*Atualizado em 6 de março de 2024
Li no Kindle Unlimited o conto O Alienista, de Machado de Assis, porque sempre ouvi falar muito bem dessa narrativa.
Inclusive, a obra ficou tão conhecida que ganhou um livro próprio – é possível encontrar várias edições diferentes. Apesar das poucas páginas, o ‘conto-novela’, como foi classificado, é um grande questionamento sobre a fronteira entre normalidade e loucura.
Leia a sinopse:
Quem é louco?
Esta é a grande questão proposta neste livro. Conto extenso, quase uma novela, O alienista é uma obra-prima da nossa literatura. Nessa narrativa, publicada pela primeira vez em 1882, Machado de Assis (1839-1908), o autor de Dom Casmurro, Quincas Borba e Memórias póstumas de Brás Cubas, entre outros, conta a história do eminente doutor Simão Bacamarte.
Dedicado estudioso da mente humana, o médico decide construir a “Casa verde” – um hospício para tratar os doentes mentais na pequena cidade de Itaguaí. Com um estilo realista e fantástico a um só tempo, Machado conduz uma história surpreendente e mostra ao leitor que tudo é relativo e que a normalidade nem sempre é aquilo que a ciência e os fatos atestam de forma absoluta.
Em O alienista, está presente todo o gênio, toda a ironia e o magistral estilo do maior nome da prosa brasileira.
Impossível não se encantar com os livros de Machado. O que eu mais gosto nas histórias do autor é a ironia, o sarcasmo e a hipocrisia das personagens. O alienista, o doutor Simão Bacamarte, acredita que tudo é válido em nome da ciência. Enquanto ganha notoriedade na cidade de Itaguaí (RJ), consegue montar a Casa Verde com aprovação da Câmara municipal e dos cidadãos.
“A loucura, objeto dos meus estudos, era até agora uma ilha perdida no oceano da razão; começo a suspeitar que é um continente.”
Casa-se com uma mulher comum, sem muitos encantos, e não consegue ter filhos. A partir daí, dedica-se exclusivamente ao trabalho, deixando qualquer pessoa à uma distância apropriada. Com o tempo, além de estudar os doentes, começa a trancafiar um por um dentro do hospício, sempre com o pretexto de estudar certas enfermidades.
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A cidade começa então a revoltar-se e alguns personagens lideram motins e revoltas para impedir que muitas pessoas sejam trancadas dentro da Casa Verde. Mas é claro que esses homens (os barbeiros, especialmente) não têm a intenção de ajudar as pessoas, mas buscam poder e superioridade, alcançando cargos de confiança no governo local e certa notoriedade entre os cidadãos.
Em O Alienista, Machado critica o cientificismo do final do século XIX. O enredo, além de discutir o limite entre razão e loucura, apresenta também a questão de disputa de poderes.
“Imagem vivaz do gênio e do vulgo! Um fita o presente, com todas as suas lágrimas e saudades, outro devassa o futuro com todas as suas auroras.”
Em poucas páginas, somos transportados para um conto recheado de disputas, acontecimentos por vezes engraçados e questionamentos sobre a ciência, a psicologia e o caráter humano. Algumas frases do livro demonstram a genialidade do autor:
“Nada tenho que ver com a ciência; mas se tantos homens em quem supomos juízo são reclusos por dementes, quem nos afirma que o alienado não é o alienista?”
“Mas deveras estariam eles doidos, e foram curados por mim, ou o que pareceu cura não foi mais do que a descoberta do perfeito desequilíbrio do cérebro?”
Recomendo bastante esse conto, que com sua linguagem sagaz, deixa aquele gostinho de quero mais. Inclusive, bateu a vontade de reler Dom Casmurro e Memórias Póstumas. Ler Machado nunca é uma má ideia!
NOTA:
Isabela Zamboni Moschin é jornalista, especialista em Língua Portuguesa e Literatura e mestre em Mídia e Tecnologia. Adora café, livros, séries e filmes. Atualmente, trabalha como Analista de Conteúdo na Toro Investimentos