Resenhas  |  02.12.2019

Resenha: Um Lugar Bem Longe Daqui – Delia Owens

*Atualizado em 8 de março de 2024

Fiquei interessada pela leitura de Um Lugar Bem Longe Daqui após ter visto a repercussão do livro, especialmente depois da indicação de Reese Whiterspoon.

Fui influenciada pela influencer (hahaha) e confesso que me surpreendi. Na verdade eu não havia lido NADA a respeito, então foi uma boa surpresa! O livro é realmente ótimo, empolgante, triste e ao mesmo tempo reflexivo. Sim, é tudo isso mesmo! Mas, antes de começar, vamos à sinopse:

Resenha: Um Lugar Bem Longe Daqui - Delia Owens
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

Por anos, boatos sobre Kya Clark, a “Menina do Brejo”, assombraram Barkley Cove, uma calma cidade costeira da Carolina do Norte. Ela, no entanto, não é o que todos dizem. Sensata e inteligente, Kya sobreviveu por anos sozinha no pântano que chama de lar, tendo as gaivotas como amigas e a areia como professora. Abandonada pela mãe, que não conseguiu suportar o marido abusivo e alcoólatra, e depois pelos irmãos, a menina viveu algum tempo na companhia negligente e por vezes brutal do pai, que acabou também por deixá-la.

Anos depois, quando dois jovens da cidade ficam intrigados com sua beleza selvagem, Kya se permite experimentar uma nova vida — até que o impensável acontece e um deles é encontrado morto.

Ao mesmo tempo uma ode à natureza, um emocionante romance de formação e uma surpreendente história de mistério, Um lugar bem longe daqui relembra que somos moldados pela criança que fomos um dia e que estamos todos sujeitos à beleza e à violência dos segredos que a natureza guarda.

A princípio, a história não me cativou, demorei um pouco para engrenar. Mas depois de algumas páginas, eu não conseguia mais parar de ler e tentar entender o que aconteceu com Kya. Uma garota de apenas 6 anos é abandonada pela família INTEIRA! Primeiro pela mãe, que vai embora sem nunca dizer adeus, depois pelos três irmãos. Ela é deixada para trás com um pai abusivo e alcoólatra, que desaparece por dias e a deixa completamente na solidão, sem saber nem por onde começar.

O livro intercala presente e passado – na década de 60 e 50, respectivamente. No presente, vemos que Chase Andrews, um homem famoso e rico na cidade, foi encontrado morto no pântano. No passado, acompanhamos a trajetória de Kya e sua formação como mulher, até o ano de 1970, quando as linhas temporais se juntam.

Kya vivia na mais pura solidão, mas era a natureza quem a fazia companhia. Os pássaros, insetos, a maré, os pântanos, as árvores…

Logo a menina aprendeu com o que tinha a se virar sozinha. Não sabia ler nem escrever, sofria bullying da cidade inteira por ser pobre e do pântano – tanto que ficou conhecida como a Menina do Brejo – e nunca colocou os pés na escola. Vivia descalça e com roupas surradas, mas graças a Pulinho – um negro que vendia gasolina perto de seu barracão – que Kya conseguiu, aos poucos, sobreviver.

Não vou dar tantos detalhes a respeito da história, mas acredito que as impressões que o livro causa são muito superiores do que a narrativa em si. Inclusive, toda a parte de investigação do assassinato, eu deixaria de lado. Quando chegava nesse momento, eu sentia que era ‘a parte chata’ do livro, sabe? Eu queria acompanhar Kya, sua luta, sobrevivência, seu aprendizado.

A autora faz descrições impecáveis a respeito da natureza ao redor da Menina do Brejo. O conhecimento de Delia Owens como cientista deu um toque a mais à leitura, criando uma conexão de Kya com a natureza que fica até difícil de descrever.

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Eu sentia muita aflição e raiva durante a leitura. Além da população da cidade ser nojenta e desprezar a menina, a história se passa bem na época da segregação entre negros e brancos nos EUA. Pulinho e sua família sofriam constantes ataques racistas, as igrejas eram separadas, havia locais proibidos para negros e mulheres, entre tantos outros absurdos da época.

Resenha: Um Lugar Bem Longe Daqui - Delia Owens
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

Um Lugar Bem Longe Daqui é um romance de formação. Acompanhamos o crescimento de alguns personagens, como o de Kya e Tate – o garoto que a ensinou ler e foi seu primeiro amor – bem como o de outros personagens da cidade. O próprio Chase Andrews é uma parte interessante da trama, o famoso “macho alfa” que infelizmente vemos por todos os lados ainda hoje.

Inclusive, a autora faz muitas comparações de humanos com outras espécies de animais. É muito interessante analisar o comportamento humano pelo viés biológico. Outro ponto que deixa o livro mais denso e reflexivo.

O que mais me deixou aflita foi pensar na solidão vivida pela protagonista. Estar em completo abandono, sem contato humano nenhum por meses e meses a fio. Viver em constante medo e privação, sendo odiada por todos mesmo sem ter feito nada, é angustiante. Não consigo imaginar como seria uma vida de isolamento total. Para mim, esse foi o ponto-chave do livro. A descrição dos sentimentos, as dúvidas e anseios da Menina do Brejo…impossível não se emocionar com tanta luta.

Porém, apesar de ter gostado bastante, ainda tenho algumas ressalvas. Em alguns momentos, Um Lugar Bem Longe Daqui me lembrou livros similares – por exemplo, A Vida Secreta das Abelhas – com aquele sentimentalismo exagerado, que quase cai no piegas. Delia Owens faz bem melhor do que outros autores, mas ainda existe aquele ‘tom’ de livro norte-americano-que-traz-uma-lição-de-moral.

Não sei se fui clara, mas é aquele tipo de história que já vimos aos montes por aí. Esse detalhe não tira o mérito do livro, mas algumas passagens, como os relacionamentos amorosos de Kya, são cansativos e bem irreais em determinados momentos. Aquele amor romântico idealizado me deixa um pouco cansada.

Porém, fazia muito tempo que não me empolgava com um livro, então aconselho bastante a leitura de Um Lugar Bem Longe Daqui. 

E você, já leu? O que achou? Conta pra gente!

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