*Atualizado em 7 de março de 2024
Só de ler ou ouvir o nome Fantasma da Ópera, automaticamente já ouço o som do órgão tocando aquelas notas que a princípio soam aterrorizantes, mas aos poucos transformam-se em uma música viciante. Não sabe do que estou falando? Então ouça:
“The phantom of the opera is there…inside my mind”
O musical criado por Andrew Lloyd Webber é tão famoso que fica impossível não referenciá-lo antes de começar a resenha do livro de Gaston Leroux. Uma das histórias de terror e amor mais famosas do século XX, O Fantasma da Ópera mescla romance e suspense para narrar o triângulo amoroso entre a talentosa cantora lírica Christine Daaé, o frágil e apaixonado visconde Raoul de Chagny e o sinistro e obcecado gênio da música que habita os porões do teatro.
O livro tem um teor histórico: a narrativa conduz o leitor pelos labirintos da Ópera sob o ponto de vista de um historiador/jornalista. Os acontecimentos são relatados aos poucos, em alguns momentos de forma não-linear, como se fossem fragmentos de um quebra-cabeça. No começo do livro, confesso que demorei para engatar na leitura, porque é um pouco maçante. Mas depois dos três primeiros capítulos, a história flui e não dá mais vontade de parar!
Clique na imagem abaixo para comprar:
O Fantasma é um ser misterioso que apresenta-se para Christine Daaé como se fosse um verdadeiro Anjo da Música. Christine é a típica mocinha ingênua, pura, idealizada e romantizada, que precisa sempre de alguém para salvá-la. Prometendo ensiná-la a cantar como ninguém, Christine cai nas graças do Fantasma, que se aproveita da situação e declara que a moça é “somente sua”, impedindo que ela tenha uma vida normal.
O visconde Raoul é um amigo de infância apaixonado por Christine que tenta conquistar seu amor, mas precisa compreender se esse amor é recíproco ou se a cantora se entregou 100% ao Fantasma. Ele é um personagem insistente, que nunca se convence de que Christine não o ama, além de ser fraco e bastante dramático. Confesso que esse triângulo amoroso mais me irritou do que qualquer outra coisa, mas precisamos relevar, já que o livro foi escrito em 1910, em um contexto bem diferente do que vivemos hoje.
A parte mais interessante de O Fantasma da Ópera é tentar entender quem é o Fantasma, os motivos que o levam a agir com tanto ódio e violência (não lembrava que ele era tão psicopata, o livro o mostra como um ser asqueroso e maligno) e como ele consegue passar pela Ópera sem ser notado, fazendo com que todos questionem se ele realmente existe.
“Meu amigo, há uma virtude na música que faz com que não exista mais nada no mundo exterior fora daqueles sons que vêm tocar o coração de quem ouve.”
Além do trio principal, outros personagens integram a história com relativa importância, especialmente os diretores da Ópera. Estes assumem o comando do teatro sem imaginar o quanto teriam que sofrer com as ameaças do Fantasma. Há uma sutil crítica de Leroux aos franceses e ao estilo de vida dos parisienses em determinados momentos, como na passagem abaixo:
Quem não tiver aprendido a pôr uma máscara de alegria sobre suas dores e o disfarce da tristeza, do desgosto ou da indiferença sobre sua alegria íntima nunca será um parisiense. Se você descobrir que um de seus amigos está prostrado, não tente consolá-lo: ele dirá que já foi reconfortado. E, se acontecer algo de bom para ele, evite felicitá-lo: como acredita ter boa sorte natural, ele ficará admirado que alguém lhe fale sobre isso.
O Fantasma da Ópera também traz muitas referências musicais, principalmente de peças de teatro, óperas famosas e artistas consagrados da época. O livro ainda apresenta comentários do narrador sobre obras francesas e, em determinados momentos, acredito que faltaram notas de rodapé e contextualizações nessa edição da L&PM Pocket.
Cheguei até a ignorar algumas partes, porque sabia que não iria entender os diálogos. A importância dada à música e ao teatro pelos personagens e a sociedade da época torna-se quase inexplicável nos dias de hoje.
É importante ressaltar também que o Fantasma tem uma doença inexplicável de nascença, que o transformou em um “monstro” aos olhos da sociedade. Por ter um rosto cadavérico e assustador, sempre manteve-se isolado e na mais profunda tristeza, usando uma máscara para disfarçar sua feiúra.
Nunca foi amado por ninguém – nem sua mãe – e viu em Christine uma chance para conhecer o amor. Apesar de ser um psicopata, o pano de fundo do protagonista é cruel – uma característica comum dos romances góticos.
Além do musical, há também um filme de 2004 estrelado por Gerard Butler. E vamos combinar que de feio e assustador, esse Fantasma não tem nada, né?
Se você gosta de histórias com pano de fundo gótico, com muita música, romance, drama e terror misturados, vai encontrar no Fantasma da Ópera um prato cheio! Recomendo!
Nota:
Isabela Zamboni Moschin é jornalista, especialista em Língua Portuguesa e Literatura e mestre em Mídia e Tecnologia. Adora café, livros, séries e filmes. Atualmente, trabalha como Analista de Conteúdo na Toro Investimentos