Fabio Brust é autor de distopias e aposta no digital para a divulgação de seu novo livro Deuses & Feras. Confira a entrevista completa:
Resenhas: Conte um pouco mais sobre seu novo livro, “Deuses & Feras”…
Fabio: “Deuses e Feras” é uma história sobre Internet e governo. Basicamente é uma distopia young-adult, a exemplo de diversas outras espalhadas pelas livrarias, como “Jogos Vorazes” e “Divergente”, só para citar as mais conhecidas. Ao mesmo tempo, tentei captar um pouco da essência das distopias originais (entre elas, “1984”, “Admirável Mundo Novo” e “Fahrenheit 451”), com aquela atmosfera pesada e a sensação de que alguma coisa de errado vai acontecer no virar da página! Pra conseguir isso, transformei o mundo em um lugar repleto de cidades-Estado governadas, todas, pelo mesmo Estado virtual, situado na Internet. Basicamente as pessoas são controladas por meio de dispositivos semelhantes a smartphones implantados em seus braços – uma analogia para o vício cada vez mais presente nesse nosso mundo de hoje de pessoas que veem seus celulares como uma extensão de si mesmas.
Na história, o narrador é um ladrão e, a protagonista, uma assassina. Cada pessoa possui uma função determinada na Teia – o nome dado ao Estado virtual – e ambas as personagens precisam cumprir com objetivos previstos. O problema é que os dois são pares um do outro, ou seja, precisam se relacionar sexualmente como uma obrigação. E, a partir disso, eles descobrem tramas muito mais complexas e tentam, de alguma maneira, se desvencilhar do que é destino, do que é fatal.
Resenhas: Seu primeiro livro publicado (Agora eu morro) e seu mais novo livro (Deuses & Feras) são distopias. Atualmente, houve um “boom” de livros do gênero, principalmente entre os jovens. Para você, o que faz desse gênero um sucesso tão grande?
Fabio: Acho que uma das principais vantagens da distopia é justamente o fato de ela ser uma história de ficção, mas que remete praticamente em sua totalidade à nossa realidade atual. Geralmente são narrativas pessimistas, que veem o nosso futuro como um reflexo de ações nocivas que são praticadas agora. Em “Agora eu Morro”, as ações eram com relação à degradação do meio-ambiente; em “Deuses e Feras”, o uso da Internet como um instrumento de controle. O mesmo acontece com outras distopias, que fazem com que o leitor pense a respeito de sua situação e que tipo de atitude tem para com o mundo ao seu redor, ao mesmo tempo em que contam histórias fantásticas e cativantes!
Resenhas: Desde o lançamento de seu primeiro livro, muita coisa deve ter mudado, certo? Você acredita, por exemplo, que amadureceu como autor?
Fabio: Com certeza! Muita coisa aconteceu, e eu demorei muito mais tempo na produção de “Deuses e Feras”. No total, foram praticamente dois anos e meio trabalhando no livro, enquanto que “Agora eu Morro” me tomou 9 meses. Não que o tempo signifique alguma coisa… mas eu realmente me dediquei a criar o mundo em detalhes, em organizar tudo o que se passaria, em estruturar os capítulos em um esqueleto e tudo o mais. Isso me ajudou bastante a não me perder na história e a manter uma linha bem clara, no enredo! Com toda certeza amadureci, assim como amadureci em outros quesitos, também. Acho que aprender nunca é demais, né?
Resenhas: Você é formado em Produção Editorial. Como esse curso te auxiliou na carreira de autor? Indica para quem quer seguir essa profissão?
Fabio: Olha, o curso me ajudou a entender como o mercado editorial funciona e como a criação do livro como um objeto ou produto funciona. Tecnicamente, eu não aprendi muita coisa sobre ser um autor… eu aprendi como ser um editor. Muitas vezes isso me ajudou (tanto que eu fiz o e-book de “Deuses e Feras” praticamente sozinho, só com a ajuda da Inari Jardani Fraton, minha namorada, que também é formada em Produção Editorial), mas, em outras, até chegou a me atrapalhar. É aquela história de a gente se envolver tanto em uma coisa que acaba esquecendo das outras, certo? Ser um autor-editor é bem complexo e demanda tempo demais! Às vezes é melhor nos focarmos em uma tarefa só. Mas não vou dizer que é ruim, não. Eu gosto muito do meu trabalho – como autor e como editor -, e isso só tem me feito mergulhar cada vez mais fundo no mercado editorial. Cada vez tenho mais certeza de que fui criado pra fazer isso!
Resenhas: Com a sua formação, como você enxerga o mercado editorial atualmente?
