Resenhas  |  18.04.2018

Resenha: A Balada de Adam Henry – Ian McEwan

*Atualizado em 13 de março de 2024

A Balada de Adam Henry é o meu terceiro livro do Ian McEwan. Desde que li Enclausurado, depois Reparação, os livros do autor viraram praticamente uma obsessão em minha vida.

Agora, A Balada de Adam Henry é mais uma história fantástica: uma lição sobre amor, frustração, empatia, crença. fé, religião e justiça. Sim, é tudo isso mesmo!

Resenha: A Balada de Adam Henry - Ian McEwan
Foto: Isabela Zamboni | Resenhas à la Carte

Veja a sinopse oficial:

“A personagem central é Fiona Maye, uma juíza do Tribunal Superior especialista em Direito da Família. Ela é conhecida pela “imparcialidade divina e inteligência diabólica”, na definição de um colega de magistratura. Mas seu sucesso profissional esconde fracassos na vida privada. Prestes a completar sessenta anos, ela ainda se arrepende de não ter tido filhos e vê seu casamento desmoronar. Assim que seu marido faz as malas e sai de casa, Fiona tem de lidar com o caso de um garoto de dezessete anos chamado Adam Henry. Ele sofre de leucemia e depende de uma transfusão de sangue para sobreviver. Seus familiares, contudo, são Testemunhas de Jeová e resistem ao procedimento. O dilema não se resume à decisão judicial. Como nos demais casos que julga, Fiona argumenta com brilho em favor do racionalismo e repele os arroubos do fervor religioso. Mas Adam se insinua de modo inesperado na vida da juíza. Revela-se um garoto culto e sensível e lhe dedica um poema incisivo: “A balada de Adam Henry”. Os sentimentos despertados pelo garoto a surpreendem e incomodam. A crise doméstica e o envolvimento emocional com Adam – que oscila entre a maternidade reprimida e o desejo sexual – desarrumam sua trajetória de vida exemplar, trilhada com disciplina espartana desde a infância.”

Com uma premissa impactante dessas, dificilmente o livro seria ruim, certo? Certíssimo, porque ele é realmente tudo o que promete. 

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Livros que envolvem casos de justiça, tribunal e decisões complicadas geralmente suscitam questões éticas e morais. A personagem principal, Fiona, é de uma força sem precedentes: mulher que conquistou uma carreira com muito esforço, dedicação e ganhou o respeito de todos à sua volta.

Essa personagem – praticamente uma muralha – vê suas energias esvanecerem quando precisou lidar com duas crises simultâneas: seu marido quer viver uma aventura sexual com uma moça mais jovem – já que eles não têm uma vida sexual ativa faz tempo – e um adolescente de 17 anos decide morrer e rejeitar transfusão de sangue por motivos religiosos.

Resenha: A Balada de Adam Henry - Ian McEwan
Foto: Isabela Zamboni | Resenhas à la Carte

Ao mesmo tempo em que sofre com a crise conjugal e vive momentos de completa solidão, a juíza envolve-se com Adam Henry de uma forma bastante maternal (já que ela não tem filhos), mas principalmente profissional. No entanto, um jovem de 17 anos, Testemunha de Jeová, que segue todas as leis mais rígidas de sua religião e passa por uma crise forte de identidade… Vai buscar conforto em quem? Com certeza na mulher que o ajudou, mesmo indiretamente, a enxergar a vida com outros olhos.

Durante a leitura, passei por vários estágios, desde a empatia pela mulher, até o sofrimento do garoto, passando pelo ódio da masculinidade frágil do marido de Fiona. Ela encara de frente inúmeras situações que arrepiariam a nuca de qualquer pessoa comum. No entanto, sua relação com o garoto só se estreita e, em alguns momentos, acabamos nos perguntando: “Por que ela está fazendo isso com o menino? Quais as intenções dela?”.

A questão que mais me tocou em A Balada de Adam Henry é a linha tênue entre o fundamentalismo religioso e o racionalismo. Ao mesmo tempo em que as decisões das Testemunhas de Jeová parecem incabíveis, estão dentro de suas normas religiosas. E como julgar esse tipo de situação?

Durante a leitura, eu me perguntava: “como essa personagem consegue dormir à noite tomando essas decisões que mudam completamente a vida das pessoas?”. E o mais engraçado é que Fiona, assim que pisava do lado de fora do Tribunal, já pensava em outras coisas, como se “desligasse” do trabalho. Fiquei meio incrédula. Só sei que ser juiz está longe de ser um trabalho fácil.

Como todo livro do Ian McEwan, há muito charme e sutileza na linguagem do autor, sem contar as personagens, que, apesar de melancólicas, são cultas, sofisticadas e palpáveis. Toda vez que leio uma obra do autor britânico, sinto como se fosse melhor amiga daquelas personagens ou compreendesse completamente o contexto em que vivem. Poucos autores conseguem tocar na ferida ou mexer com nossos sentimentos como McEwan.

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