Resenhas  |  29.09.2018

Resenha: Noites Brancas – Fiódor Dostoiévski

Noites Brancas é uma novela de Dostoiévski, de 1848, um pouco antes de o autor ser preso e mudar radicalmente seu estilo literário.

A história se passa em São Petersburgo, no século XIX, em que um homem solitário vaga pela cidade, deixando que os sentimentos passem por ele, enquanto caminha pelas ruas, esquinas e calçadas.

Resenha: Noites Brancas - Fiódor Dostoiévski
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

Um dia, durante uma caminhada noturna, encontra uma mulher chorando, encostada no parapeito de um canal. Ao ajudá-la, começa a se aproximar da moça e dá início a um amor terno e delicado pela jovem chamada Nástienka.

A tênue claridade das noites de verão na Rússia é quase como uma personagem da trama, e, quanto mais o narrador (anônimo) se aproxima de Nástienka, mais parece se afastar de sua vida anterior.

A narrativa envolve quatro encontros dos dois, e a intimidade entre eles só cresce. O amor começa a surgir – principalmente da parte do narrador – e aumentar, até que um acontecimento altera o rumo dessa conturbada relação. O desfecho do livro é de cortar o coração – e aposto que muitas pessoas vão se identificar com o protagonista.

A novela de 1848 é vista como uma das obras-primas de Dostoiévski no gênero breve, em um estilo bem diferente daquele encontrado em Crime e Castigo. Confesso que passou longe daquilo que imaginei: é um romantismo exagerado, melancólico, dramático. A própria personalidade do narrador sem nome e de Nástienka remonta àqueles romances recheados de melodrama, intensos, com palavras doces e apaixonadas, quase surreais.

Resenha: Noites Brancas - Fiódor Dostoiévski
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

As noites brancas de São Petersburgo, segundo o prefácio de Rubens Figueiredo, se referem a um fenômeno climático que marca a cidade em certa fase do verão: o sol nunca chega a se pôr completamente e as noites conservam uma constante luminosidade de crepúsculo. Essa atmosfera ajuda a diluir as referências do tempo e a “luz branca” confere um contorno onírico e irreal aos personagens e ambientes.

O livro foi escrito em 1848 e o autor foi preso em 1849 – Dostoiévski foi detido em abril de 1849 por participar do Círculo Petrashevski, sob acusação de conspirar contra o czar Nicolau I. O czar mostrou-se, depois das revoluções de 1848 na Europa, vigoroso contra qualquer organização clandestina que pudesse pôr em risco seu reinado. Foi apenas 10 anos depois, no final de dezembro de 1859, que o autor regressou com sua família (sua esposa e o enteado) a São Petersburgo.

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O retorno não foi dos mais fáceis, tendo em vista que sua longa ausência não só o afastou dos antigos contatos de São Petersburgo, como também de toda a produção cultural russa, incluindo a literatura e o jornalismo, uma vez que o acesso aos livros era bem difícil durante o tempo em que cumpriu pena. Isso foi determinante para que o autor mudasse radicalmente seu estilo, deixando de lado o viés romântico que usou no passado.

Portanto, pode-se dizer que a novela Noites Brancas é um marco na carreira do escritor – e por isso uma obra importante do gênero. Como é bem curtinha e se passa em poucos cenários, também já foi adaptada para o teatro, o que com certeza deve ser uma experiência interessante. Se você já assistiu à peça, não esqueça de nos contar o que achou!

Essa edição da Penguin traz também o conto Polzunkov como apêndice, escrito no mesmo ano, que mostra uma faceta mais caricata de Dostoiévski.

Para ser bem sincera, foi um livro que não me surpreendeu e não me tocou. Entendo sua importância, mas já prefiro, por exemplo, O Jogador, que tem uma proposta mais interessante.

E você, já leu? Comente!

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*Última atualização em 12 de março de 2024

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