Resenhas  |  15.10.2022

Resenha: Minha Querida Sputnik – Haruki Murakami

Minha Querida Sputnik, de Haruki Murakami, é um livro sensível que contempla, acima de tudo, a solidão. Esse não foi meu primeiro contato com o autor japonês, já havia lido Sul da Fronteira, Oeste do Sol e, mais recentemente, assisti ao filme Drive My Car, baseado em um conto homônimo do autor.

Por ter amado o filme e lembrado de como Murakami consegue tratar de temas profundos com uma linguagem acessível, comprei o e-book de Minha Querida Sputnik. E o livro é justamente aquilo que eu buscava: uma trama sensível, com personagens complexos e relacionamentos disfuncionais.

Se você conhece o autor, sabe que ele exibe traços de realismo fantástico em suas obras. Por isso, o que parece uma história “realista”, ganha toques surreais, evocando diversas reflexões.

Veja a sinopse:

“Em Minha Querida Sputnik, Haruki Murakami nos apresenta um Japão de restaurantes sofisticados e cores vibrantes, e nos leva ao centro de um triângulo amoroso arrebatador e, ao mesmo tempo, incomum. K. é um jovem professor que vive em Tóquio e é apaixonado por Sumire, sua melhor amiga, uma garota que largou os estudos para se tornar escritora. A vida dela se resume aos livros: eles não só definem o seu dia a dia de leitora voraz como também o modo de se vestir.

Mas a chegada de Miu, empresária bem-sucedida e casada, muda o destino de todos. Sumire é tomada por uma paixão avassaladora e, seguindo Miu aonde ela for, acaba criando para si uma armadilha aparentemente sem saída. E K., fascinado por Sumire e nunca correspondido, fará o impossível para salvá-la.

Minha Querida Sputnik é uma história de amor e mistério. A solidão e a fragilidade dos relacionamentos são protagonistas neste romance sedutor, em que Murakami constrói um triângulo amoroso poucas vezes visto na literatura.

Essa sinopse resume muito bem a trama do livro. Os acontecimentos fantásticos começam após 70% da leitura: o que acompanhamos antes são as conversas, sentimentos e reflexões de K, que narra a história por sua perspectiva.

K é apaixonado em Sumire. Eles são amigos que compartilham tudo, são tão íntimos que parecem compartilhar da mesma alma. No entanto, Sumire é uma jovem aspirante a escritora, que nunca sentiu nenhum tipo de atração sexual, até conhecer a empresária Miu, uma mulher exuberante e requintada. Elas se conheceram em uma festa de casamento e, depois de conversarem bastante, Miu convida Sumire a se tornar sua assistente pessoal.

Como Miu viaja muito, precisa de alguém para ajudá-la. Por estar completamente enfeitiçada, Sumire aceita, a fim de ficar mais próxima de Miu. Porém, a empresária é casada e não demonstra sentir reciprocidade por Sumire. E tudo fica ainda mais difícil, porque K. sabe de tudo isso, mas não pode contar a Sumire o quanto é apaixonado por ela.

Enfim, um grande triângulo amoroso, confuso, disfuncional, como já citei antes.

Resenha: Minha Querida Sputnik - Haruki Murakami
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

K amava Sumire, que amava Miu, que não amava ninguém.

E no meio disso, Murakami consegue construir uma atmosfera de sensualidade misturada com a sensação de vazio existencial. Essas personagens mantém relacionamentos, mas no fundo estão sempre a sós com seus pensamentos. São pessoas isoladas, tristes e resignadas com suas vidas cotidianas, que buscam umas nas outras qualquer sensação de afeto e proximidade.

Para comprar o livro, é só clicar na imagem abaixo:

“Por que as pessoas têm de ser tão sós? Qual o sentido disso tudo? Milhões de pessoas neste mundo, todas ansiando, esperando que outros as satisfaçam, e contudo se isolando. Por quê? A terra foi posta aqui só para alimentar a solidão humana?”

p. 162

Eu gosto muito do jeito que o autor conduz a narrativa. Entre descrições de músicas clássicas, citações a autores, representações de lugares e atmosferas, somos arrastados para dentro desse elo entre K, Miu e Sumire. Se você nutre paixão por cultura (música, literatura, até gastronomia), vai acabar se encantando por esse livro. Mas já adianto que o final é aberto, há bastante espaço para interpretação.

De modo que é assim que vivemos as nossas vidas. Não importa quão profunda e fatal seja a perda, o quão importante fosse o que nos roubaram — que foi arrebatado de nossas mãos —, mesmo que mudemos completamente, com somente a camada externa da pele igual à de antes, continuamos a representar as nossas vidas dessa maneira, em silêncio. Aproximamo-nos cada vez mais do fim da dimensão do tempo que nos foi estipulado, dando-lhe adeus enquanto vai minguando. Repetindo, quase sempre habilmente, as proezas sem fim do dia a dia. Deixando para trás uma sensação de vazio imensurável.

p. 187

A sensação do vazio existencial está sempre presente. Muitas reflexões acerca da nossa própria existência, até mesmo do mundo dos sonhos e da nossa percepção de realidade. É um livro que, a princípio, parece apenas um triângulo amoroso. Mas os acontecimentos fantásticos, que não vou mencionar para não atrapalhar, tornam a experiência da leitura ainda melhor.

Apesar de Murakami ser um autor que se repete um pouco (as personagens de suas obras são bem parecidas, mesmo tendo lido pouco já deu para notar esse padrão), gostei muito de Minha Querida Sputnik. Espero que você tenha a mesma sensação que eu tive durante a leitura.

NOTA:

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*Última atualização em 4 de março de 2024

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