Resenhas  |  29.09.2025

Resenha: A Vegetariana – Han Kang

*Atualizado em 1 de outubro de 2025

Eu comecei a ler A Vegetariana, de Han Kang, depois de ver que a autora venceu o Prêmio Nobel de Literatura em 2024. Já tinha visto muitas pessoas comentando sobre a obra, mas assim que eu me tornei vegana, aí a curiosidade ficou ainda maior. Antes de mais nada, vamos à sinopse:

Yeong-hye, uma mulher comum, casada e sem grandes ambições, decide parar de comer carne após ter sonhos violentos e sangrentos. A princípio, sua escolha parece apenas uma excentricidade, mas rapidamente se transforma em algo que rompe com as normas sociais, familiares e culturais ao seu redor. A recusa da carne não é apenas alimentar: ela simboliza uma recusa mais profunda, quase existencial, de participar da lógica de dominação, agressividade e brutalidade que a cerca. Essa decisão desestabiliza sua família e desencadeia uma série de consequências físicas e psicológicas, colocando em questão os limites do corpo, da sanidade e da liberdade individual.

Resenha: A Vegetariana - Han Kang
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

O livro é dividido em 3 partes, quase como se fosse uma pequena trilogia, com pontos de vista narrativos diferentes. Eu gostei bastante dessa estrutura, deixou a leitura bem mais interessante, sem contar que, honestamente, é preciso ter estômago para ler os pontos de vista do marido e do cunhado.

Na primeira parte, lemos a história através do marido de Yeong-hye, um homem acomodado e pragmático, que não entende nem aceita a transformação da esposa, tratando-a como um transtorno que ameaça sua vida.

Depois que Yeong-hye passa a ter pesadelos perturbadores, cheios de imagens de sangue, carne e violência, aquilo a faz sentir repulsa de qualquer alimento de origem animal.

O marido, sempre incomodado e com raiva da esposa, insiste que ela volte a comer normalmente, pois a dieta a torna não apenas diferente, mas socialmente vergonhosa, principalmente para seus colegas de trabalho.

É desesperador o jeito que ele descreve a esposa, a trata, ou como a considera um estorvo só porque ela não segue o padrão que ele tanto almejava.

Na segunda parte, a narrativa passa para o cunhado de Yeong-hye, um artista obcecado pelo corpo dela, que projeta em sua recusa à carne e em sua magreza um desejo estético e erótico. Aqui temos outro ponto de vista difícil de ler, principalmente se você é mulher.

Ele fica fascinado pelo corpo magro e frágil da cunhada, vendo nela uma espécie de tela viva para seus desejos criativos e sexuais. Ele convence Yeong-hye a participar de um projeto artístico em que pinta flores em seu corpo nu e a filma em performances sensuais, explorando o contraste entre sua aparência frágil e a intensidade da arte.

Já a terceira parte é narrada pela irmã de Yeong-hye, In-hye, que tenta compreender o colapso da protagonista da história, enquanto enfrenta suas próprias feridas e frustrações. Yeong-hye já não quer mais comer nada, não apenas carne: deseja se tornar uma planta, viver apenas de luz e água, negando completamente sua humanidade.

In-hye, que sempre foi a responsável pela família e que viveu sob a mesma opressão patriarcal, começa a refletir sobre o que a irmã representa: um corpo que se recusa a obedecer, que escolhe desaparecer em vez de se submeter. Ela se vê dividida entre a dor, a culpa e um certo reconhecimento do radicalismo da irmã.

Basicamente, a personagem central, a vegetariana Yeong-hye, não tem voz direta, ou seja, não sabemos com profundidade o que se passa na mente dela, conhecemos apenas suas ações pelas vozes das pessoas à sua volta. Ela é vista, julgada e interpretada pelos outros o tempo inteiro, mas raramente fala por si.

Ela está sempre em silêncio e sua deterioração física é evidente, já que ela se recusa a comer e sua família não a ajuda em absolutamente nada.

Essa sua mudança, inclusive, é como uma espécie de resistência contra a opressão. Não é somente sobre se tornar vegetariana e deixar de comer carne, mas sim uma forma de resistência contra as estruturas de poder, de gênero e de violência que permeiam sua vida.

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Conforme ia avançando na leitura, percebi que o livro de Han Kang mereceu todo o hype, já que enfatiza alguns temas importantes, como o corpo feminino representando um espaço de rebeldia, a fragilidade da mente diante da pressão social e o preço de tentar escapar de um sistema sufocante.

Considero importante também ressaltar o contexto da obra, que é sul-coreana, uma sociedade marcada pelo patriarcado, pela obediência rígida e pela expectativa de que as mulheres cumpram papéis predeterminados. Yeong-hye se torna, portanto, uma figura de ruptura.

Apesar de curto, é um livro intenso, com brutalidade, mas também traz um lirismo evocativo. É uma leitura diferente que impressiona, misturando realismo, violência, erotismo e poesia em uma narrativa perturbadora sobre corpo, identidade e resistência. Agora fiquei com vontade de ler outros livros da autora.

E você, já leu? O que achou? Me conta nos comentários!

NOTA

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