Resenhas  |  28.01.2016

Resenha: O Sol Também Se Levanta – Ernest Hemingway

*Atualizado em 18 de março de 2024

O Sol Também Se Levanta foi minha terceira leitura de Hemingway: já tinha lido O Velho e o Mar (a Mel resenhou aqui no blog) e ano passado me apaixonei por Paris é Uma Festa.

Optei em ler O Sol porque é um livro muito referenciado e citado em vários lugares, sem contar que foi o primeiro romance aclamado do autor.

Resenha: O Sol Também Se Levanta - Ernest Hemingway
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à La Carte

Quando comecei a ler este livro, vi tanta semelhanças com Paris é Uma Festa que achei estranho. Mas é porque o Paris é um não-ficção que conta basicamente a vida de Hemingway enquanto morava com sua esposa na Cidade Luz. E O Sol contém muitos elementos autobiográficos! O correto era eu ter lido O Sol antes, mas tudo bem! haha

Neste livro, acompanhamos o protagonista Jake, um jornalista que mora em Paris, lutou na guerra e foi seriamente ferido. Jake tem vários amigos também expatriados e boêmios, além de nutrir uma paixão em Brett, única personagem feminina do livro.

Brett é uma mulher à frente do seu tempo, que não tem interesse em relacionamento estável e gosta de se divertir. Bill, Michael e Robert Cohn também são personagens importantes, amigos de Jake, que vão acompanhá-lo à Espanha para conferir a fiesta (Festa de São Firmino) e as touradas típicas da região.

Quando terminei a leitura, fiquei pensando: “esse livro não tem clímax“. E não tem mesmo: nada de reviravoltas, transformações, nada de sustos

Hemingway buscava uma prosa calcada na linguagem jornalística (ele começou a vida como repórter aos 18 anos) sem adjetivos, ou o que ele considerava “excessos emotivos”. Ou seja: encontramos aqui uma prosa econômica, descritiva, baseada em verbos e substantivos. Parece até mesmo um documentário – os diálogos são secos e os personagens não transparecem sentimentos. O narrador (Jake) raramente demonstra qualquer emoção excessiva.

“Durante o dia, nada mais fácil do que mostrar que não se dá a importância, mas, à noite, é diferente.”

Lendo o prefácio escrito por Luiz Antonio Aguiar, descobri que  O Sol Também se Levanta é designado como um roman à clef, isto é, um romance com uma chave, “um mecanismo de abertura ou de decifração, cujo modelo mais comum é uma história em que personagens reais aparecem com nomes fictícios.” Daí vem a semelhança com Paris é Uma Festa.

“Sorriu novamente. Sorria sempre, como se as touradas tivessem um sentido especial para nós dois, como se houvesse um segredo muito chocante, mas bastante profundo, que ambos conhecíamos. Sorria sempre, como se nesse segredo houvesse algo de obsceno para os outros, porém muito compreensível para nós. Não se deve divulgar um segredo entre pessoas que não o compreenderiam.”

Outro elemento que gostei bastante no livro O Sol Também Se Levanta foi que, apesar da escassez de sentimentalismo, de repente, parece que não é Jake quem narra, mas Hemingway quem faz uma “pausa” no livro e diz o que está pensando naquele momento, como um breve insight. Por exemplo:

“Talvez, com o tempo, acabamos por aprender algumas coisas, pouco importa o que seja. Tudo o que eu desejava era saber como viver. Talvez, aprendendo como viver, acabemos compreendendo o que há realmente no fundo de tudo isso.”

Preciso confessar que esses personagens me assustaram no livro: como eles bebem! Se você acha que bebe bastante, é porque não leu este livro! Hahaha! São coisas do nível de: acordar, tomar um café e uma taça de vinho logo em seguida. No meio da tarde tomar copos de ABSINTO. Tomar cerveja uma atrás da outra e não dormir, continuar bebendo até quase desmaiar.

Ao meu ver, a paixão desses personagens boêmios, a vontade de festejar, dançar, comer e beber são, na verdade, disfarces da solidão.

Para comprar o livro, é só acessar o link abaixo:

Resenha: O Sol Também Se Levanta - Ernest Hemingway

A Espanha é descrita com tanta paixão e naturalidade por Hemingway em O Sol Também se Levanta, que podemos até sentir a brisa no rosto e o sol esquentando a pele. O contraste da ensolarada Espanha com a “suja” Paris é evidente aqui, como se o país fosse um escape para esses personagens expatriados do pós-guerra.

Como jornalista, impossível não se identificar com a escrita do autor, que é tão sucinta e objetiva. Já tentei escrever prosa e, quando você está impregnado por esse tipo de linguagem, é complicadíssimo se ater aos adjetivos.

Portanto, gostei bastante do livro e recomendo para quem busca um tipo de experiência literária diferente das demais.

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