*Atualizado em 14 de março de 2024
A Ilha do Doutor Moreau foi meu primeiro contato com H. G. Wells. Uma das características mais marcantes nas obras do autor é a forma que ele descreve os fatos: é tão verossímil que, muitas vezes, acaba confundindo o leitor.
Logo no começo da narrativa me peguei pensando “Mas, espera, isso aconteceu mesmo? Ele está misturando ficção e realidade? É tudo realidade? É tudo ficção?“. HAHAHA! Deu tela azul aqui, galera.
Em A Ilha do Doutor Moreau conhecemos Pendrick, um náufrago, socorrido por um navio com a tripulação extremamente esquisita – em vários sentidos – e, muitas vezes, hostil. Ele é salvo por Montgomery que, a princípio, se mostra ao menos levemente preocupado com a vida do homem que acabara de salvar.
“É quando o sofrimento encontra uma voz e faz nossos nervos estremecerem que a piedade vem nos perturbar.” p. 40.
Extremamente debilitado, Pendrick é colocado junto com a carga viva do navio, que conta com diversos coelhos, cães do mato, e até um puma. Todos os animais seriam posteriormente levados à uma ilha, a A Ilha do Doutor Moreau.
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Pendrick e o capitão – um beberrão sem perspectivas – têm inúmeras brigas e, por isso, o homem acaba sendo largado novamente no mar, porém, próximo ao destino final de Montgomery e seus animais.
Mais uma vez compadecido com a situação de Pendrick, Montgomery resolve levá-lo junto com sua carga animalesca. É neste momento que a história engata, e conhecemos Dr. Moreau e suas criaturas. A princípio, Pendrick fica confuso e atormentado com os habitantes da ilha e, aos poucos, acaba entendendo o que se passa por lá.
“Seria possível, pensei, que algo como a vivissecção de homens estivesse sendo conduzido ali?” p.53.
A narrativa toma um ritmo mais ágil e cheio de suspense.
H. G. Wells – que era formado em Biologia – acaba trazendo, através da ficção – diversos questionamentos sobre religião, ética científica, moralidade e a dicotomia do instinto versus a consciência.
“Não ficar de quatro; essa é a Lei. Não somos homens?
Não sugar a bebida; essa é a Lei. Não somos homens?
Não comer peixe nem carne; essa é a Lei. Não somos homens?
Não arranhar a casca das árvores; essa é a Lei. Não somos homens?
Não caçar outros homens; essa é a Lei. Não somos homens?
[…]
Dele é a Casa de Dor.
Dele é a mão que faz.
Dele é a mão que fere.
Dele é a mão que cura.”
p. 62.
Em alguns momentos a obra acabou me lembrando muito o famoso A Revolução dos Bichos, obviamente, no que tange a humanização dos animais. Além disso, também há um toque de Frankenstein, ao entendermos as experiências feitas por Moreau, seus anseios, medos e motivações.
“Uma mente verdadeiramente aberta ao que a ciência tem a ensinar deve reconhecer que é uma coisa pequena. Pode ser que, exceto neste pequeno planeta, esta pitada de poeira cósmica, invisível muito antes que se possa alcançar a estrela mais próxima… pode ser, repito, que em nenhum outro lugar exista essa coisa chamada dor.” p. 78.
Uma obra bastante complexa, com um ritmo narrativo que instiga o leitor a sempre estar alerta. Sem contar que, em poucas páginas, podemos perceber a destreza de Wells como autor, além de seus conhecimentos técnicos, que deixam a história ainda mais robusta.
NOTA:
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Melissa Ladeia Schiewaldt é jornalista, especialista em Marketing Digital e tem MBA em Gestão de Projetos.