Resenhas  |  24.04.2023

Resenha: Mário e o Mágico – Thomas Mann

*Atualizado em 13 de março de 2024

Eu sempre quis ler uma obra de Thomas Mann, mas ainda não havia iniciado nenhuma. Ouvi falar muito bem do autor e tinha vontade de ler A Montanha Mágica ou Os Buddenbrook, por exemplo, mesmo sabendo que não seria uma leitura fácil de acompanhar. Entretanto, a novela Mário e o Mágico foi uma ótima porta de entrada para o estilo do autor.

O livro em si é bem curtinho e traz a visão de uma família alemã em férias na Itália, presenciando momentos incômodos e situações que remontam ao início do fascismo europeu. O livro foi publicado em 1930, pouco antes da ascensão de Hitler ao poder na Alemanha, mas já mostra a preocupação do autor com os sinais que começam a surgir de um nacionalismo exacerbado.

Leia a sinopse:

“Irritabilidade, raiva e um humor peculiarmente malicioso caracterizam as férias em família do narrador de Mário e o mágico em Torre di Venere, na Itália. A inquietação dos personagens aumentará pela presença do infausto Cipolla, um ilusionista cuja performance é aterrorizar e humilhar seu público, subjugando-o à sua própria revelia. Em um ataque direto à dignidade humana, a apresentação encontra sua vítima perfeita no garçom Mário, que deve se submeter às vontades do mágico sem restrições ― até que uma tragédia se instaura.

Esta novela de Thomas Mann pode ser considerada como uma das primeiras obras da literatura mundial a captar com precisão aspectos fundamentais da mentalidade que propiciou o alastramento do fascismo no século XX, ecoando sua vigorosa advertência toda vez que se delineia, ainda hoje, a ameaça de um novo Cipolla.”

Inclusive, a própria sinopse reforça que “a novela Mário e o mágico retrata ― a partir das atitudes cruéis de um obscuro ilusionista ― o gérmen do fascismo na Europa do século XX.”

Para comprar o livro, é só clicar na imagem abaixo:

Resenha: Mário e o Mágico - Thomas Mann
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

O narrador do livro nos conta como foram suas férias de verão em Torre di Venere, na Itália. Logo no início, já sabemos que ele se sente incomodado com algumas situações que ocorrem na cidade, especialmente no hotel em que são hospedados.

Eles não podem sentar-se em determinadas mesas do hotel, que estão destinadas a outras pessoas (hóspedes italianos); a filha pequena do narrador é recriminada na praia por outras famílias por tirar rapidamente o maiô, apenas para limpar a areia da roupa de banho e colocá-la novamente em seguida; havia algumas crianças maldosas que corriam pela praia e faziam algazarras desnecessárias, rudes e grosseiras; uma hóspede do hotel (que tinha bastante dinheiro) não quis que eles permanecessem próximo ao seu quarto porque o filho do narrador estava com uma leve tosse; entre outras situações constrangedoras.

Mas o ponto alto é a apresentação do mágico Cipolla, um homem que aterroriza o público e traz falas problemáticas no meio de suas performances. O incômodo é latente: enquanto acompanhamos a narrativa, sentimos cada vez mais asco do ilusionista, um homem cheio de si, violento e completamente apegado aos ideais fascistas e nacionalistas.

Ao final da apresentação (um verdadeiro show de horrores) acontece uma tragédia. Não vou contar detalhes para não atrapalhar a experiência da leitura, mas gostaria de afirmar que o posfácio de Marcus Vinicius Mazzari, nessa ótima edição da Companhia das Letras, é imprescindível.

Após a curta novela, temos um longo ensaio que explica em detalhes tópicos como:

  • A hipnose do fascismo;
  • A gênese de Mário e o Mágico;
  • A perspectivação novelística;
  • O último ato da “experiência trágica de viagem”;
  • Nacionalismo e engajamento antifascista;
  • O fascismo na obra de Thomas Mann;
  • E muito mais.

Se durante a leitura de Mário e o Mágico já ficamos perplexos, ao entender melhor o contexto literário, a obra torna-se ainda mais grandiosa. Portanto, se você busca uma leitura com reflexões éticas, sociais e políticas, além de praticamente atemporal, recomendo bastante o livro de Thomas Mann.

NOTA

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