*Atualizado em 12 de março de 2024
Comecei a ler A Livraria, de Penelope Fitzgerald, por acaso. Estava dando uma olhada nas estreias de filmes e vi que iria passar um com este nome. Como era baseado em um livro, já me interessei logo de início: amo histórias que falam sobre livros e literatura.
O mais engraçado é que o livro fugiu completamente das minhas expectativas. Acreditava que iria encontrar vários diálogos ou tópicos sobre literatura, discussões sobre livros, mas é bem longe disso.
A narrativa e a trama são bem simples: Florence é uma mulher de meia idade que vive na pequena cidade de Hardborough e deseja abrir uma livraria. Porém, a arte, a cultura e a literatura não parecem ter qualquer efeito benéfico nos habitantes da cidadezinha inglesa.
A protagonista enfrenta muita resistência dos moradores, especialmente da rica e maligna Sra. Gamart, que tenta a todo custo fechar a livraria de Florence, com a desculpa de que iria utilizar o prédio para criar um Centro de Artes. Uma grande ironia da obra de Fitzgerald é que as pessoas mais “cultas” e “artísticas” da comunidade são também as mais horrorosas. Para a Sra. Gamart, o interesse em “cultura” traz status social e a ilusão de sofisticação.
Em suma, ela cegou a si mesma, fingindo, por algum tempo, que os seres humanos não estão divididos em exterminadores e exterminados, com os primeiros predominando o tempo inteiro. Força de vontade é inútil sem senso de direção. E a dela estava numa maré tão baixa que não lhe dava mais instruções para sobreviver.
A cidade de Hardborough é isolada, fechada e, como o próprio prefácio de David Nicholls aponta, “seu materialismo paroquial é exagerado para fins de comédia”. As personagens beiram a pobreza e o fracasso muito mais do que o sucesso. A questão de classes sociais também é abordada várias vezes durante o livro, enfatizando como nem sempre a inteligência ou o esforço levam a algum lugar.
Um bom livro é a preciosa força vital de um espírito superior, embalsamado e entesourado para que alcance vida além da vida; como tal, deve indubitavelmente ser considerado um produto necessário.
A narrativa de A Livraria é clara, precisa e econômica, com toques de ironia bem no estilo humor britânico. Elementos sobrenaturais também são citados com frequência – a Old House, local em que Florence vive e comanda sua livraria, é rodeada por assombrações – além de descrições exageradas de personagens, que os tornam bastante alegóricos e até mesmo oníricos.
Mas coragem e resistência são inúteis se nunca as colocamos à prova.
O livro é bem curtinho, mas ainda assim traz uma melancolia carregada. Apesar de conter toques de humor, não é uma história com um final feliz. Durante a leitura, é impossível não sentir raiva, ódio e desconfiança dos moradores da cidade, até dos personagens relativamente ‘bondosos’ que tratam Florence de um jeito mais educado. É muita mesquinheza para um livro só: não tem como não se indignar com a falta de noção das pessoas da cidade.
— Não devo deixar que as preocupações me dominem — disse ela. — Enquanto há vida, há esperança. — Que pensamento aterrorizante! — murmurou o Sr. Brundish.
O final é um dos mais tristes que já li. A frase que encerra o livro deixa um gosto amargo na boca e a desesperança é o sentimento que predomina. Durante a leitura, esperei muitas respostas a diferentes perguntas, mas nenhuma foi respondida. Um dos méritos de Penelope Fitzgerald é esse: o mistério pairando no ar e a quebra da expectativa. Não é um livro clichê, ele foge das convenções e faz um retrato seco e amargo de uma cidade completamente atrasada.
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Como já comentei, descobri o livro por causa do filme! Não assisti ainda, mas pelo pouco que conferi no trailer, tem uma pegada de romance e ‘amor pelos livros’ que não existe muito na obra de Fitzgerald. Confira o trailer de A Livraria:
NOTA:
Isabela Zamboni Moschin é jornalista, especialista em Língua Portuguesa e Literatura e mestre em Mídia e Tecnologia. Adora café, livros, séries e filmes. Atualmente, trabalha como Analista de Conteúdo na Toro Investimentos
Gostei muito da resenha! Vou procurar tanto o livro como o filmee 🙂
Que bom que gostou, Ludmila! Não vi o filme ainda, espero que seja bom! Beijos 😚
Gostei muito da resenha! Vou procurar tanto o livro como o filmee 🙂
Que bom que gostou, Ludmila! Não vi o filme ainda, espero que seja bom! Beijos ?