Os livros de Raphael Montes são bem empolgantes, aquelas leituras de thriller/terror que nos fazem virar a página loucamente. Eu li O Jantar Secreto em poucos dias, assim como fiz com Dias Perfeitos e O Vilarejo.
Por enquanto, senti que esse foi o mais gore, com mais situações malucas e dignas de um final à la Tarantino.
Vamos à sinopse:
Um grupo de jovens deixa uma pequena cidade no Paraná para viver no Rio de Janeiro. Eles alugam um apartamento em Copacabana e fazem o possível para pagar a faculdade e manter vivos seus sonhos de sucesso na capital fluminense. Mas o dinheiro está curto e o aluguel está vencido. Para sair do buraco e manter o apartamento, os amigos adotam uma estratégia heterodoxa: arrecadar fundos por meio de jantares secretos, divulgados pela internet para uma clientela exclusiva da elite carioca.
A partir daí, eles se envolvem em uma espiral de crimes, descobrem uma rede de contrabando de corpos, matadouros clandestinos e grã-finos excêntricos, e levam ao limite uma índole perversa que jamais imaginaram existir em cada um deles.
O autor é conhecido por suas tramas intensas e cheias de dilemas morais. Em O Jantar Secreto, ele mescla mistério, crítica social e terror psicológico com um toque de humor ácido.
O interessante desse livro é que nos sentimos meio divididos entre o desconforto e o fascínio. São sentimentos mistos, na verdade: ao mesmo tempo em que gostei da originalidade e dos acontecimentos, achei o final um pouco forçado, um tanto piegas. Mas nada que me tirasse a imersão e a boa experiência de leitura.

Esse é um livro que tem muitos spoilers, então vou ter que ser bem sucinta. A narrativa acompanha Hugo, Dante, Miguel e Leitão, quatro amigos que deixam o interior e vão morar no Rio de Janeiro em busca de oportunidades.
Eles dividem um pequeno apartamento e tentam se virar na cidade grande, enfrentando todos os desafios de quem está começando a vida adulta: falta de dinheiro, empregos ruins e sonhos que parecem sempre fora de alcance.
A situação começa a desandar quando eles decidem participar de um esquema secreto e arriscado para ganhar dinheiro. O que começa como uma solução simples logo se transforma em algo muito maior, perigoso e moralmente duvidoso. O suspense cresce a cada capítulo, e somos levados juntos nessas decisões cada vez mais tenebrosas.
Dante é o protagonista e narrador da história. Ao mesmo tempo em que ele tenta manter a aparência de racionalidade e controle, está em guerra consigo mesmo. É alguém que luta contra a própria moral para alcançar seus objetivos e acompanhamos de perto essa batalha interna.
Hugo, por outro lado, é o mais pragmático do grupo. Ele é frio e arrogante, um personagem nem um pouco agradável.
Miguel é o mais sensível e vulnerável entre eles, uma espécie de contraponto moral. É aquele personagem que não quer participar dos esquemas e vive estressado com dor na consciência.
Já Leitão é o personagem mais excêntrico, trazendo momentos de humor e muita tensão. Outra personagem interessante é Cora, prostituta e namorada de Leitão. O dinheiro gasto por ele com ela causa o atraso do aluguel e serve como um “estopim” para o grande problema que eles precisam enfrentar.
Juntos, eles formam um grupo que funciona de maneira bem real: imperfeitos, conflituosos e humanos. É fácil acreditar que pessoas assim existiriam e que poderiam, sim, se deixar levar por escolhas duvidosas.
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O estilo de Raphael Montes é bem cinematográfico. Cada cena apresenta uma tensão crescente, misturada com um toque de humor macabro, quase como se estivéssemos vendo numa tela. Na própria capa do livro há essa referência: uma inspiração que vai de Hitchcock a Tarantino.
Ao mesmo tempo em que a leitura é pesada – há alguns capítulos que são difíceis de digerir – existem também os momentos “engraçados”, digamos. Raphael Montes consegue nos envolver na dinâmica dos personagens, parecendo muitas vezes que somos cúmplices daquela atrocidade.
Acredito que O Jantar Secreto não é um livro para todos os gostos. Algumas cenas são fortes e o conteúdo pode incomodar. Provavelmente há quem ache exagerado ou grotesco, o que, em certa medida, é mesmo. Mas, ainda assim, é um livro provocante e que não dá vontade de parar.
Claro que, apesar de algumas boas ideias e de uma narrativa envolvente, o livro não é, na minha opinião, uma obra profunda ou marcante, mas talvez nem seja esse o objetivo.
É um bom entretenimento, daqueles livros que você lê rápido, se diverte e termina com um misto de riso nervoso e incredulidade. Por isso, se você gosta de suspense e/ou terror, é uma boa pedida.
NOTA: ⭐⭐⭐


Isabela Zamboni Moschin é jornalista, especialista em Língua Portuguesa e Literatura e mestre em Mídia e Tecnologia. Adora café, livros, séries e filmes.