Resenhas  |  27.06.2021

Resenha: Sul da Fronteira, Oeste do Sol – Haruki Murakami

*Atualizado em 6 de março de 2024

Recebi o livro Sul da Fronteira, Oeste do Sol da Companhia das Letras (Selo Alfaguara) e comecei a ler despretensiosamente, já que não conhecia nenhuma obra do autor japonês Haruki Murakami. A princípio, conferindo apenas a sinopse, achava que não iria me conectar com esse livro, mas o estilo do autor, sua sensibilidade e narrativa envolvente, mudaram minha percepção. Não só gostei do livro, como li freneticamente as 176 páginas.

A história é arrebatadora, com relações intensas entre os personagens, que vivem mergulhados em memórias e paixões impetuosas. O ponto de vista é masculino, o que muitas vezes pode ser um problema para mim, mas nesse caso consegui sentir o que Murakami tentou revelar com a mente introspectiva do protagonista Hajime.

Resenha: Sul da fronteira, Oeste do sol - Haruki Murakami
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

Leia a sinopse para entender melhor o contexto:

Nascido em 1951 em um subúrbio de Tóquio, Hajime chegou à meia-idade tendo conquistado tudo que queria. Os anos do pós-guerra trouxeram-lhe um bom casamento, duas filhas e uma carreira invejável como proprietário de dois clubes de jazz. No entanto, ele não consegue se desvencilhar da sensação incômoda de que nada daquilo traz felicidade para sua vida. Somada a isso, uma memória de infância de uma garota inteligente e solitária cresce em seu coração.

Quando essa colega do passado, Shimamoto, aparece em uma noite chuvosa, Hajime não consegue mais permanecer no cotidiano com o qual se acostumou. Shimamoto tem uma beleza de tirar o fôlego, mas guarda um segredo do qual não consegue escapar.

Em Sul da fronteira, oeste do sol, Murakami constrói uma narrativa de lirismo requintado sobre a simplicidade da vida de um homem, permeada por sucessos e decepções.

Na história, acompanhamos a vida do pequeno Hajime, um menino introspectivo, que gosta de ler e ouvir música no seu quarto. Uma de suas únicas amigas é Shimamoto, uma jovem que mancava de uma perna e, por isso, era um pouco solitária na escola. Hajime pontua várias vezes que, no Japão do pós-guerra, era natural ter irmãos e o fato de ele ser filho único – assim como Shimamoto – é uma das semelhanças que acaba unindo os dois.

Por alguns anos de sua infância, ele ouvia os discos de jazz do pai de Shimamoto e sentia crescer, junto com ela, não apenas uma forte conexão de amizade, mas algo que atravessa qualquer barreira, qualquer limite. No entanto, a limitação de idade e o tempo acabou separando o caminho dos dois.

Depois de se afastar de Shimamoto, pois havia mudado de bairro com a família, o jovem Hajime entra na adolescência e começa a descobrir outros prazeres e outros corpos. Aqui, o livro começa a esbanjar erotismo e cenas íntimas entre os personagens. Passamos pela fase de descoberta sexual na adolescência e também as consequências que essas relações podem trazer para o futuro.

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A narrativa passa rapidamente pelas fases de Hajime, até que chegamos na idade próxima dos 40 anos, quando este já é casado, com duas filhas e dono de dois bares de jazz. Em um dia chuvoso, reencontra Shimamoto, quase 20 anos depois, no Robin’s Nest, um de seus estabelecimentos mais badalados.

A partir daí, acompanhamos uma sucessão de eventos misteriosos e melancólicos pelo pouco que sabemos da vida de Shimamoto. Do mesmo modo, só conhecemos essa mulher pelo ponto de vista de Hajime: aquela garota que ele conhecia na infância.

A solidão e o apego a nostalgia são mostrados com frequência no livro, como se Hajime voltasse ao passado para tentar suprir a incompletude de sua vida. Quando tudo parece tão perfeitamente ajustado, por que sempre existe aquele vazio? O que falta para trazer sentido aos seus dias? A conexão que ele havia com Shimamoto na infância, a solidão compartilhada, agora poderia mudar seu rumo?

Durante seus encontros com Shimamoto, geralmente em noites chuvosas, os músicos do bar sempre tocam a canção Star-Crossed Lovers, de Duke Ellington. A música envolve as noites dos dois, quase como uma trilha sonora para rememorar os momentos que passaram juntos há 20 anos. É uma peça muito bonita, que vocês podem ouvir abaixo:

Sul da Fronteira, Oeste do Sol traz um misto de romance, mistério e paixão intensa, permeado por jazz e noites chuvosas. É praticamente um clima noir no cenário japonês. Entretanto, vai muito além: os personagens são humanos, quase palpáveis, carregados de traumas e segredos, feridas que não se curaram. As ações de Hajime, Shimamoto ou até mesmo de outros personagens secundários, têm motivações únicas, mas que só conseguimos “julgar” pelo ponto de vista do protagonista, já que tudo o que conhecemos vem da perspectiva de Hajime.

O livro mostra o outro como uma charada, do qual enxergamos apenas uma fração. O quanto de nós depositamos em outras pessoas, quando muitas vezes nem percebemos? Essa é uma das inúmeras reflexões que consegui extrair da obra de Murakami.

E você, já leu Sul da Fronteira, Oeste do Sol? O que achou? Conta pra gente nos comentários!

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