*Atualizado em 6 de março de 2024
Posso afirmar que Reparação é um dos melhores livros que li nos últimos tempos. Depois de conhecer Enclausurado, do Ian McEwan, gostei tanto do estilo do autor que aproveitei para comprar a obra mais conhecida dele. Não me arrependo, e todo o valor que Reparação recebe é merecido.
Isso porque eu já tinha assistido ao filme primeiro (lá em 2008), mas isso não tirou a imersão nem por um segundo!
A trama é fascinante e arrebatadora, em diversos sentidos. Mas vou explicar o porquê: a história gira em torno de Briony Tallis, pré-adolescente que nutre a ambição de se tornar escritora. No dia mais quente do verão de 1935, numa casa de campo da Inglaterra, Briony vê pela janela uma cena incompreensível: sua irmã mais velha – Cecilia – tira a saia e a blusa para mergulhar, de calcinha e sutiã, na fonte do quintal, na frente de um amigo de infância – Robbie – filho da arrumadeira da família.
A partir desse episódio e de uma sucessão de equívocos, a aprendiz de romancista, movida por uma imaginação fértil, comete um crime que marcará o futuro de toda a família — e Briony passará o resto da vida tentando desfazer o mal que causou.
Os acontecimentos durante a primeira parte do livro são marcantes: é inacreditável considerar as coisas que Briony faz com sua imaginação fértil de criança mimada. As acusações que ela faz, as cenas que presencia e sua petulância com a família a tornam uma personagem detestável.
No entanto, apesar de cometer muitos erros, ao longo de toda a história ela tenta repará-los, mesmo que não tenha a coragem necessária para isso. O nome “reparação” não é à toa, já que todos os personagens tentam, de alguma forma, reparar ou remendar tudo aquilo que é – ou foi – quebrado em suas vidas.
O livro aborda assuntos intensos, como a culpa, o perdão, os horrores da guerra, o amor que ultrapassa qualquer barreira, a esperança que vive no coração dos personagens, além de tratar também de temas como desigualdade, ascensão social e ambição. Não estou exagerando, Reparação é sobre tudo isso, mesmo!
Mas o mais interessante no estilo de Ian McEwan são as sutilezas: considerando que Briony é a protagonista que sempre sonhou em ser escritora, a obra propõe diferentes apontamentos em relação à própria natureza da literatura, seus poderes e limitações. A metalinguagem é constante, além da relação entre ética e estética. A sofisticação do autor é notável, sempre tecendo a trama com suas minúcias e pequenos detalhes, transformando a narrativa em um drama intenso.
Também não posso deixar de comentar sobre o romance visceral em Reparação: Cecilia e Robbie, apesar dos acontecimentos trágicos que rondam suas vidas, formam um casal apaixonado daqueles de aquecer o coração.
O tempo todo torcemos para que fiquem juntos, superem as tristezas e pesos que carregam nas costas e, praticamente o livro inteiro separados por conta da Segunda Guerra, é quase possível sentir a dor e as aflições dos personagens. Sem contar que os horrores da guerra são narrados de forma brutal e realista, tornando impossível não sofrer durante a leitura. Não espere uma leitura suave, apesar da escrita envolvente do autor.
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O livro é separado por partes: os acontecimentos do verão de 1935, a Segunda Guerra e, logo no finalzinho, há um grande salto no tempo, para 1999. Não vou contar detalhes para não perder a graça, mas na hora que li essa parte, a melancolia que bateu foi tão grande, que precisei fazer uma pausa. Reparação mexeu demais comigo e não conseguia parar de pensar nos personagens e naquela história arrebatadora por dias.
Aproveitei então para rever o filme com Keira Knightley, James McAvoy e Saoirse Ronan, traduzido no Brasil como Desejo e Reparação. Confesso que fiquei bem feliz com a adaptação, que trouxe a essência do livro. Porém, se você ficou com vontade de ler, não recomendo assistir ao filme primeiro, porque perde bastante a graça.
Confira o trailer de Desejo e Reparação:
Reparação mostra como pequenos atos que parecem inofensivos podem não apenas afetar e marcar profundamente a vida de alguém, mas trazer amargos arrependimentos. Briony é uma personagem que luta contra seus demônios, depois da terrível escolha que fez durante sua fase de pré-adolescente.
E até durante a fase adulta a protagonista ainda é uma pessoa egocêntrica e covarde – apesar de praticamente ter acabado com a vida de Cecilia, por quem nutria bastante afeto, ainda sentia medo de admitir suas falhas e pedir perdão.
Infelizmente só encontrei o livro com a capa do filme, mas essa edição é ótima! Como ela foi feita para ser econômica, as letras são um pouco pequenas, mas nada que incomode demais. Terminei a leitura em poucos dias, apesar de ficar emocionalmente afetada (haha)! Recomendo bastante para quem procura uma obra de tirar o fôlego.
Nota:
Isabela Zamboni Moschin é jornalista, especialista em Língua Portuguesa e Literatura e mestre em Mídia e Tecnologia. Adora café, livros, séries e filmes. Atualmente, trabalha como Analista de Conteúdo na Toro Investimentos
Sinceramente não acho que Briony tenha tentado de fato reparar absolutamente nada do que fez. Ela foi trabalhar como enfermeira por um período, por autocomiseração, achando que se punir, seria suficiente para reparar alguma coisa (sendo que a própria irmã também estava trabalhando exatamente com a mesma profissão). Mas não contou a verdade para os pais, não mudou seu testemunho, nem sequer pediu perdão à irmã pessoalmente. No fim, ela acha que mantê-los juntos em sua obra literária foi o suficiente pra reparação
Obrigado pelo comentário. Acabo de ler o livro, concordo com suas impressões.
Obrigada Francisco, volte sempre!