Resenha: David Copperfield – Charles Dickens

Sempre que começo a ler algum livro do Dickens, já sei que vou me encantar e me apegar aos personagens. Foi assim com Grandes Esperanças e com Uma Canção de Natal. Claro que com David Copperfield não seria diferente, já que aqui temos uma narrativa extensa, porém muito prazerosa, um romance de formação de primeira linha.

Eu tinha essa antiga edição da Cosac Naify parada há muito tempo na minha estante, mas somente esse ano resolvi começar esse calhamaço: foram mais de 1.200 páginas. Mas não me arrependo nem um pouco. Por mais que seja uma obra longa, o poder narrativo e a sensibilidade de Charles Dickens tornaram a leitura leve e prazerosa.

Resenha: David Copperfield - Charles Dickens
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

Publicado em 1850, David Copperfield é considerado o romance mais autobiográfico do autor, no qual ele combina ficção e experiência pessoal para construir uma história comovente. Inclusive, o autor chegou a dizer que entre todos os seus “filhos literários”, este era o seu favorito.

Vamos à sinopse:

Um dos maiores romances do século XIX, David Copperfield foi publicado originalmente na forma de folhetim entre 1849 e 1850. É o romance mais autobiográfico de Charles Dickens, mas não só: nas palavras do grande escritor, que inspirou outros gigantes da literatura ocidental como Tolstói, Kafka, Woolf, Nabokov e Cortázar, este é seu “filho predileto”.

Nele, acompanhamos a jornada do herói, nascido na Inglaterra dos anos 1820: órfão de pai desde o nascimento, David Copperfield pertence à imensa massa de desfavorecidos que a literatura do século XIX, pela primeira vez, presenteou com o protagonismo.

Assim, seguimos a vida de David, desde a sua infância pobre e difícil até a descoberta da vocação de escritor, numa jornada repleta de aventuras cômicas, sentimentais e por vezes trágicas. É impossível não se comover com o destino de David e não se deliciar com o fabuloso elenco de personagens que cruzam e acompanham seu caminho: o padrasto cruel Murdstone; o irresponsável Micawber; a frívola e encantadora Dora; e o humilde porém traiçoeiro Uriah Heep.

Parte fundamental da tradição do grande romance realista, este livro oferece não apenas um retrato acurado de seu tempo como também um contundente relato sobre a vocação literária.

O livro é todo narrado em primeira pessoa, quando acompanhamos David Copperfield desde seu nascimento até a maturidade. Filho de uma jovem viúva, David cresce sob o olhar severo do padrasto, Edward Murdstone, uma figura autoritária que pode ser considerada um símbolo do moralismo opressor da Era Vitoriana.

Após a morte da mãe, o menino é enviado a uma fábrica, onde enfrenta o trabalho infantil e a solidão. Essa passagem, inspirada na própria infância de Dickens, é uma das maiores críticas à exploração das classes mais pobres na Inglaterra do século XIX.

Com o tempo, David encontra refúgio na casa da tia excêntrica Betsey Trotwood, uma das personagens femininas mais fortes do autor. É com ela que o protagonista aprende sobre independência e dignidade. A partir daí, acompanhamos sua formação como estudante, escritor e homem, numa trajetória repleta de encontros marcantes e lições morais.

Dickens é um autor que não faz grandes aprofundamentos psicológicos nas personagens, como os próprios textos de apoio dessa edição gostam de ressaltar. Contudo, a genialidade está no modo com que elas se entrelaçam e evoluem durante a narrativa.

Além disso, as personagens são icônicas e representam bem a Inglaterra do século XIX. A construção delas é o que torna o romance atemporal: cada um reflete dilemas morais, fraquezas e virtudes que permanecem atuais.

O autor escrevia para todos os públicos, e as descrições são tão vívidas, que é como se estivéssemos dentro da história. Há um capítulo específico, chamado “A Tempestade”, que me impressionou bastante. Conseguimos sentir a angústia de Copperfield diante de uma situação tão trágica.

O livro é extenso, como comentei, e recheado de personagens, sendo difícil listar todas elas. Temos Betsey Trotwood, a tia de David, que o oferece uma segunda chance na vida; Uriah Heep, um homem que representa a hipocrisia, com sua falsa humildade; James Steerforth, o amigo carismático, encantador e moralmente ambíguo; Dora Spenlow, a doce e frágil garota que encanta o coração do protagonista; Agnes Wickfield, uma mulher paciente, inteligente, porém um pouco fria; Sr. Wilkins Micawber, uma figura cômica, o eterno endividado, dotado de um vernáculo eloquente e de um otimismo contagiante; a babá Clara Pegotty e seu irmão, o Sr. Pegotty, pessoas humildes que sempre ajudaram David durante sua trajetória; Thomas Traddles, um amigo da juventude de David que permanece na vida adulta; entre tantos outros que passam pelo seu caminho.

O tema principal da obra é o amadurecimento. A narrativa é um exemplo do gênero de romance de formação, que em alemão é chamado de bildungsroman. Temos, portanto, o crescimento emocional e moral do protagonista durante as mais de 1.000 páginas.

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Ao longo da história, David passa por perdas, humilhações e desilusões, mas também descobre a força do perdão, da empatia e da integridade. Sua jornada mostra que a verdadeira grandeza não vem do status social, mas da capacidade de aprender com o sofrimento.

Dickens também utiliza a história como instrumento de crítica social. É possível conferir denúncias à exploração infantil, relatos das falhas do sistema educacional e a indiferença das elites. Personagens como Micawber reforçam essa crítica: por meio de humor e da vulnerabilidade, o autor expõe a precariedade econômica de muitos e a injustiça das leis que punem a pobreza com vergonha pública.

Algo que gostei também são as personagens femininas. Enquanto muitas mulheres da época eram retratadas como frágeis ou submissas, o autor britânico traz personagens que fogem do padrão, como Betsey e Agnes, que simbolizam autonomia, inteligência e força.

Outro tema importante é o poder da arte e da escrita. Quando David decide se tornar escritor, ele não apenas encontra sua vocação, mas também redime o passado. Nesse momento, a literatura surge como forma de autoconhecimento e libertação. Confesso que alguns trechos me lembraram o estilo de Machado de Assis.

Contudo, o mais grandioso, na minha opinião, é a sinceridade do livro. Em cada página, encontramos sentimentos diversos: esperança, medo, amor, arrependimento…. é impossível não se reconhecer, em algum momento, nas dúvidas e descobertas de David.

Resenha: David Copperfield - Charles Dickens
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

Por fim, o que torna David Copperfield um dos maiores clássicos da literatura mundial é sua excelente combinação entre emoção, crítica e humanidade. Dickens escreve com ironia e ternura ao mesmo tempo, equilibrando drama e humor em uma prosa vívida, repleta de observações sobre a vida comum.

O “filho preferido” de Dickens é sobre crescimento, empatia e resistência, mas também sobre o poder transformador da escrita e da memória. É uma reflexão sobre a formação do indivíduo, a injustiça social e a força interior que nasce da adversidade.

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NOTA: ⭐⭐⭐⭐⭐

E você, já leu? Me conte o que achou!

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