*Atualizado em 15 de março de 2024
Só conhecia Philip Roth por nome: é um autor aclamado e conhecido principalmente pela obra Pastoral Americana. Um dia, passeando no sebo, me deparei com O Complexo de Portnoy, que eu já tinha ouvido falar, mas não sabia exatamente sobre o que era.
Sabe aqueles livros que a gente simpatiza, mas resolve levar totalmente no escuro? Nem li direito a sinopse, só levei pra casa.
Esses dias resolvi começar a leitura e levei um choque. Não é nada do que eu havia imaginado, porém foi uma boa surpresa! O livro conta a história de Alexander Portnoy, um rapaz oprimido pela família judia, que durante toda a obra desabafa com seu psicanalista.
Ou seja: conhecemos cada pedacinho do personagem, que fala o tempo todo sobre seus “distúrbios” com o maior sarcasmo que você poderia imaginar.
Quando foi lançado, em 1969, o livro causou polêmica. Em uma época de liberação sexual, Philip Roth escreve uma história em que a masturbação é a válvula de escape da sexualidade do personagem.
O tempo todo ele narra suas masturbações da adolescência e todos os complexos que carregou durante sua vida – é possível conferir temas até mesmo como o Complexo de Édipo.
A relação do protagonista com a mãe molda sua trajetória desde a infância até a idade adulta – na história, ele está com 30 anos e é um advogado bem-sucedido que mora em Nova York.
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O livro traz muitas gargalhadas: o tom bem-humorado é ótimo, várias vezes me peguei rindo sem perceber. O linguajar é bem vulgar mesmo, sem papas na língua (me lembrei da Hilda Hilst), afinal, estamos durante uma sessão de terapia – o personagem está lá para se abrir e despejar tudo em cima do psicólogo.
As consequências que a formação sexual confusa e o complexo de Édipo terão na vida adulta de Alex são perturbadoras. E o engraçado é que isso torna o livro superatual e atemporal, ótimo para ser lido em qualquer época.
Desde o início do livro, podemos perceber que Portnoy é dotado não apenas de uma inteligência privilegiada, como também de uma capacidade ilimitada de encarar a si mesmo com realismo e ironia.
O livro é repleto de digressões – alternância entre passado e presente – além de suas relações conturbadas, seja com sua família, com amigos ou até com sua atual amante.
A história de Portnoy, narrada num tom que oscila entre o hilariante e o patético, foi um grande best-seller na época em que foi lançado. Um crítico da revista Time, inclusive, comparou-o às obras de Henry Miller, outro autor que chocou bastante com suas obras de teor “pornográfico”.
O que percebi durante a leitura é que Philip Roth não tem medo de tocar na ferida de muitos leitores, sejam eles judeus ou não.
O livro todo é recheado de referências judaicas – até tem um pequeno glossário com palavras judaicas no final – e também conta com narrativas grotescas da vida sexual do personagem.
Acredito que nem todo mundo vai gostar desse livro. As obsessões e traumas de um homem de 30 anos na década de 60 são escancaradas, com um linguajar bem franco; mas, apesar desse tom que o autor dá ao personagem, encontramos aqui várias referências literárias incríveis, mostrando o repertório de Philip Roth, cuja fascinação pela literatura fica clara em O Complexo de Portnoy.
Indico O Complexo de Portnoy para quem busca uma literatura de boa qualidade e também engraçadíssima (dependendo do seu senso de humor, é claro).
Nota:
Isabela Zamboni Moschin é jornalista, especialista em Língua Portuguesa e Literatura e mestre em Mídia e Tecnologia. Adora café, livros, séries e filmes. Atualmente, trabalha como Analista de Conteúdo na Toro Investimentos