*Atualizado em 19 de março de 2024
Fiquei superempolgada quando a HarperCollins Brasil entrou em contato oferecendo alguns lançamentos para resenharmos. Escolhi Todos de pé para Perry Cook, da autora Leslie Connor, pois no material de divulgação comparavam o livro com O Menino do Pijama Listrado (AMO) e Extraordinário (ODEIO). Portanto, não sabia o que esperar e resolvi “pagar pra ver”.
O meu maior medo é que o livro – apesar de ficcional – fosse pedante. Mas isso não aconteceu! A história do garoto Perry é cheia de questionamentos importantes e que te fazem pensar “e se?“.
Acho que esse é o maior trunfo da autora. Aliás, Leslie chegou a escrever uma “carta ao leitor”, explicando que mesmo o personagem não sendo real, qualquer um poderia passar pelas situações descritas no livro.
Pela primeira vez, eu me pergunto: e mamãe? Ela vai ficar diferente quando for solta? Vai ficar diferente quando estivermos lá fora? (P. 40)
O livro conta a história de Perry Cook, um garotinho de 11 anos que vive em um lugar bastante peculiar: o Instituto Penal Misto Blue River. Esse é o único “lar” que o garoto conhece, até que um dia é tirado de lá para viver em um lar temporário (do mesmo promotor que está dificultando a liberdade condicional de sua mãe).
Fico deitado na cama estranha, morrendo de vontade de falar com a mamãe. De repente, sei que é assim que os novos residentes se sentem na primeira noite em Blue River. Sou um novo residente na casa VanLeer. (P. 56)
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O sofrimento por se afastar da mãe e a empolgação que Perry sente aos sábados – dia de visita – são tocantes. Alías, foi uma ótima sacada da autora poder abordar um tema como o sistema prisional através da ótica infantil.
As personagens são bem desenvolvidas e relevantes, principalmente durante a formação de Perry. É claro: nem todos são “boas pessoas”. Existe um grupo na prisão que Jessica Cook (mãe do menino) apelidou de Frios: eles não são confiáveis, não têm senso de humor, não conversam com os outros residentes. Resumindo: é melhor ficar longe deles. Mas a grande maioria é sensível e simpática.
Perry é uma criança bastante adulta, porém, em diversos momentos da história acaba mostrando ao leitor um lado mais frágil, principalmente quando ele está longe da mãe e se sente “um estranho no ninho”. No caso, o ninho da família VanLeer.
Eu me seco com uma toalha VanLeer, que é tão grande quanto um cobertor. Quando a enrolo na cintura, ela se arrasta no chão. Eu puxo até as axilas. O Super-Joe ia rir se me visse. Eu sempre atravesso o São Leste Superior quando estou voltando para o quarto usando uma toalha de Blue River ao redor da cintura, só que são toalhas mais finas e bem mais curtas. (P. 105)
O garoto não se sente “em casa” em momento algum quando está fora de Blue River, inclusive, percebemos isso cada vez que ele cita um item do lar temporário: nada é dele, tudo é VanLeer (trecho acima). Porém, em Blue River, o garoto afirma: meu quarto, meu relógio, minhas coisas. Triste, né?
O plot twist na história de Jessica Cook é um pouco confuso (não vou dar spoiler, mas NINGUÉM, por maior que seja o coração da pessoa, faria o que ela fez…). De qualquer forma, não tira o mérito: é um ótimo livro.
Todos de pé para Perry Cook é um livro que exalta a empatia – tão em falta nos dias de hoje. É aquela velha história: a gente NUNCA sabe a dor do outro. Com inocência e maestria, Perry Cook nos mostra a importância de buscarmos a resiliência.
Nota:
Melissa Ladeia Schiewaldt é jornalista, especialista em Marketing Digital e tem MBA em Gestão de Projetos.