*Atualizado em 11 de março de 2024
História do Novo Sobrenome é a continuação do maravilhoso A Amiga Genial, de Elena Ferrante. Este é o segundo livro da série Napolitana, e agora entramos em contato com o fim da adolescência e início da fase adulta de Lila, Elena, Rino, Stefano, Nino, Pinuccia, os irmãos Solara e todos os outros personagens que compõem essa narrativa sobre a amizade entre os jovens de um pequeno bairro de Nápoles.
A narrativa de História do Novo Sobrenome abre espaço para reflexões a respeito da sexualidade, do amor e, principalmente, do papel imposto às jovens mulheres em meados do século XX ― contraponto construído entre as duas personagens principais: Lila e Elena.
Lila casa-se cedo, precisa trabalhar para ajudar a família e é cobrada o tempo todo para que tenha filhos; já Elena (ou Lenu, a narradora da história) não se casa, mas prepara-se para a faculdade, estuda muito e percebe que tem chances de um futuro promissor longe da família e do bairro pobre de Nápoles.
Já adianto que será impossível fazer uma resenha sem spoilers. Muitos acontecimentos deste livro precisam ser discutidos e eu PRECISO desabafar sobre como essa leitura me deixou incomodada, perplexa e ao mesmo tempo absorta.
Em História do Novo Sobrenome, Lenu não nos poupa de nada: são escancaradas cenas de adultério, casamento, traições fortes dentro das amizades e também momentos claros de violência, tensão e inseguranças. É também o momento em que a protagonista tenta se desvencilhar de tudo o que ela achava sobre si mesma, buscando uma nova identidade, de preferência bem longe dos atritos constantes do bairro em que mora.
Logo no começo, vemos que Elena está se distanciando de Lila e dos amigos do bairro, focando cada vez mais nos estudos. Sua paixão por Nino Sarratore também só cresce, principalmente através do contato com a professora Galiani, disposta a fazer com que seus alunos busquem novos rumos e principalmente uma universidade de prestígio.
Lila está cada vez mais raivosa: seu casamento com Stefano só piora a cada dia e, por mais que tenha todos os luxos com os quais sempre sonhou, seu humor oscila e vai de mal a pior. O casamento é apenas uma farsa e ela sofre diariamente com isso.
A maior parte do livro se passa durante o verão, quando Lila, Lenu, Pinuccia, Nunzia (mãe de Lila), Stefano e Rino vão passar as férias em Ischia, coincidentemente onde Nino Sarratore estará também, junto de um amigo.
Nino é o típico arrogante, sem graça, mas que faz todas se apaixonarem por ele com suas palavras difíceis, seus ideais políticos, mostrando o quanto é estudioso. Isso é o que faz Lenu se apaixonar por ele, mas ela nem imagina o quanto ele vai tornar-se obscuro a seus olhos.
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São os acontecimentos que ocorrem em Ischia que tornam a leitura difícil. A cada página lida pelo ponto de vista de Elena Greco, eu sentia um mal-estar. Como Lenu podia ser tão ingênua, tapada e tão boazinha? Como conseguia engolir a seco tantas maldades e traições de Lila? Ela não conseguia perceber como todos ao seu redor a debochavam e humilhavam?
Esse livro escancara a difícil relação entre as duas melhores amigas: não importa o que Elena faça, Lina quer se sobressair, quer mostrar que pode mais, que sabe mais. O clima de competição é insuportável e até sufoca. Eu queria socar a cara de Lila e pedir para Lenu, PELO AMOR DE DEUS, abra os olhos!
Mas o mais complicado desse livro é que a empatia por todos os personagens é muito forte. Elena Ferrante faz isso com maestria: acompanhamos todos os dissabores e dificuldades de todos os personagens, tornando impossível odiá-los.
Lila é para ser uma personagem insuportável (eu não suporto, me dá desgosto), porém ainda assim suas ações, até certo ponto, são justificáveis. Lila é uma mulher inteligentíssima, que foi privada dos estudos desde cedo. Casou-se com dezessete anos, engravidou, o marido a esbofeteava, todos no bairro a odiavam.
