*Atualizado em 8 de março de 2024
Nossas Noites foi o último trabalho publicado por Kent Haruf, que faleceu em 2014, aos 71 anos. O que mais me chamou a atenção, a princípio, foram os protagonistas. Eu não conseguia me lembrar de quantos livros havia lido com personagens septuagenários como protagonistas e, por isso, resolvi dar uma chance para o romance de Haruf.
Os capítulos supercurtos fazem o leitor engatar de uma vez na história e, quando você percebe, já está completamente tomado pelo enredo de Louis e Addie.
Confira a sinopse oficial, do site da Companhia das Letras:
“Em Holt, no Colorado, Addie Moore faz uma visita inesperada a seu vizinho, Louis Waters. Viúvos e septuagenários, os dois lidam diariamente com noites solitárias em suas grandes casas vazias. Addie propõe a Louis que ele passe a fazer companhia a ela ao cair da tarde para ter alguém com quem conversar antes de dormir. Embora surpreso com a iniciativa, ele aceita o convite. Os vizinhos, no entanto, estranham a movimentação da rua, e não demoram a surgir boatos maldosos pela cidade. Aos poucos, os dois percebem que manter essa relação peculiar talvez não seja tão simples quanto parecia. Neste aclamado romance, Kent Haruf retrata com ternura e delicadeza o envelhecimento, as segundas chances e a emoção de redescobrir os pequenos prazeres da vida – que pode surpreender e ganhar um novo sentido mesmo quando parece ser tarde demais.”
Falando um pouco sobre os aspectos técnicos do livro, como comentei, o ritmo é bem rápido. O autor não “perde” tempo com detalhes: este não é o foco de Nossas Noites. A construção textual é, praticamente, toda feita através de diálogos entre o casal principal.
Diversas vezes, o autor separa as frases apenas com ponto final, por isso, no começo da leitura, dá para se confundir sobre quem está dizendo uma frase ou outra.
“Pois é. Bem, vou dizer de uma vez.
Pode falar que eu estou ouvindo, disse Louis.
O que você acharia da ideia de ir à minha casa de vez em quando para dormir comigo?” (p. 8)
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“Não, não pensei isso. Mas não sei por que você me escolheu.
Você não gostou que eu tenha te escolhido?
Não. Não é isso. Só estou curioso. Intrigado.” (p. 22)
O que mais me impactou foi a capacidade do autor em emocionar por meio de suas palavras. Diversas vezes me peguei chorando ao ler capítulos de duas páginas ou menos. E isso, meus amigos, é algo que poucos conseguem fazer.
A construção do relacionamento de Louis e Addie em Nossas Noites é gradativa e acontece de forma natural, sincera, leve e muito bonita. A rede de apoio que formam, como lidam com as situações de preconceito, enfim… tudo acerta o coração do leitor em cheio.
“O que mais você quer saber?
De onde você é. Onde você cresceu. Como você era quando menina. Como eram seus pais. Se você tem irmãos. Como conheceu o Carl. Como é a sua relação com seu filho. Por que você veio morar em Holt. Quem são seus amigos. Em que acredita. Em que partido você vota.” (p. 23)
Nossas Noites é um livro sensível, reflexivo e, ao mesmo tempo, leve. O namoro entre pessoas mais velhas é vista como tabu, ainda nos dias de hoje, e o autor trata sobre este assunto com bastante verdade: os julgamentos e falatórios de uma cidade pequena, o filho que acha que a mãe está com “pouca vergonha” ao decidir se relacionar com um homem depois dos 60 anos. Tudo isso ao mesmo tempo em que mostra a beleza do amor – em qualquer idade – e a alegria de descoberta, mesmo depois de tantos anos, quando os protagonistas achavam que jamais conseguiriam ter um sentimento de descoberta novamente.
O livro traz reflexões importantes sobre velhice, tema que, muitas vezes, é deixado de lado tanto no nosso dia a dia quanto na literatura. Por isso, Nossas Noites torna-se ainda mais especial. Vale muito a indicação!
“A gente não tem como consertar as coisas, não é?, disse Louis.
A gente sempre quer, mas não consegue.” (p. 126)
Para quem gosta de fazer comparativos, Nossas Noites foi adaptado pela Netflix. Algumas mudanças (é claro) foram feitas no roteiro, mas é bem fidedigno. Confira o trailer:
Clique aqui para ler os três primeiros capítulos do livro.
NOTA:
Melissa Ladeia Schiewaldt é jornalista, especialista em Marketing Digital e tem MBA em Gestão de Projetos.