Resenhas  |  10.07.2020

Resenha: A Pena e A Lei – Ariano Suassuna

*Atualizado em 10 de outubro de 2024

A Pena e A Lei foi meu primeiro contato com o texto de Ariano Suassuna. Posso dizer que demorei muito tempo para conhecer e que agora não quero mais parar!

Resenha: A Pena e A Lei - Ariano Suassuna
FOTO: Melissa Marques | Resenhas à la Carte

Trata-se de uma peça teatral, dividida em três partes: o primeiro ato “A Inconveniência de ter Coragem”, o segundo ato “O Caso do Novilho Furtado” e o terceiro e último ato, o “Auto da Virtude da Esperança”.

Confira a sinopse:

Em A Pena e a Lei, Ariano Suassuna se mostra mais do que nunca um crítico severo das instituições que transformaram o “Brasil oficial” no país das elites, em detrimento do povo pobre do “Brasil real”. A peça, baseada na tradição popular nordestina dos cordéis e teatro de bonecos, vai do profano ao sagrado, do trágico ao cômico, misturando temas e linguagens na medida certa. Como boa farsa, expõe verdades dolorosas incitando o riso, ao passo que estimula a reflexão sobre a imperfeita justiça dos homens frente à infalível justiça divina.

No início somos apresentados a Cheiroso e Cheirosa – donos de um teatro de mamulengos – que utilizam seus bonecos para entreter o público e iniciar a contação de histórias de seu “incomparável drama tragicômico em três atos” ou ainda “a maravilhosa facécia de caráter bufonesco soberbamente denominada A Pena e A Lei“.

A partir daí, conhecemos os personagens Benedito, Pedro, Cabo Rosinha, Vicentão Borrote, Joaquim, Mateus, João Benício e Padre Antônio. Juntos, eles disputam um amor, um novilho, e até vão parar no céu enquanto julgam o todo-poderoso.

“Muito bem, com alguns dos atores já vistos, mostraremos: letra a: que homens têm que viver com medo da polícia e do inferno; letra b: que, se não houvesse a justiça, os homens se despedaçariam entre si; letra c: que existem casos em que a justiça acerta seus julgamentos…” (p. 74)

Por se tratar de uma peça teatral, no início dos atos Ariano Suassuna comenta o que espera da adaptação, de que forma os personagens devem se portar etc. Isso acaba deixando a leitura ainda melhor, pois realmente conseguimos mergulhar no universo criado pelo autor. Por exemplo, ele comenta que alguns personagens podem ser caricatos: Vicentão pode falar fino, enquanto Cabo Rosinha tem a voz grossa e rouca… entre outras dicas.

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A Pena e A Lei ainda traz algumas canções populares e rimas que auxiliam na caracterização da peça, deixando-a ainda mais rica, além de gírias típicas do nordeste brasileiro.

O livro conta com algumas belas ilustrações de Manuel Dantas Suassuna, porém, não irei mostrar nenhuma aqui para deixar vocês com ainda mais vontade de ler.

Além das ilustrações, o projeto gráfico e a capa, desenvolvidos por Ricardo Gouveia de Melo, também merecem destaque, pois remetem aos famosos cordéis nordestinos.

O texto aborda temáticas corriqueiras – como amores, roubos e trapaças – mas também aborda temas complexos como religião e luta de classes. Tudo isso envolto em um pano de fundo humorístico e extremamente sagaz, como poucas vezes já li!

“Mas não é isso o que ele é? Não é Deus o dono do mamulengo?” (p. 119)

O terceiro ato destoa um pouco da leveza dos demais, porém, não de uma forma ruim. Ele é apenas mais instigante e filosófico. Outro ponto para o autor, pois jamais imaginaria encontrar esse tipo de abordagem no livro.

Em resumo, para quem nunca leu Suassuna, A Pena e a Lei é uma ótima forma de iniciar. Para quem já conhece, é mais um livro imperdível do autor. Mal posso esperar para ler o Auto da Compadecida!

Nota:  

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