Resenhas  |  28.11.2020

Resenha: O Amante – Marguerite Duras

O Amante, de Marguerite Duras, é um livro com tantas camadas que demorei para digerir. Fiz uma leitura lenta, apesar de o livro ter apenas 128 páginas, e tentei ao máximo me atentar aos mínimos detalhes da prosa. Não é um livro difícil, mas não é o tipo de leitura que flui rapidamente.

Resenha: O Amante - Marguerite Duras
FOTO: Isabela Zamboni | Resenhas à la Carte

Veja a sinopse:

Prêmio Goncourt em 1984, com mais de 2 milhões e meio de exemplares vendidos apenas na França, este romance autobiográfico acompanha a tumultuada história de amor entre uma jovem francesa e um rico comerciante chinês na Indochina pré-guerra. Com uma prosa intimista e certeira, Duras evoca a vida nas margens de Saigon nos últimos dias do império colonial da França e relembra não só sua experiência, mas também os relacionamentos que separaram sua família e que, prematuramente, gravaram em seu rosto as marcas implacáveis da maturidade.

A estrutura do livro é complexa: lemos fragmentos que alternam passado, um passado posterior e também o presente da lembrança. A narradora, já com 70 anos, relembra de fatos de sua juventude, quando morava no Vietnã (antiga Indochina francesa) e foi amante de um homem chinês. A jovem é apresentada pela narradora como uma estudante de liceu de apenas 15 anos, que tem uma relação complicada com a família.

Os momentos são confusos, porque o tempo da obra é o tempo da memória. E memórias não são confiáveis, são fragmentadas. É assim que Marguerite Duras tenta reconstruir os rostos, seus e das outras pessoas que viveram naquela época, mesmo que não consiga se lembrar como eram.

“Nunca escrevi, e pensei que escrevia, nunca amei, e pensei que amava, nunca fiz nada a não ser esperar diante da porta fechada.”

A jovem, uma adolescente com rosto de menina, sabia de seu potencial para atrair homens e, assim, poderia encontrar “uma forma de levar dinheiro para dentro de casa”. Sua mãe era uma professora viúva, que perdeu muito dinheiro ao comprar terras que se tornaram infrutíferas. Essa mãe, que, “reprova a conduta da filha, mas vê nela uma possibilidade de ganhar dinheiro” é uma personagem complexa e ambígua. Nos fragmentos do passado e presente, a narradora descreve a mãe de vários modos, demonstrando uma relação afetuosa e ao mesmo tempo odiosa. Ela ama sua mãe, mas também a despreza.

Resenha: O Amante - Marguerite Duras
FOTO: Isabela Zamboni | Resenhas à la Carte

Enquanto O Amante é a história de uma menina que inicia o amadurecimento sexual muito cedo, também é sobre o conflito da personagem com a família. O irmão mais velho, o queridinho da mãe, é violento, cruel e viciado; enquanto o irmão mais novo é descrito como um jovem franzino e abatido. Essas memórias, que são frequentemente comparadas a um álbum de fotografias, são melancólicas, duras, como se a autora revisitasse uma vida cheia de percalços e dores que ficaram enterradas, mas agora voltaram à tona.

Outras personagens femininas também são descritas durante as memórias de Duras, apresentando relações complicadas com os filhos. Embora a força de O Amante resida nas experiências que marcaram a vida de Duras — sempre rodeadas pelo amor que nutria (sem perceber) pelo milionário chinês —, as relações estreitas entre mulheres também são uma espécie de homenagem da autora à sua própria mãe.

“Vou escrever livros. É o que vejo para além do instante, no grande deserto que se afigura como a extensão de minha vida.”

Segundo o posfácio de Leyla Perrone-Moises, presente na edição da Planeta, parte da obra é a transposição das experiências existenciais da autora. Os elementos são autobiográficos, mas não sabemos em que medida os acontecimentos são de fato verdadeiros. Inclusive, a narrativa de Duras é considerada uma “escrita da alta modernidade poética, experimental, musical, fragmentária, mais alusiva do que representativa”. 

Outro fator muito interessante levantado por Leyla Perrone-Moises é sobre a simbologia do rio Mekong, que “arrasta, em seu fluxo torrencial, todos os detritos e todas as carcaças em direção ao Pacífico, aludindo ao tempo, à vida e à ruína da família.”

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Inclusive, o livro foi bastante comentado na mídia na época de sua publicação, em 1984. A obra, envolta em polêmicas por explicitar o sexo entre uma moça de 15 anos com um homem mais velho, perdurou por anos. Foi adaptado para o cinema em 1991, por Jean-Jacques Annaud, apesar das críticas da autora, que não gostou da interpretação do diretor.

Veja o trailer:

Gostei bastante da leitura e recomendo, principalmente para quem tem vontade de conhecer o estilo dessa autora incrível que é Marguerite Duras.

NOTA:

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*Última atualização em 6 de março de 2024

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1 Comentário “Resenha: O Amante – Marguerite Duras”
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  1. Pousada Nerd      04 dez 2020 // 12H02

    Olá, tudo bem?

    Tenho acompanhado seu blog há algum tempo e recentemente fiz uma lista de blogs literários ativos em 2020, que está disponivel na Pousada Nerd. Coloquei seu blog na lista como ele aparentemente está ativo.

    Estou pensando em criar uma iniciativa para realizar sorteios e estimular os comentários nos blogs participantes, se tiver interesse, diga um oi no nosso site. Estarei acompanhando seu trabalho.

    Um abraço

    Marcos Mariano/Pousada Nerd

    https://www.pousadanerd.com/174-blogs-literarios-para-buscar-parcerias/