Posso afirmar que Reparação é um dos melhores livros que li nos últimos tempos. Depois de conhecer Enclausurado, do Ian McEwan, gostei tanto do estilo do autor que aproveitei para comprar a obra mais conhecida dele. Não me arrependo, e todo o valor que Reparação recebe é merecido. Isso porque eu já tinha assistido ao filme primeiro (lá em 2008), mas isso não tirou a imersão nem por um segundo!

FOTO: Isabela Zamboni | Resenhas à la Carte
A trama é fascinante e arrebatadora, em diversos sentidos. Mas vou explicar o porquê: a história gira em torno de Briony Tallis, pré-adolescente que nutre a ambição de se tornar escritora. No dia mais quente do verão de 1935, numa casa de campo da Inglaterra, Briony vê pela janela uma cena incompreensível: sua irmã mais velha – Cecilia – tira a saia e a blusa para mergulhar, de calcinha e sutiã, na fonte do quintal, na frente de um amigo de infância – Robbie – filho da arrumadeira da família.
A partir desse episódio e de uma sucessão de equívocos, a aprendiz de romancista, movida por uma imaginação fértil, comete um crime que marcará o futuro de toda a família — e Briony passará o resto da vida tentando desfazer o mal que causou.
Os acontecimentos durante a primeira parte do livro são marcantes: é inacreditável considerar as coisas que Briony faz com sua imaginação fértil de criança mimada. As acusações que ela faz, as cenas que presencia e sua petulância com a família a tornam uma personagem detestável.
No entanto, apesar de cometer muitos erros, ao longo de toda a história ela tenta repará-los, mesmo que não tenha a coragem necessária para isso. O nome “reparação” não é à toa, já que todos os personagens tentam, de alguma forma, reparar ou remendar tudo aquilo que é – ou foi – quebrado em suas vidas.
O livro aborda assuntos intensos, como a culpa, o perdão, os horrores da guerra, o amor que ultrapassa qualquer barreira, a esperança que vive no coração dos personagens, além de tratar também de temas como desigualdade, ascensão social e ambição. Não estou exagerando, Reparação é sobre tudo isso, mesmo!

FOTO: Isabela Zamboni | Resenhas à la Carte
Mas o mais interessante no estilo de Ian McEwan são as sutilezas: considerando que Briony é a protagonista que sempre sonhou em ser escritora, a obra propõe diferentes apontamentos em relação à própria natureza da literatura, seus poderes e limitações. A metalinguagem é constante, além da relação entre ética e estética. A sofisticação do autor é notável, sempre tecendo a trama com suas minúcias e pequenos detalhes, transformando a narrativa em um drama intenso.
Também não posso deixar de comentar sobre o romance visceral em Reparação: Cecilia e Robbie, apesar dos acontecimentos trágicos que rondam suas vidas, formam um casal apaixonado daqueles de aquecer o coração.
O tempo todo torcemos para que fiquem juntos, superem as tristezas e pesos que carregam nas costas e, praticamente o livro inteiro separados por conta da Segunda Guerra, é quase possível sentir a dor e as aflições dos personagens. Sem contar que os horrores da guerra são narrados de forma brutal e realista, tornando impossível não sofrer durante a leitura. Não espere uma leitura suave, apesar da escrita envolvente do autor.
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O livro é separado por partes: os acontecimentos do verão de 1935, a Segunda Guerra e, logo no finalzinho, há um grande salto no tempo, para 1999. Não vou contar detalhes para não perder a graça, mas na hora que li essa parte, a melancolia que bateu foi tão grande, que precisei fazer uma pausa. Reparação mexeu demais comigo e não conseguia parar de pensar nos personagens e naquela história arrebatadora por dias.
Aproveitei então para rever o filme com Keira Knightley, James McAvoy e Saoirse Ronan, traduzido no Brasil como Desejo e Reparação. Confesso que fiquei bem feliz com a adaptação, que trouxe a essência do livro. Porém, se você ficou com vontade de ler, não recomendo assistir ao filme primeiro, porque perde bastante a graça.
Confira o trailer de Desejo e Reparação:
Reparação mostra como pequenos atos que parecem inofensivos podem não apenas afetar e marcar profundamente a vida de alguém, mas trazer amargos arrependimentos. Briony é uma personagem que luta contra seus demônios, depois da terrível escolha que fez durante sua fase de pré-adolescente. E até durante a fase adulta a protagonista ainda é uma pessoa egocêntrica e covarde – apesar de praticamente ter acabado com a vida de Cecilia, por quem nutria bastante afeto, ainda sentia medo de admitir suas falhas e pedir perdão.

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Infelizmente só encontrei o livro com a capa do filme, mas essa edição é ótima! Como ela foi feita para ser econômica, as letras são um pouco pequenas, mas nada que incomode demais. Terminei a leitura em poucos dias, apesar de ficar emocionalmente afetada (haha)! Recomendo bastante para quem procura uma obra de tirar o fôlego.
Nota:
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Isabela Zamboni Moschin é jornalista, especialista em Língua Portuguesa e Literatura e mestre em Mídia e Tecnologia. Adora café, livros, séries e filmes. Atualmente, trabalha como Analista de Conteúdo na Toro Investimentos
Obrigado pelo comentário. Acabo de ler o livro, concordo com suas impressões.
Obrigada Francisco, volte sempre!