*Atualizado em 14 de março de 2024
Mais um livro do Stephen King! Pois é, virei fã mesmo do autor. Demorei a vida inteira pra ler, mas agora que comecei, não quero mais parar! Depois de Sobre a Escrita e O Iluminado, agora foi a vez de Jogo Perigoso, livro de 1992. Quando li a premissa, já fiquei curiosa na hora! Vou resumir um pouco da história pra vocês:
Jessie Mahout vai passar um fim de semana ao lado do marido Gerald em uma casa de veraneio do casal, localizada no lago Kashwakamak. Durante uma brincadeira sexual, Gerald prende Jessie com algemas na cama. Porém, ela desiste do jogo, diz ao marido que não quer mais fazer sexo naquele momento, mas… Ele recusa-se a remover as algemas.
Em um acesso de raiva, Jessie dá um chute no marido, que, ao mesmo tempo tem um infarto fulminante e cai morto no chão. Agora reflita comigo: ela está em um casa do lago, no meio do nada, sozinha, com o marido morto, semi-nua e presa com algemas na cama. QUE TENSO!
Durante todo o livro, conferimos Jessie tentando escapar e sobreviver. Também somos apresentados a diferentes vozes em sua cabeça, que acabam a ajudando a descobrir o que ela deve fazer – como se seu próprio subconsciente conversasse com ela. Conhecemos a “Esposinha Perfeita”, a feminista Ruth, voz de uma ex-colega de faculdade de Jessie, entre outras vozes internas que acabam aumentando ainda mais o clima de tensão do livro.
Do lado de fora da casa, há um cachorro vira-lata que não para de latir, ouve-se um barulho de motoserra ao longe e um mergulhão que não para de fazer barulho no lago. A porta do quarto também está semi-aberta e bate com o vento, criando um barulho irritante para a personagem.
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Li outras resenhas de pessoas que acharam o livro desanimado, parado e etc. Pelo contrário! Achei que a narrativa flui, dá muita vontade de saber o que vai acontecer e, ao mesmo tempo, choca e surpreende. Não apenas por ser uma história de sobrevivência, mas principalmente pela mensagem do livro, que usa essa situação de Jessie para criticar o machismo e o abuso sexual.
Jogo Perigoso não é somente um livro de suspense. Ele é um livro importante, principalmente no contexto que estamos vivendo hoje, nessa luta contra preconceitos, racismos, machismos e abusos sexuais. Escrito em 1992, ele não poderia ser mais atual: Stephen King critica aqui muitas atitudes grotescas dos homens e da sociedade em relação às mulheres.
Desde incesto, até à questão da mulher ser uma ‘esposinha perfeita’ e aguentar relacionamentos abusivos. A crítica social em Jogo Perigoso é muito forte, especialmente em relação aos ridículos moldes familiares que, muitas vezes, criam as meninas para serem indefesas, donas de casa e aceitarem qualquer tipo de abuso masculino como algo normal ou a ser escondido.
Enquanto acompanhamos a tensa batalha de Jessie para escapar daquela situação humilhante e constrangedora, também sofremos e nos revoltamos com ela, principalmente quando conhecemos seu passado traumático, arrepiante até o último fio de cabelo.
São cenas horrorosas, que mexem com nosso psicológico (mesmo!). Eu fiquei sem dormir uma noite, sério! Hahaha! Por dois motivos: por causa de algo MUITO assustador que surge no quarto de Jessie e por conta de seu passado repugnante. Stephen King sabe chocar como ninguém.
O único problema desse livro… É o final. Pense no fim mais decepcionante do mundo, pior que do livro A Filha, que resenhei aqui no blog faz pouco tempo. Na verdade, eu não entendi porque o Stephen King fez aquilo – talvez tenha sido até uma “ordem” do editor dele, não sei, mas destruiu praticamente tudo que foi construído ao longo do livro.
Depois de tanto suspense, elementos que mexem com o psicológico da personagem (e com o nosso também), ele resolve dar uma explicação literal e racional para tudo o que aconteceu. É como se fosse um banho de água fria.
Enfim, leiam Jogo Perigoso porque é excelente, mas tentem ignorar o final – vocês vão me entender se chegarem até as últimas páginas.
Nota:
Isabela Zamboni Moschin é jornalista, especialista em Língua Portuguesa e Literatura e mestre em Mídia e Tecnologia. Adora café, livros, séries e filmes. Atualmente, trabalha como Analista de Conteúdo na Toro Investimentos