Entrevistas  |  29.03.2016

Entrevista: Maria Carolina Passos e Pathy dos Reis, autoras do livro Blasfêmia

*Atualizado em 14 de março de 2018

Fiz aqui no blog uma resenha do livro Blasfêmia, das autoras Maria Carolina Passos e Pathy dos Reis e, enquanto lia o livro, fiquei muito curiosa em relação à algumas questões. Perguntei para as duas se elas topavam dar uma entrevista para o Resenhas e aqui está o resultado! Para quem não sabe, as autoras trabalharam juntas no canal do YouTube Galo Frito e hoje estão à frente do canal da Pathy dos Reis, com mais de 1 milhão de inscritos. Confira abaixo a entrevista:

Entrevista: Maria Carolina Passos e Pathy dos Reis, autoras do livro Blasfêmia

Resenhas: Em primeiro lugar, queria saber como foi esse processo de escrita em dupla. Como vocês se organizaram? Ainda mais morando em cidades diferentes… cada uma escrevia uma parte, ou vocês trocavam ideias e só uma escrevia, como foi?

Na verdade, a Pathy ainda morava aqui quando decidimos por esse projeto juntas, então foram várias reuniões para bolarmos a história e os personagens. Depois das pesquisas e da mudança dela, passamos a compartilhar todas as nossas anotações de forma organizada (com ficha de personagens e storyline em arquivos próprios, por exemplo) através do Google Drive. E apesar da parte escrita ter ficado mais comigo (pois já tinha certa experiência, e não queríamos que saísse um texto Frankenstein), ambas tinham acesso em tempo real a todo material, já que as pesquisas e, claro, o manuscrito também estavam no GDrive. A partir daí conversávamos constantemente sobre mudanças/melhorias e o rumo da trama de acordo com nossas expectativas iniciais.

Resenhas: O livro conta com descrições muito bacanas de uma cidade norte-americana. Alguma de vocês já morou nos Estados Unidos? Se sim, isso pode ter servido de inspiração para a criação do livro?

Nunca moramos nos EUA, só fomos a passeio (porém não para Utah). E uma descrição apurada era muito importante para nós, já que a cidade chega quase a ser uma personagem na história. Salina foi escolhida a dedo, porque combinou perfeitamente com o tom que queríamos dar. Apesar de nenhuma de nós ter estado lá de fato, pode-se dizer que a visitamos… por meio do Google Maps. Passeamos por suas ruas e arredores pelo Street View, tendo uma visão, diria até que privilegiada, de sua arquitetura, geografia e zoneamento, o que contou e muito para essas descrições.

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Resenhas: Vocês trabalham com YouTube faz tempo, né? (Pelo que eu vi, mais de 6 anos). Como surgiu a vontade de escrever o livro? Esse é um projeto antigo de vocês ou a vontade de publicar uma obra de ficção veio faz pouco tempo?

A Pathy sim, já eu entrei no mundo do YouTube em 2013 (trabalhava em uma multinacional antes). Escrever ficção sempre foi um sonho antigo, mas com a mentalidade de cidade pequena não cogitava levá-lo adiante e acabei me formando em/dedicando muitos anos ao Comércio Exterior (uma área forte em Itajaí, que é uma cidade portuária, de onde ambas somos), até decidir que era hora de arriscar, então pedi a conta para me dedicar à escrita. Já conhecia a Pathy dos Reis e o pessoal do Galo Frito, e, depois de alguns freelas pra eles, fui chamada para ser roteirista, escrevendo algumas paródias, mas focando 100% no programa da Pathy, o Pathy que te Pariu, que foi quando retomamos nossos laços. Trabalhar no Galo era muito bacana e pagava as contas, mas eu havia deixado o sonho de escritora completamente de lado, então quase 1 ano depois pedi para sair (o que coincidiu com a Pathy já pensando em se mudar para SP), e pouco depois ela saiu também. E foi aí que conversamos sobre dois projetos: eu ser roteirista para o canal solo dela (que teria uma demanda muito menor que a do Galo, dando tempo para outros afazeres), e escrevermos juntas um livro, já que ela sabia que eu saí para isso. A Pathy sempre gostou muito de ler, sobretudo o gênero policial, que escolhemos para embalar a nossa trama. E assim foi, um sonho antigo e um novo sonho se juntaram, numa união de forças e timing que não poderiam ter dado mais certo!

