*Atualizado em 8 de março de 2024
Aposto que você, em algum momento da vida, ouviu a frase “os fins justificam os meios”. Essa citação famosa tem origem no livro O Príncipe, de Maquiavel. Considerado o fundador da ciência política moderna, Maquiavel escreve em 1513 uma obra que transformou para sempre a História.
Publicado na época do Renascimento, somente muitos anos após a morte do autor, o livro tenta definir as formas de governo, as virtudes do soberano e uma nova ética do fazer político.
Esta edição da Nova Fronteira conta com tradução e prefácio de Lívio Xavier e traz também uma apresentação inédita do filósofo Júlio Pompeu. O interessante é que ambos defendem Maquiavel, retirando do autor o caráter maligno conferido à sua personalidade.
Em um contexto completamente diferente do nosso – afinal, o livro é de 1532, época do Renascimento – Maquiavel descreve as maneiras de conduzir-se nos negócios públicos internos e externos, além de demonstrar com inúmeros exemplos como conquistar e manter um principado, isto é: O Príncipe trata-se de um manual para como se chegar e manter-se no poder.
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Após muito estudo, Maquiavel desenvolveu sua obra e dedicou-a a Lourenço II de Médici (1492–1519), Duque de Urbino. Um dos objetivos do autor florentino era ganhar a confiança do duque, que poderia lhe conceder algum cargo político. No entanto, Maquiavel não alcançou suas ambições e morreu sem saber o quanto seu livro repercutiria. Inclusive, no início e final dessa edição, conferimos uma pequena biografia de Maquiavel, que passou por situações horríveis durante a vida.
A frase “os fins justificam os meios” foi lida e relida de diversas formas, sendo uma das interpretações mais conhecidas a de que, não importa o que o príncipe (governante) faça em seus domínios, desde que seja para manter-se como autoridade máxima.
Contudo, Maquiavel defende a centralização do poder político e não o absolutismo, como muitos pensam. O Príncipe é recheado de considerações e recomendações aos futuros ou atuais príncipes, abordando sempre a melhor maneira de administrar o governo. Logo, a obra tornou-se uma teoria do Estado moderno, mas sempre inserida no contexto da Itália renascentista, em que se lutava contra os particularismos locais, além das repúblicas, reinos, ducados e Estados Papais que dividiam a península.
Confesso que não achei uma leitura fácil. Não é impossível de entender, mas é necessário bastante atenção para compreender a linguagem concisa, sóbria e fria de Maquiavel. E é inacreditável pensar que algumas frases do livro ainda fazem sentido em 2019…
Também é interessante pensar em como Maquiavel conseguiu ser certeiro nas sugestões aos governantes da época. Sempre relembrando e citando exemplos da política italiana ou dos países vizinhos – ele comenta sobre os governantes da França, Espanha e Grécia – o autor faz uma análise fria e racional sobre como é possível manter-se no poder, mostrando quase um passo a passo de como manter o respeito do povo e dos súditos sem ser odiado, mas também sem ser amado em demasia.
Separei algumas frases impactantes da obra, que acredito que traduzem bem o conteúdo do livro. Veja:
Frases do livro O Príncipe
“[…] o conquistador, para mantê-los, deve ter duas regras: primeiro, fazer extinguir o sangue do antigo príncipe; segundo, não alterar as leis nem os impostos. De tal modo, num prazo muito breve, terá feito a união ao antigo Estado.” (p. 20)
“Da tísica, dizem os médicos que, a princípio, é fácil de curar e difícil de conhecer, mas, com o correr dos tempos, se não foi reconhecida e medicada, torna-se fácil de conhecer e difícil de curar. Assim se dá com as coisas do Estado: conhecendo-se os males com antecedência, o que não é dado senão aos homens prudentes, rapidamente são curados: mas, quando por se terem ignorado, se têm deixado aumentar, a ponto de serem conhecidos de todos, não haverá mais remédio àqueles males.” (p. 22)
“[…] é muito mais seguro ser temido que amado, quando se tenha que falhar numa das duas. (p. 73)
“[…] o tempo leva por diante todas as coisas, e pode mudar o bem em mal e transformar o mal em bem.” (p. 23)
“Conclui-se daí uma regra geral, que nunca ou muito raramente falha: quando alguém é causa do poder de outrem, arruína-se, pois aquele poder vem de astúcia ou força, e qualquer destas é suspeita ao novo poderoso.” (p. 25)
“Aqueles que somente por fortuna se tornam príncipes pouco trabalho têm para isso, é claro, mas se mantêm muito penosamente. Não têm nenhuma dificuldade em alcançar o posto, porque para aí voam; surge, porém, toda sorte de dificuldades depois da chegada. É o que acontece quando o Estado foi concedido ao príncipe, ou por dinheiro, ou por graça de quem o concede.” (p. 35)
“Enfim, as armas de outrem, ou te caem pelas costas, ou pesam sobre ti, ou ainda te sufocam.” (p. 63)
“Vai tanta diferença entre o como se vive e o modo por que se deveria viver, que quem se preocupar com o que se deveria fazer em vez do que se faz aprende antes a ruína própria, do que o modo de se preservar; e um homem que quiser fazer profissão de bondade é natural que se arruíne entre tantos que são maus.” (p. 68)
Vale ressaltar que esse é um livro polêmico e foi proibido por muito tempo na Europa medieval. Maquiavel confronta a Igreja, traz conceitos considerados controversos e ousados até mesmo nos dias de hoje. A obra tem um grande valor, principalmente para quem busca entender mais sobre Direito e Política. Um clássico que vale a pena ser lido!
NOTA:
Isabela Zamboni Moschin é jornalista, especialista em Língua Portuguesa e Literatura e mestre em Mídia e Tecnologia. Adora café, livros, séries e filmes. Atualmente, trabalha como Analista de Conteúdo na Toro Investimentos