arrogantes todo santo dia.

Além do mais, a humildade sempre lhe parecera algo especioso, inventado para reconfortar os outros; você era elogiado por sua humildade porque não os fazia sentir-se ainda mais cheios de falhas do que já eram.

O livro é longo, contém mais de 500 páginas, mas não cansa nunca – não pra mim, pelo menos. É um romance verdadeiro, honesto, denso e encantador. Acho que a melhor palavra para descrevê-lo é encantador, quase como se nos lançasse um ~feitiço~. O jeito que Ifemelu encara o mundo, a forma como enxerga as pessoas, é fenomenal. Gostaria eu de ter um olho clínico como a dessa personagem e metade da sua convicção.

Ela achou a cidade lenta demais, a poeira vermelha demais, as pessoas satisfeitas demais com a pequenez de suas vidas.

Só o que tenho a dizer é: LEIAM AMERICANAH. Fazia muito tempo que um livro não mexia assim comigo: eu penso diferente agora, encaro o mundo com outros olhos e tento ao máximo evitar qualquer atitude ridícula que um dia já posso ter tomado – ou pensado.

Americanah não é só um livro, é uma aula! Aprendi tanto que só posso agradecer à Chimamanda por ter me apresentado suas palavras e seu ponto de vista incrível sobre a sociedade.

Depois, voltariam para os Estados Unidos para brigar na internet sobre a mitologia que cada um construía de seu país, pois esse país, seu lar, agora era um lugar indistinto entre aqui e lá, e pelo menos on-line podiam ignorar a consciência de quão desimportantes haviam se tornado.

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