Resenhas  |  21.01.2021

Resenha: O Impulso – Ashley Audrain

*Atualizado em 6 de março de 2024

Se você gosta de livros de mistério, suspense e thrillers como A Garota no Trem e A Mulher na Janela, com certeza, vai amar O Impulso!

Resenha: O Impulso - Ashley Audrain
FOTO: Melissa Marques | Resenhas à la Carte

Confira a sinopse:

“Blythe Connor está decidida a ser a mãe perfeita, calorosa e acolhedora que nunca teve. Porém, no começo exaustivo da maternidade, ela descobre que sua filha Violet não se comporta como a maioria das crianças. Ou ela estaria imaginando? Seu marido Fox está certo de que é tudo fruto do cansaço e que essa é apenas uma fase difícil. Conforme seus medos são ignorados, Blythe começa a duvidar da própria sanidade. Mas quando nasce Sam, o segundo filho do casal, a experiência de Blythe é completamente diferente, e até Violet parece se dar bem com o irmãozinho. Bem no momento em que a vida parecia estar finalmente se ajustando, um grave acidente faz tudo sair dos trilhos, e Blythe é obrigada a confrontar a verdade. Neste eletrizante romance de estreia, Ashley Audrain escreve com maestria sobre o que os laços de família escondem e os dilemas invisíveis da maternidade, nos convidando a refletir: até onde precisamos ir para questionar aquilo em que acreditamos?”

No livro, conhecemos quatro gerações de mulheres da mesma família, iniciando por Etta, Cecília, Blythe e, por fim, Violet.

“Todos esperamos ter uma boa mãe, nos casar com uma boa mãe, ser uma boa mãe.” (p. 15)

O foco principal é em Blythe e seu namorado (que depois se torna marido), Fox. No início, o relacionamento é “perfeito”, cheio de amor, carinho e cumplicidade. Com o passar do tempo, vamos adentrando às camadas das personagens e conhecendo melhor a estrutura familiar da protagonista.

“O conforto que eu encontrava em você me consumia. Eu não tinha nada quando te conheci, então de repente você se tornou meu tudo.” (p. 14)

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O ritmo do livro é frenético, os capítulos são supercurtos (cerca de 1 página e meia cada) e te fazem querer cada vez mais. É um daqueles livros que parecem ter sido feitos pensando na adaptação para um seriado ou filme, sabe? Mas isso não é um ponto negativo, muito pelo contrário! A história e a protagonista têm tantas camadas que seria incrível ver alguém dando vida à Blythe nas telas.

“Eu me lembro de um dia me dar conta de como meu corpo era importante para nossa família. Não meu intelecto, não minhas ambições de uma carreira literária. Não a pessoa construída ao longo de trinta e cinco anos. Só meu corpo.” (p. 144-145)

O Impulso intercala entre passado e presente. Posso dizer que em diversos momentos fiquei impactada como a forma que Etta tratava Cecília e, depois, como Cecília tratava Blythe. Esses períodos do livro, apesar de curtos, me trouxeram muitas reflexões sobre quem somos X quem poderíamos ser.

“Uma parte de mim sabia que nunca mais existiríamos do mesmo modo.” (p. 43)

Para mim, a depressão pós-parto é um tema retratado na família, porém, sem receber a devida importância – seja por falta de conhecimento, negligência ou silenciamento – pelos familiares. No livro, vemos Etta, Cecilia e Blythe “murchar”, sem que ninguém tente, de fato, resolver o problema. O que mais lemos são frases (que também são ditas na vida real) tentando minimizar a dor sentida por elas, como: “mas sua filha é tão linda, você deveria ser grata“, “ela é cheia de saúde, é o que importa“, entre outros.

Enquanto isso, vemos as três perdendo o controle de formas diferentes, mas com algo em comum: sempre sempre invalidadas, invisibilizadas e silenciadas.

Ashley Audrain, autora de O Impulso, gravou um vídeo especial para os leitores brasileiros contando um pouco mais sobre o enredo do livro. Confira:

“Olhei para a minha mãe de novo e imaginei o que as meninas viam, sem o fardo de tudo o que eu sabia a respeito dela.” (p. 104)

É claro que eu falo aqui totalmente sem conhecimento de causa, mas o livro aborda diversas facetas da maternidade: suas expectativas, belezas, dúvidas, julgamentos… A expectativa colocada na mulher para ser “a mãe ideal”, a “mãe guerreira”, enfim, os estereótipos que não abrem precedente para falhas.

“Pensei em maneiras de fugir. Ali, no escuro, enquanto meu leite fluía e a poltrona balançava. Pensei em devolvê-la ao berço e ir embora no meio da noite. Pensei em onde estava meu passaporte. Nas centenas de voos listados nos quadros de partida do aeroporto. Em quanto dinheiro eu conseguiria sacar de uma só vez no caixa eletrônico. Em deixar meu celular ali, na mesa de cabeceira. Em quanto tempo levaria para o leite secar, para meu seios se livrarem das provas de que ela havia nascido.” (p. 57)

Como Blythe é a nossa narradora, muitas vezes eu me perguntei se não estava sendo levada a “defendê-la” simplesmente por ser a única “visão” que eu tinha de um determinado acontecimento da trama. Muitas vezes, meu sentimento foi o de “pobre Blythe, ODEIO Violet” mas, pode ser que levar o leitor para esse fluxo de pensamento seja exatamente o desejo de Ashley Audrain.

“Eu não podia lhe contar a verdade: que eu desconfiava que havia algo de errado com nossa filha. Para você, o problema era eu.” (p. 89)

Por falar nisso, a construção de Violet e seu crescimento diante do leitor é muito interessante de acompanhar, mesmo com o viés da mãe.

“Onde começa? Quando sabemos? O que os transforma? De quem é a culpa?.” (p. 111)

Resenha: O Impulso - Ashley Audrain
FOTO: Melissa Marques | Resenhas à la Carte

Resumindo, O Impulso é um livro que nos prende e nos faz questionar diversos paradigmas sociais referentes à maternidade, ao mesmo tempo que entretém. O final é catártico. Superindicado!

Agora, me conta! Já leu O Impulso? O que achou do livro? Quero muito saber a sua opinião!

NOTA:

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