Resenhas  |  15.05.2017

Resenha: O Primeiro e o Último Verão – Letícia Wierzchowski

Sempre tive curiosidade de ler algo escrito por Letícia Wierzchowski, responsável pelo famoso A Casa das Sete Mulheres – que chegou a ser adaptado para a TV – e mais de 25 ficções. Apesar de ter Sal (de sua autoria), outros livros acabavam passando na frente na hora da leitura.

Quando comecei O Primeiro e o Último Verão, não sabia o que esperar. A partir da sinopse, notei que seria uma história sobre amadurecimento, e sobre como esse processo – tão peculiar para cada um de nós – acaba, na verdade, funcionando como um rito de passagem bastante comum a todos.

Saímos da duna de mãos dadas, e acho que nunca me senti tão adulta como naquele instante. Eu tinha beijado o Deco. Não apenas uma, mas duas vezes. Era como se eu tivesse passado por um misterioso ritual de iniciação e tivesse sido aprovada – minha infância parecia ter ficado realmente para trás, escondida sob um cômoro de areia num canto qualquer da praia de Pinhal. (p. 36)

A história, narrada pela personagem Clara, tem uma premissa simples: um recorte da vida da garota durante seus 14 anos. Anualmente, entre dezembro e fevereiro, Clara e a família viajavam rumo ao litoral norte gaúcho para relaxar e encontrar amigos na Praia do Pinhal.

Lá, a garota ficava hospedada na casa de praia da família, construída por seu avô há muitos anos. Assim como a casa tem alicerces que a moldam, alguns acontecimentos vão marcando a vida de Clara e moldando suas escolhas, reações e futuro. Dores e amores de uma idade onde começamos a descobrir quem somos e qual o nosso papel no mundo (um dia a gente descobre?).

Fiquei ali parada, no meio da sala. Eu tinha um amor novo em folha e bem vivo dentro de mim, e doía testemunhar aquilo. Meus pais. Eles já não se queriam ou, ao menos, já não se achavam. Pareciam tatear no escuro de um casamento dolorido, prestes a se desfazer. (p. 48)

É impossível ler O Primeiro e o Último Verão e não se identificar, principalmente se você nasceu na década de 90 ou pouco antes dela: provavelmente é o momento histórico do livro – que cita o envio de cartas, as ligações feitas em telefones no meio da sala de estar (o único da casa), as brincadeiras de rua, entre outros – que a maioria dos adultos teve contato.

Resenha: O Primeiro e o Último Verão - Letícia Wierzchowski
FOTO: Melissa Marques | Resenhas à la Carte

A escrita é leve e divertida. Confesso que não esperava e fui surpreendida positivamente. O livro dialoga tanto com os mais jovens que, provavelmente, estão vivendo esse tipo de experiência no momento (de formas diferentes das “da minha época”), quanto com quem já transitou por essa fase. As descrições não são muito detalhistas, mas muita coisa subentendida acaba dando um tom mais poético ao livro.

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Resenha: O Primeiro e o Último Verão - Letícia Wierzchowski

A forma como Clara, ainda adolescente, tem que lidar com a morte metafórica do casamento de seus pais, é dolorosa. Ao mesmo tempo em que a garota tem que aprender a lidar com seus problemas, medos e inseguranças.

Mas reconhecia os sinais de crise, como uma tempestade se armando no horizonte, e tentava disfarçar as coisas para proteger minhas duas  irmãs. (p. 53)

A narrativa me lembrou muito Pequenas Grandes Mentiras que, aliás, também se passa em uma praia. Fiquei esperando o desfecho trágico, que chegou de forma rápida e não muito criativa. De qualquer forma, O Primeiro e o Último Verão é um livro nostálgico e cheio de belas metáforas.

Nota:

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*Última atualização em 25 de março de 2024

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