Entrevista: Maria Carolina Passos e Pathy dos Reis, autoras do livro Blasfêmia

Resenhas: Há bastante informação sobre mórmons no Blasfêmia. Alguma de vocês é ou já foi mórmon? Se não, como foi o processo de pesquisa para tratar sobre esse assunto no livro?

Não, mas tenho um amigo que foi mórmon (e não é mais, sobretudo, por ser gay). Procuramos fazer uma pesquisa profunda nessa questão por ser algo muito delicado, e ainda tivemos que ter atenção dobrada pelo fato de a história não se passar no presente (essa é uma religião que passou por mudanças significativas nos últimos tempos), e que, além de não ser no Brasil (de modo que se a pesquisa fosse feita apenas com fontes daqui haveria diferenças), é justamente em uma cidade de Utah, o estado mais religiosamente homogêneo dos EUA (que tem mais da metade da população mórmon). Então basicamente buscamos muitas e diferentes fontes, visões de dentro e fora da religião, relatos da época, crenças, doutrinas e práticas, terminologias, posicionamentos, e toda sua história e cultura como um todo. Mesmo sendo tudo através da Internet, depois de muita leitura, bastava fazer algumas comparações para não cair em informações desvirtuadas.

Resenhas: Quais autores de romance policial vocês gostam e indicam? Vocês se inspiraram na obra de algum autor específico para criar o Blasfêmia?

Não chegamos a ter inspiração em nenhuma obra específica, mas na época lemos os mesmos dois livros para, digamos, ficar na mesma sintonia, que foram: O Menino da Mala, também de duas autoras, Lene Kaaberbøl e Agnete Friis; e O Pacto, do Joe Hill, filho do Stephen King (autor que adoramos). Um livro do gênero que a Pathy adora é o Grau 26 – A Origem, e eu gosto de citar um autor nacional que vem se destacando muito, que é o Raphael Montes. Queria comentar também que você não foi a primeira a comparar nosso estilo ao da Gillian Flynn, o que achamos um super elogio, mesmo não tendo sido intencional.

Resenhas: Vocês trabalham bastante com roteiro e YouTube. Qual foi o maior desafio em deixar de lado esse formato e escrever um romance?

Essa pergunta me lembrou uma resenha de Blasfêmia onde a pessoa teve a sensação de o livro ser roteirizado, quase como um roteiro de filme, o que para ela funcionou de forma positiva, mas talvez seja um desafio para próximas obras: fugir completamente desse formato. Mas dificuldade quanto a isso não chegamos a sentir, mesmo porque antes de escrever roteiros (e que no caso são de humor, portanto pedem por uma perspectiva bem diferente), eu já havia escrito uma história de ficção científica em inglês para uma editora independente dos EUA, que publica em plataforma online paga, além de vários contos, em português, não publicados – bem aquele tipo, de começo de carreira, que o escritor quer que fiquem onde estão, no “fundo da gaveta” (ou melhor, nas pastas mais obscuras do computador).

Resenhas: O final de Blasfêmia deixou algumas questões em aberto. Vocês pretendem lançar continuações do livro?

Muita gente pergunta isso, e a resposta é que depende de alguns fatores, como a editora, que detém os direitos da história ainda por alguns anos, e as vendas. Da nossa parte não é segredo que gostamos muito dessa parceria, e toparíamos outra empreitada literária juntas sem dúvida. Ideias para uma continuação já ficaram pensadas desde que optamos pelo fatídico final, hehe.

Resenhas: Que dicas/conselhos vocês dão para quem sonha em escrever um livro e começar uma carreira como escritor?

Já é uma dica um tanto clichê, mas nem por isso menos valiosa: ler muito! A pessoa que quer ser escritor mas não tem paciência para ler de tudo e mais um pouco, não está no melhor caminho, para dizer o mínimo. E não basta se limitar ao gênero sobre o qual quer escrever, é importante sair da zona de conforto (é fora dela que se tem grandes inspirações para seu próprio estilo/história, por mais diferente que ela seja daquilo). Também é importante se instruir, conhecer e estudar as técnicas, mas não deixar que elas oprimam a arte, a sua característica pessoal e a sua observação das pessoas e do mundo – basta “ler” a vida a sua volta para traduzir isso em personagens, situações e sentimentos com os quais os leitores vão se identificar, enriquecendo desde histórias possíveis, com pessoas e crimes, às mais inconcebíveis, com monstros e universos inventados.

Para saber mais sobre o livro Blasfêmia e as autoras, é só acessar o site www.blasfemia.com.br.

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