Resenhas  |  03.03.2019

Resenha: Poemas – T.S. Eliot

*Atualizado em 8 de março de 2024

T.S. Eliot foi um poeta modernista, dramaturgo e crítico literário norte-americano, que viveu no período de 1888 e 1965. Apesar de ter nascido nos Estados Unidos, passou boa parte da vida na Inglaterra, até tornar-se cidadão britânico. Thomas Stearns Eliot recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1948 e até hoje é considerado por muitos o poeta mais influente do século XX.

Resenha: Poemas - T.S.Eliot Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

A obra Poemas, publicado pela Companhia das Letras no fim de 2018, inclui oito livros e livretos independentes publicados em vida por T.S. Eliot. São eles:

  • Prufrock e outras observações (1917)
  • Poemas (1920)
  • A Terra Devastada (1922)
  • Os Homens Ocos (1925)
  • Quarta-Feira de Cinzas (1930)
  • Poemas de Ariel (1927-54)
  • Quatro Quartetos (1943)
  • O Livro dos Gatos Sensatos do Velho Gambá (1939)

Ao fim da edição, estão reunidas mais de 60 notas com a tradução de citações, referências de contextos e outras observações sobre poemas, epígrafes e até títulos. Ou seja: temos aqui um primor, uma reunião incrível de poemas e textos de um autor excepcional.

Sempre digo que sinto dificuldade ao ler poesia. E com Eliot não foi diferente! Sei que poemas não devem ser analisados somente pelo conteúdo subjetivo, mas também pelas métricas, formas e musicalidade. Ler poesia pra mim sempre foi relacionado ao que ela transmite, ao sentimento, à própria arte; mas sem entender como ela foi criada e pensada, fica complicado fazer qualquer tipo de análise.

O que me ajudou bastante nessa edição foi o posfácio de Caetano Galindo, que além de fazer uma tradução bem difícil, também descreve todo o percurso da vida de T.S.Eliot, as influências e referências do autor, explica o contexto histórico e, com comentários divertidos, descreve a dificuldade em transpor para a língua portuguesa alguns dos versos mais complexos do poeta.

Prufrock e outras observações trouxe alguns dos meus poemas prediletos (talvez porque sejam mais fáceis de entender), como Prelúdios (p.35), Rapsódia para uma noite de vento (p.41), e Manhã à janela (p.47).

“Você está com a chave,

A luz fraca lança um halo sobre a escada.

Suba.

A cama está aberta; a escova de dentes pendente de um gancho,

Deixe os sapatos na porta, durma, prepare-se para a vida.”

A faca dá mais uma retorcida.

Trecho de ‘Rapsódia para uma noite de vento’, p. 45

Já em Poemas, encontrei mais dificuldade. Eliot utiliza muitas referências bíblicas, passagens do Paraíso Perdido de Milton, além de alusões a tragédias gregas e escreve versos em outras línguas, desde italiano, latim até francês. Rompendo padrões estéticos, aqui ele se consolida como um verdadeiro modernista.

Mas o seu trabalho mais famoso e discutido até hoje é A Terra Devastada (The Waste Land). São inúmeras interpretações dessa obra e, portanto, difícil simplificá-la a uma temática ou discussão. O poema, considerado obscuro, já foi lido como uma alegoria à desilusão da geração pós-guerra, mas também pode ser visto como uma súplica pela paz, uma sátira e uma crítica ao puritanismo, com justaposições entre o feio e o belo, o grandioso e o burlesco.

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A Terra Devastada também apresenta mudanças de narrador, localidade e tempo, além de emprestar versos e referências da literatura europeia, indiana e da Antiguidade clássica. Não é uma leitura fácil, mas que deve ser repetida diversas vezes.

Resenha: Poemas - T.S.Eliot
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

Abril é o mais cruel dos meses, criando

Lilases na terra morta, mesclando

Memória e desejo, atiçando

Raízes tardas com chuvas de primavera.

[…]

Quais são as raízes que prendem, que ramos se estendem

Desse entulho de pedras? Filho do homem,

Não podes dizer, suspeitar, já que conheces só

Uma pilha de imagens partidas, em que bate o sol,

E o tronco morto não te abriga, o grilo não mitiga,

E a pedra seca não ressoa a água.

Trechos de ‘A Terra Devastada’, p. 113

Nos próximos textos, Os Homens Ocos, Quarta-Feira de Cinzas, Poemas de Ariel e Quatro Quartetos, as referências à Bíblia são inúmeras; o texto é denso, pesado, com descrições meticulosas e abertos à múltiplas interpretações. São os mais difíceis dessa reunião de Poemas do autor. Um dos trechos que mais me envolveu foi este a seguir, retirado de Burnt Norton, em Quartetos:

Os tempos presente e passado

Estão talvez presentes no tempo futuro,

E o futuro contido no tempo passado.

Se todo o tempo é presente eternamente

O tempo é todo irredimível.

O que poderia ter sido é abstração

Permanece perpétua a possibilidade

Somente num mundo de especulação.

O que poderia ter sido e o que foi

Apontam a um só fim, que é sempre presente.

Passos ecoam na memória

No corredor que não percorremos

Rumo à porta que jamais abrimos

Para o jardim de rosas.

Burnt Norton, Quatro Quartetos, p.225

A última parte da coletânea, O Livro dos Gatos Sensatos do Velho Gambá, foi uma grande surpresa! T.S. Eliot rompe com a seriedade e escreve poemas para crianças. Com bastante musicalidade e tom de comédia, conferimos a história de vários gatos de rua, com suas particularidades e dificuldades. É uma literatura adulta e infantil ao mesmo tempo, isto é, bem mais tranquila de ler e acompanhar do que o trabalho mais maduro do autor.

O mais curioso, que provavelmente muitos já sabem, mas eu não fazia ideia, é que esse livro inspirou o musical Cats, de Andrew Lloyd Webber, sucesso da Broadway. No Brasil, a turnê internacional fez uma rápida parada no Rio de Janeiro e em São Paulo em 2006, antes que o musical entrasse em cartaz em 2010 no Teatro Renault, com Paula Lima e Saulo Vasconcelos nos papéis principais.

Uma das músicas mais conhecidas é ‘Memory’, cantada pela gata Grizabella:

Quando será que o musical retorna? Agora fiquei curiosa! Hahaha!

Por fim, vale ressaltar que essa edição é caprichada: a capa é de tecido, bem elegante; os poemas são colocados tanto na versão original, quanto na traduzida, lado a lado, para efeito de comparação; as fontes utilizadas, o tipo de papel e o cuidado com o conteúdo são de altíssima qualidade. Se você quer conhecer a fundo a obra de T.S. Eliot, a leitura é mais do que recomendada: é obrigatória!

Nota

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