Ela vê sua melhor amiga estudar, crescer, tornar-se alguém livre, que pode conseguir o que quiser, enquanto ela está presa a um casamento abusivo, rodeada de pessoas detestáveis. Nunca soube o que era apaixonar-se, até conhecer Nino, a paixão secreta de sua melhor amiga.
Toda vez que Lenu quer mostrar algum feito seu, alguma conquista, compartilhar alguma felicidade com Lila, no começo ela fica feliz, demonstra afeto; em seguida, começa a tentar achar um jeito de debochar da amiga, querendo mostrar-se superior. Essa petulância é de dar nos nervos, mas, afinal, sabemos de tudo apenas pelo ponto de vista de Elena.
Lenu engole tudo a seco, observa o mundo a seu redor com cautela, é insegura, sente-se constantemente com medo. Em alguns momentos eu só queria que essa personagem explodisse, jogasse algumas verdades na cara das pessoas, fosse ríspida. Mas isso nunca acontece, a catarse não chega. Que desespero!
Como esperar que pessoas que viveram no meio da pobreza, da violência, entre agiotas e contrabandistas, que foram privadas de educação, precisam trabalhar de qualquer forma para conseguir comer e sustentar famílias enormes, entendam o motivo pelo qual Lenu largou tudo e foi para Pisa estudar? Para eles, qual o sentido de um diploma? E o mais interessante é que nem mesmo a protagonista sabe porque faz o que faz.
Ela se sente sempre uma pessoa a menos, inferior aos namorados que tem, inferior à melhor amiga, inferior a qualquer um. Elena procura uma identidade própria, se desvencilhar daquilo que sempre a magoou e também sempre admirou. Ela acredita que ter um diploma resolverá seus dilemas existenciais e, de certa forma, o início de sua carreira é um dos desfechos de História do Novo Sobrenome.
A potência dessa narrativa é alta: as reflexões da personagem e seus pensamentos mais íntimos tornam a leitura longe de ser enfadonha, mas sim curiosa. A atração que os personagens lançam sobre o leitor são grandes, não dá vontade de abandonar o livro. Agora só resta terminar a saga: hora de começar a leitura de História de Quem Foge e de Quem Fica e História da Menina Perdida.
Só espero que Lina melhore – e bastante!
Nota:
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Isabela Zamboni Moschin é jornalista, especialista em Língua Portuguesa e Literatura e mestre em Mídia e Tecnologia. Adora café, livros, séries e filmes. Atualmente, trabalha como Analista de Conteúdo na Toro Investimentos
Você descreveu exatamente o que eu senti neste livro. Foi sufocante ver a Lenu passar por todos aqueles momentos sem gritar, brigar ou falar sequer uma verdade para Lila. Se submeter a todos os caprichos de Lila. Enquanto lia queria dar um safanão na Lenu para ver se ela acordava da amizade tóxica.
Ao mesmo tempo, também sentia compaixão por Lila e o marido abusivo que a espancava.
Enfim, o tempo todo fiquei ansiosa pra terminar o livro e ver alguma reação da Lenu.
Siim, esse livro deixa a gente superansiosa pra ver alguma reação. É desesperador! Mas esse livro é tão bom que faz a gente sentir várias coisas 🙂
Você cehgou a conclusão de porque o título do livro é este?
Eu terminei o livro agora e fiquei com esta dúvida.
Oi Carmina! Acredito que é porque Lila casou e agora tem um novo sobrenome, o do marido. Ao mesmo tempo acho que também é sobre a mudança de Lenu, que busca um novo rumo e tenta se desvencilhar de tudo.
Você cehgou a conclusão de porque o título do livro é este?
Eu terminei o livro agora e fiquei com esta dúvida.
Oi Carmina! Acredito que é porque Lila casou e agora tem um novo sobrenome, o do marido. Ao mesmo tempo acho que também é sobre a mudança de Lenu, que busca um novo rumo e tenta se desvencilhar de tudo.