*Atualizado em 6 de março de 2024
O Peso do Pássaro Morto, de Aline Bei, é o romance de estreia da autora. Só tenho elogios, pois é a primeira vez que leio um romance contemporâneo tão bem escrito, profundo e tocante.
Aline Bei começou sua carreira há pouco tempo, mas tem um potencial enorme para grandes feitos, ainda maiores que seu primeiro livro.
Comecei a leitura do livro achando a personagem, com apenas 8 anos, uma garota criativa, fofa, amorosa, encantadora. Mas conforme as tragédias vão se instalando na vida da protagonista — cujo nome não sabemos — a leitura torna-se densa, intrigante e te suga para dentro da história.
Para começar, esta é a sinopse do livro:
“A vida de uma mulher, dos 8 aos 52, desde as singelezas cotidianas até as tragédias que persistem, uma geração após a outra. Um livro denso e leve, violento e poético. É assim O peso do pássaro morto, romance de estreia de Aline Bei, onde acompanhamos uma mulher que, com todas as forças, tenta não coincidir apenas com a dor de que é feita.”
Acompanhamos, portanto, em 168 páginas, a vida de uma mulher dos 8 aos 52 anos e um epílogo. Uma pessoa que passou por muitas perdas, dificuldades e tristezas, principalmente psicológicas. Desde a infância até o dia de sua morte, a personagem sem nome precisa passar por um turbilhão de sentimentos, desde ódio, revolta, culpa e, principalmente, incapacidade de amar.
A carga do livro é bem grande. Chorei em muitos momentos; não conseguia deixar de sentir uma grande empatia pela personagem. O texto é um misto de prosa com poesia, rompendo com a linearidade da escrita. As falas e pensamentos se intercalam, sentimos as angústias da mulher junto com ela.
Um determinado momento do livro mexeu muito comigo. Trata-se da adolescência da mulher. A ordem dos acontecimentos e suas consequências agem como uma facada no peito. A autora soube como chocar, mas sem perder o tom. Porém, como o livro é curto e a leitura bem fluida, não vou contar detalhes para não dar spoiler.
“imaginar o mundo deve ser mais bonito mesmo.”
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O Peso do Pássaro Morto foi vencedor em 2018 do Prêmio São Paulo de Literatura, na categoria estreante. Li também que a autora baseou-se no poema “A Arte de Perder”, de Elizabeth Bishop e no romance “Aos 7 e aos 40”, de João Anzanello Carrascoza. Percebe-se que Aline Bei tem uma grande bagagem literária e consegue trazer com delicadeza os dissabores e perdas de sua personagem principal.
“o problema foi a perda da parte de mim que acreditava, vazou no banho um dia pelo ralo, escorreu e a água rápida mandou pro cano que levou pro rio.”
Conforme a personagem envelhece, as palavras tornam-se mais ásperas e cruéis. Uma pessoa que sempre foi rodeada de tragédias, com o tempo fica ainda mais craquelada. Da infância à vida adulta, essa personagem tenta, com o que lhe resta, fazer da vida algo suportável.
Descobri O Peso do Pássaro Morto no Kindle Unlimited e aproveitei para adquirir o livro físico também. Separei algumas frases que gostei bastante:
“as mulheres abusadas nas trincheiras e nos viadutos não estão nos livros de história. os ditadores sim todos em itens numa longa biografia.”
“tenho amigos que não morreram mas é como se eles tivessem morrido, ninguém se fala apesar de ser possível.”
“são muitas as horas na mesa de trabalho e o mundo lá fora, esperando, tem o que no mundo quando há tempo pra ver?”
“trabalho é por tantas vezes a maior tristeza da vida de uma pessoa e é só nisso que certos pais pensam, no filho crescendo e sendo alguém sendo que esse ser alguém envolve tudo menos Ser.”
“aqui nada é meu, igual a todos os outros lugares. a rua era minha só na criança que fui, de resto que mundo estrangeiro.”
“não ver alguém nunca mais por questões sentimentais doía menos do que não ver alguém nunca mais porque a pessoa deixou de existir.”
E você, já leu? O que achou? Conta pra gente nos comentários!
NOTA:
Isabela Zamboni Moschin é jornalista, especialista em Língua Portuguesa e Literatura e mestre em Mídia e Tecnologia. Adora café, livros, séries e filmes. Atualmente, trabalha como Analista de Conteúdo na Toro Investimentos