Resenhas  |  02.06.2016

Resenha: Sentimento do Mundo – Carlos Drummond de Andrade

Sentimento do Mundo é um livro fantástico. Escrito por Drummond, em 1940, essa coletânea de poemas incríveis demonstra a sutileza e a maestria do autor, com palavras firmes, tocantes e avassaladoras.

Resenha: Sentimento do Mundo - Carlos Drummond de Andrade
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à La Carte

Apesar de ser bem curtinho, com menos de 100 páginas, não é um livro para ser devorado, mas para ler aos poucos. Na obra, Drummond expõe a saudade de Itabira, sua cidade natal, e homenageia Rio de Janeiro, cidade onde passou boa parte de sua vida.

O mais interessante é notar como poemas de 1940 ainda se encaixam ao contexto atual. Muitas vezes, parando para ler com calma as estrofes, ficava maravilhada. O autor consegue, sem dúvidas, ser atemporal.

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Nos versos de Drummond, conhecemos suas angústias, seus sentimentos mais honestos e a percepção de um Brasil que passava por uma situação delicadíssima na política – o Estado Novo de Getúlio Vargas. Além disso, o fascismo e o nazismo cresciam de forma assustadora na Europa (não muito diferente do que estamos vendo hoje sendo “propagado” nas redes sociais…).

Alguns poemas doem tanto que dá vontade de chorar. Eu sou chorona e me emociono fácil com palavras (como comentei na resenha de A Ignorância, do Kundera), mas na atual situação do Brasil, é difícil conter as emoções. Em Sentimento do Mundo, meus poemas favoritos são “Bolero de Ravel”, “O Operário no Mar”, “Os Ombros Suportam o Mundo”, “Elegia 1938” e “Poema da Necessidade”.

A alma cativa e obcecada
enrola-se infinitamente numa espiral de desejo
e melancolia.
Infinita, infinitamente… (p.43)

Um dos trechos que achei mais incríveis, no poema “Elegia 1938”:

Trabalhas sem alegria para um mundo caduco,
onde as formas e as ações não encerram nenhum exemplo.
Praticas laboriosamente os gestos universais,
sentes calor e frio, falta de dinheiro, fome e desejo sexual.
[…]
Amas a noite pelo poder de aniquilamento que encerra
e sabes que, dormindo, os problemas te dispensam de morrer.
Mas o terrível despertar prova a existência da Grande Máquina
e te repõe, pequenino, em face de indecifráveis palmeiras. (p.67)

Ao final do livro, a edição da Companhia das Letras traz uma minibiografia e a cronologia da vida do autor, destacando suas obras mais importantes.

Drummond trabalhou mais de 60 anos como jornalista e realizou tantos trabalhos incríveis que não é à toa sua importância para a literatura brasileira e mundial. Cronista, poeta e romancista, Drummond é um gênio e seus livros deveriam estar na estante de todos – não somente dos vestibulandos.

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*Última atualização em 14 de março de 2024

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