*Atualizado em 25 de março de 2024
Os Sofrimentos do Jovem Werther, publicado em 1774, é um fenômeno, um clássico epistolar de Goethe que mostra o exagero sentimental e a grande conexão do ser humano com a natureza.
Eu não esperava que ia gostar tanto, mas a leitura me deixou absorta e impressionada com o estilo do autor alemão, que foi um dos pioneiros do romantismo.
Em primeiro lugar, antes de começar a resenha, vamos a um breve contexto: o Romantismo é um movimento cultural, artístico e literário que surgiu na Europa no final do século XVIII, ganhando força durante o século XIX.
Ele enfatiza a expressão dos sentimentos, a liberdade individual, a valorização da natureza e a busca pela emoção e pela imaginação. Além disso, valoriza o individualismo, a originalidade e a espontaneidade, contrastando com os padrões rígidos do classicismo.
Sofrimentos do Jovem Werther se encaixa perfeitamente nessa descrição. O livro narra a história de um jovem sensível, Werther, que se apaixona perdidamente por uma mulher comprometida, Lotte, e acaba sofrendo intensamente devido à sua paixão não correspondida, culminando em um trágico final.
O romance teve um grande impacto na época em que foi lançado, pois abordou temas como amor não correspondido, angústia existencial e a busca por liberdade emocional e individualidade. Fez sucesso em diversos países e virou uma febre literária na Europa.
O livro de Goethe inspirou muitos jovens a copiar o estilo e as emoções do protagonista, tornando-se uma espécie de ícone para a juventude romântica da época. Até mesmo as roupas de Werther eram usadas por jovens do século XVIII.
Para ser bem sincera, eu nunca fui muito fã do movimento romântico, sempre preferi o realismo. Contudo, esse livro me fez mudar de ideia. Ele é incrível, intenso, traz reflexões profundas e, mesmo com o grande exagero do protagonista, a narrativa é envolvente.
No início, somos apresentados ao protagonista por meio de suas correspondências com seu grande amigo Wilhelm, a quem Werther endereçou as cartas e também quem as organizou.
Quase ao final do livro, finalizadas as cartas, sabemos o que aconteceu a Werther por meio de relatos subjetivos de outras pessoas que presenciaram seus últimos dias.
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Durante todo o livro, acompanhamos a angústia de Werther, que a princípio era uma pessoa tranquila, feliz, alegre e otimista, até se apaixonar perdidamente por uma mulher que já estava noiva.
Esse amor impossível começou a ficar ainda pior depois que Werther conhece Albert, o noivo de Lotte. Eles se tornam amigos e, a partir daí, a situação se torna insustentável. Werther ama Lotte, está completamente desolado, não consegue mais respirar na ausência da amada.
“Afinal, o que será o destino do ser humano, senão suportar sua própria medida de sofrimento, beber desse cálice até a última gota?” (p.161)
Por outro lado, sabe que Albert é uma boa pessoa e que também gosta bastante de Lotte. Essa situação é exasperadora e, conforme avançamos na leitura, sabemos que esse amor impossível é o que vai levar o jovem romântico a cometer suicídio.
“Que infelicidade, Wilhelm! Uma lassidão inquietante acabou embotando minhas forças todas, não consigo fazer nada, mas tampouco consigo ficar sem fazer coisa alguma. Não há o que me desperte a imaginação, os livros me enfastiam e até mesmo a natureza me é indiferente. Quando sentimos falta de nós mesmos, todo o resto nos faz falta.” (p.112)
Essa questão do suicídio, inclusive, é comentada no texto de apoio dessa edição da Penguin Companhia, bem como as outras repercussões que a obra teve na época em que foi lançada.
Algo que o texto de apoio explica é que a história de Werther é parcialmente autobiográfica. O próprio Goethe vivenciou um “triângulo amoroso” em que não foi correspondido, já que a mulher por quem estava apaixonado também estava em um relacionamento com outro homem, que tornou-se amigo do escritor.
Contudo, da metade do livro em diante, os acontecimentos de Werther já não são mais de Goethe, mas de um conhecido seu que na época ficou obcecado por um amor não correspondido e tirou a própria vida depois de muito sofrimento.
Se você é sensível a esses assuntos, se são gatilhos, não aconselho a seguir em frente com a leitura. Apesar de ser uma obra do século XVII, em outro contexto, ainda assim pode ser impactante para algumas pessoas.
“A maioria das pessoas passa grande parte de seu tempo se esforçando para viver, e o pouco tempo de liberdade que lhes sobra causa tamanha angústia que elas fazem de tudo para se livrar dele. Oh, destinação humana!” (p.53)
Eu consegui me envolver bastante com o livro principalmente por conta do estilo do autor e porque adoro romance epistolar. Sinto uma curiosidade imensa em ler cartas, gosto muito desses relatos particulares, que são escritos como se fossem confissões.
Ademais, sou fissurada por clássicos e Os Sofrimentos do Jovem Werther era um livro que estava na minha lista há muito tempo.
Mesmo não sendo fã número 1 do romantismo, esse livro me cativou pelo próprio exagero do personagem. Werther sente tudo com tamanha intensidade, discute tudo com tanto fervor, que me trouxe uma certa admiração. Alguém que se envolve com todo o coração, vive todo o exagero da paixão, é, no mínimo, interessante de acompanhar.
“O sofrimento seria muito menor entre as pessoas se elas simplesmente tentassem suportar a indiferença do presente, em vez de empenharem tanto sua imaginação para remoer as lembranças dos infortúnios passados— sabe deus por que elas foram feitas assim!” (p.47)
Veja mais algumas frases que separei do livro Sofrimentos do Jovem Werther:
“— Vou vê- la!— digo eu logo cedo, assim que desperto, e, tomado então por uma sensação prazerosa de serenidade, fico olhando para o sol, contemplando sua beleza.—Vou vê- la!— Depois disso, não tenho mais desejo algum durante o dia inteiro. Tudo, tudo se resume a essa única perspectiva.” (p.93)
“Tudo neste mundo acaba sempre em algo insignificante. Portanto, tolo daquele que se mata de trabalhar pelos outros— seja por dinheiro, por honra ou pelo que for— sem levar em conta sua própria paixão nem suas próprias necessidades.” (p.93)
“[…] nossa felicidade ou miséria depende daquilo e daqueles que nos servem de comparação, e, nesse sentido, nada mais perigoso do que a solidão.” (p.125)
“[…] ainda assim— e se, de repente, você fosse embora, deixando para trás as pessoas desse círculo, será que, por quanto tempo será que elas continuariam sentindo o vazio que tua ausência causaria na vida delas? Por quanto tempo?— Ah, o ser humano é tão efêmero, que mesmo no lugar em que ele se assegura de sua própria existência, mesmo nesse lugar, em que ele produz a única impressão verdadeira de sua presença, até mesmo desse lugar, que é o da memória e da alma de seus entes queridos, ele também acaba sendo apagado, acaba sumindo, e tão rapidamente!” (p.158)
Por fim, ressalto que gostei bastante do livro e recomendo para quem gosta de narrativas intensas e poéticas.
E você, já leu? Gosta da obra? Deixe sua opinião nos comentários!
NOTA:
Isabela Zamboni Moschin é jornalista, especialista em Língua Portuguesa e Literatura e mestre em Mídia e Tecnologia. Adora café, livros, séries e filmes. Atualmente, trabalha como Analista de Conteúdo na Toro Investimentos