Resenhas  |  12.03.2018

Resenha: Frankenstein – Mary Shelley

*Atualizado em 6 de março de 2024

Sempre tive vontade de ler Frankenstein, Drácula e afins. Aos 13 anos li O Médico e o Monstro, mas na época não continuei os romances góticos do século XIX. Misturando terror e suspense com alegorias e referências ao subconscienteà Revolução Industrial e ao advento da ciência, esse tipo de literatura é riquíssima.

Ao mesmo tempo em que te prende em uma narrativa que flui, também intercala com reflexões e pensamentos que não são exclusivos daquela época e são válidos até hoje.

Resenha: Frankenstein - Mary Shelley
Foto: Isabela Zamboni | Resenhas à la Carte

Optei pelo Frankenstein porque conhecia a história bem por cima, sem muitos detalhes da obra original. Assistir à série Penny Dreadful me incentivou ainda mais, porque o Victor Frankenstein e a “criatura” da série são personagens interessantes.

Quando terminei de ler, a princípio Frankenstein me pareceu um excelente livro, uma história fechadinha e bem finalizada. No entanto, parando para pensar a respeito, é um livro tão recheado de alegorias que fica complicado classificá-lo como apenas uma história de um cientista que deu vida à uma criatura destruidora.

A história é bem conhecida: Victor Frankenstein é um cientista ambicioso que almeja sucesso na profissão e tem uma sede eterna pelo saber. Sempre instigado a entender a origem da vida e os mistérios da morte, resolve dar vida à sua própria criação, com o objetivo de mostrar seu potencial no meio científico.

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Ele acredita ser capaz de criar um ser humano, como se moldasse um boneco de argila. Mas depois que a criatura ganha vida e torna-se tenebrosa, ele imediatamente se arrepende e a abandona, fugindo para longe e tentando viver como se aquilo nunca tivesse acontecido. Com o tempo, a criatura volta em busca de Frankenstein e, claro, de respostas; basicamente tentando entender por qual motivo os humanos o rejeitam tanto, sempre pedindo ajuda para diminuir seu sofrimento.

Resenha: Frankenstein - Mary Shelley
Foto: Isabela Zamboni | Resenhas à la Carte

O mais interessante é que a criatura é digna de pena. Inicialmente, um capricho equivocado de Frankenstein, um “demônio” como ele mesmo o intitula; um ser deformado, gigantesco, de voz rouca e rosto assustador.

Porém, ele só deseja ser aceito e amado, como qualquer outro humano. Quer se integrar na sociedade, viver uma vida normal, andar em locais públicos sem ser massacrado, ganhar o reconhecimento de seu criador. E tudo isso lhe é negado; Frankenstein o rejeita totalmente, morrendo de medo de sua própria criação e sentindo remorso todos os dias pela sua falha.

Ao mesmo tempo em que o objetivo da autora Mary Shelley era vencer um concurso de história de terror mais assustadora, ela conseguiu unir o sentimento aterrorizante à crítica do indivíduo que tem medo de sua própria criação. Frankenstein e a criatura não são mais do que duas partes do mesmo ser. Um, movido pelo medo, ceticismo e frieza. O outro, a externalização dos sentimentos, a emoção. E as emoções fortes não são inerentes do humano, mas sim da criatura.

O livro é angustiante. Dá para sentir na pele o nervosismo, o medo, a ansiedade do arrependido cientista. Acompanhamos sua trajetória desde a infância, até sua derrocada, quando está enfermo e cego pela vingança.

O monstro é incrivelmente inteligente e amável, mas de tanto ser rejeitado e escorraçado, se transforma verdadeiramente em um demônio.

A história é contada por meio de diários e cartas, como era de costume daquela época – o que não deixa de ser uma leitura envolvente. Com poucas páginas, é rapidinho de ler e apresenta passagens memoráveis, como esta:

“Repousamos – um sonho tem o poder de envenenar o sono.
Acordamos – um pensamento fugidio conspurca o dia.
Sentindo, imaginando, ou raciocinando, rindo ou chorando, aceitamos a mágoa, ou repelimos nossas preocupações.
Mas tudo permanece no mesmo: pois alegre ou triste,
O caminho da partida ainda fica livre.
O ontem do homem talvez jamais seja como o seu amanhã:
Nada perdura, a não ser a instabilidade.

Quem ainda tem aquela ideia do monstro verde criado em uma noite de tempestade pode deixar essa concepção de lado; Frankenstein vai muito além disso. Outro erro comum é chamar a criatura de Frankenstein, sendo que o nome é de seu criador.

E aí, vai encarar a leitura?

NOTA

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