Fabio: Enxergo com bastante otimismo! Estamos vivendo uma era tecnológica muito propícia para todo tipo de coisa. Os livros são apenas mais uma dessas coisas. As pessoas compram muitos livros na Internet, vejo cada vez mais feiras de livro espalhadas por todo lado, as pessoas leem na Internet – de graça ou não -, há cada vez mais blogs literários e gente falando sobre livros (vide o próprio Resenhas à la Carte!). E há a tal da questão dos e-books. Eu tinha um medo excessivo de e-books, antes de começar a lê-los e a considerar publicar meu livro nesse formato. Hoje eu vejo que só há vantagens. E-readers são práticos, fáceis de levar na mochila, nem tão caros assim; e os e-books são basicamente o que interessa nos livros: o conteúdo. Ao mesmo tempo eu, como um amante de projetos gráficos e design editorial (considerando o fato de que trabalho com isso, também), vejo uma ascensão dos livros caprichados: capa dura, guarda colorida, miolo bem-acabado e bonito. O que está desaparecendo das livrarias são os livros “descartáveis”, com aquele papel avacalhado e capa mole. Eu acho que não vou sentir falta deles. O e-book e o livro físico vão coexistir. E os livros vão continuar existindo. Nenhuma outra mídia vai aposentá-lo. Claro que isso é o que eu acho. Mas eu, como disse, vejo o mercado com otimismo. Só vejo razões para ele crescer!
++VANTAGENS E DESVANTAGENS DO KINDLE
Resenhas: Como foi a decisão de escrever um livro apenas para o digital?
Fabio: Eu não escrevi o livro pensando no meio digital… quando terminei, inscrevi em um concurso. Evidentemente eu não ganhei. Aí eu fiz o meu trabalho de conclusão de curso sobre autopublicação e vi que era uma ótima alternativa para novos autores. O que pode ser mais meritocrático do que eu mesmo divulgar meu livro e fazer sucesso (se fizer) a partir da qualidade da minha obra? Talvez no futuro eu possa ser chamado por uma editora, talvez não. Por enquanto, acho que me autopublicar é uma sábia decisão, e que tem muito futuro. Torçam por mim!
Resenhas: Ser autor era realmente como você esperava?
Fabio: Acho que é melhor. No começo, pensei que seria uma vida glamourosa e cheia de eventos literários e filas para receber autógrafos. Hoje sei que ser um novo autor é bem mais difícil. A gente tem que se deslocar para eventos por conta própria (é caro!), tem que enfrentar a timidez para falar com os leitores diretamente, tem que trabalhar para conseguir alguma visibilidade. Mas é recompensador. Saber que tem alguém lendo o que eu escrevi é ótimo. Pode ser que a princípio eu não vá ganhar rios de dinheiro com isso, mas acho que esse não é o objetivo. O principal é simplesmente contar uma boa história, e é isso o que me guia.
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Resenhas: Existe alguma dica “concreta” que você possa dar para jovens e novos autores?
Fabio: Cada escritor tem a sua maneira de escrever, então é difícil dar muitas dicas! Mas uma ótima é a de aprender a estruturar a história, a criar um esqueleto. Isso me ajudou muito para não me perder na trama e não ficar preso em algum ponto da narrativa. Agora, para o esqueleto, cada um tem seu jeito. Eu acabei aprendendo a fazer o meu escrevendo cada capítulo em uma folha e colando cada uma delas na parede, para me guiar. Mas pode não funcionar pra todo mundo!
Resenhas: Quais autores (nacionais ou internacionais) te inspiram?
Fabio: Ah, tem diversos autores que me inspiram! Um autor nacional que me inspira muito é o Raphael Montes, por conta da sua criatividade e inventividade na literatura policial e sua grande presença nas redes sociais. Com relação aos internacionais, acho que os que eu mais admiro são autores clássicos – principalmente George Orwell, já que ele escreveu o livro de que mais gosto, “1984”.
Resenhas: Quais são seus planos e projetos?
Fabio: São inúmeros, em diversos âmbitos! Como editor, estou trabalhando para fazer cada vez mais serviços editoriais através da iniciativa Elo Editorial, que criei com alguns colegas e amigos do curso de Produção Editorial. Hoje estamos fazendo serviços para outras editoras, inclusive algumas mais conhecidas do público! Com relação a ser autor, quero continuar escrevendo e botar na prática as ideias que eu arquivei aqui no meu computador. Além disso, estou tentando escrever textos e crônicas, me fazer mais presente nas redes sociais e tudo o mais. Acho que o importante é não ficar parado! 🙂
BAIXE JÁ “DEUSES & FERAS”. É GRÁTIS!
Melissa Ladeia Schiewaldt é jornalista, especialista em Marketing Digital e tem MBA em Gestão de Projetos.