*Atualizado em 13 de março de 2024
O clássico da literatura russa, Crime e Castigo, completou 150 anos em 2016, e é um daqueles livros que se mantêm atualizados até hoje. Ele retrata a vida de Rodión Románovitch Raskólnikov, um pobre estudante de direito de São Petersburgo.
Em seu cubículo, que mais parecia um armário do que um apartamento, Ródia (como também é conhecido o personagem), acaba tornando-se uma pessoa apática e que evita ao máximo qualquer tipo de contato social.
Quebrado e necessitando de ajuda para sobreviver, Ródia envolve-se com a velha Aliena Ivánovna, uma agiota. A miséria de Ródia aliada à repugnância da “velha” acabam sendo relevantes para o desenvolvimento da trama, pois trazem à tona seu primeiro desejo de assassiná-la.
Durante Crime e Castigo, Ródia retrata sua visão de como o crime cometido é justificável, pois, segundo o personagem, na história da humanidade, crimes podem se tornar “meios” para atingir um tipo de “bem maior” – algo que seja relevante para a sociedade, por exemplo, ou um tipo de pensamento vanguardista.
Essa ideia é exposta em uma conversa entre Ródia e o juiz de instrução, Porfiri Pietróvitch:
“[…] começando pelos mais antigos e continuando com os Licurgos, Sólons, Maomés, Napoleões etc., todos eles, sem exceção, foram criminosos já pelo simples fato de que, tendo produzido a nova lei, com isso violaram a lei antiga […] Mas se um deles, para realizar sua ideia, precisar passar por cima ainda de que seja de um cadáver, de sangue, a meu ver ele pode se permitir, no seu íntimo, na sua consciência passar por cima do sangue […]” p. 265 – 266
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Se tratando de um clássico como Crime e Castigo, espera-se que seja uma leitura densa, e que o tema tratado torne-o pesado. Porém, o fato de o livro ser denso não o faz chato, muito pelo contrário. Dostoiévski consegue entrar na cabeça do leitor quando insere sua tese-chave. A trama, por si só, já é “labiríntica”, segundo sua própria sinopse.
No entanto, o que chama muito a atenção é a linguagem empregada pelo autor. Sua escrita é única, e varia conforme a ascendência do personagem. Há um certo tom de instabilidade no discurso de Dostoiévski, perfeitamente plausível, afinal, nas palavras do tradutor, Paulo Bezerra:
“[…] Likhatchóv aponta como centrais no estilo do romancista certa instabilidade (zíbkost) e uma sensação de inacabamento […] Desse modo, cria-se a impressão de que ele força, precipita o discurso, é desleixado ou “inapto” […] Tudo isso somado cria uma sensação de indefinição e instabilidade na feitura do discurso, […] cujo fim é estimular no leitor a ideia de inacabamento a fim de levá-lo a tirar suas próprias conclusões. […] e está diretamente associada à instabilidade do mundo e das relações sociais e humanas que sedimenta o conjunto de sua obra. […]” p.569 – 570
Crime e Castigo não é um livro simples. Ele retrata diversas facetas das relações sociais humanas, e mostra como o homem é sujo e vil. Assim como também mostra a luta de diversas personagens para sobreviver em um ambiente hostil como o retratado. Sem dúvida, este é um dos melhores livros que já li. Afinal, não é à toa que, 150 anos depois, esta ainda seja uma obra atual e muito discutida.
Nota:
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Melissa Ladeia Schiewaldt é jornalista, especialista em Marketing Digital e tem MBA em Gestão de Projetos.
Prezada Melissa, muito interessante e construtiva sua resenha. Simples e objetiva, sem perda de conteúdo ou fugas desnecessárias. A estou estudando para uma pequena reunião espirita onde apresentarei o assunto, e ilustrarei esta história para apresentar o tema da noite. Assim, foi muito util. Saudações.
Macedo,
que bom que a resenha será útil para você de alguma forma 🙂
Obrigada pelo comentário e por sua visita ao Resenhas.
Abraços!