*Atualizado em 6 de março de 2024
A Peste, de Albert Camus, é um livro para ser digerido aos poucos. Comecei a ler faz alguns anos, após ter terminado o incrível O Estrangeiro, mas não consegui dar continuidade. Retomei em janeiro deste ano, mas parei novamente.
O mais bizarro é que comecei essa leitura um pouco antes da pandemia do novo Coronavírus! Inclusive, quando começaram as quarentenas pelo mundo afora, lembrei na hora da obra de Camus e retomei a leitura (mais uma vez!). Por ser um clássico difícil de digerir — não por ser ruim, mas por ser intenso — não consegui engrenar, mas agora a curiosidade foi mais forte.
Confesso que nesses tempos de pandemia não é fácil engatar as leituras. Meu emocional ficou abalado, as coisas perderam a graça, são muitas informações para digerir… mas, desabafos à parte, vamos à resenha. Primeiro, a sinopse oficial:
“A vida após a peste. Um romance de um dos mais importantes e representativos autores do século XX e Prêmio Nobel de Literatura. Romance que destaca a mudança na vida da cidade de Orã, na Argélia, depois que ela é atingida por uma terrível peste, transmitida por ratos, que dizima a população. É inegável a dimensão política deste livro, um dos mais lidos do pós-guerra, uma vez que a cidade assolada pela epidemia lembra a ocupação nazista na França durante a Segunda Guerra Mundial. A peste é uma obra de resistência em todos os sentidos da palavra. O texto de Albert Camus ressalta a solidariedade, a solidão, a morte e outros temas fundamentais para a compreensão dos dilemas do homem moderno.”
A epidemia na cidade de Orã, Argélia, passa-se na década de 1940, mas seus efeitos são muito similares com o que vivemos hoje. Em diversos trechos fiquei chocada com a similaridade dos acontecimentos, até mesmo da reação dos personagens com o alastramento da doença.
“A princípio, as pessoas tinham aceitado estarem isoladas do exterior como teriam aceitado qualquer outro inconveniente temporário que apenas perturbasse alguns de seus hábitos. Mas, subitamente conscientes de uma espécie de sequestro sob a tampa do céu em que o verão começava a crepitar, sentiam confusamente que essa reclusão lhes ameaçava toda a vida e, chegada a noite, a energia que recuperavam com o frescor lançava-os por vezes a atos de desespero.” (p.97)
As reflexões de A Peste são recorrentes nas obras de Camus, como o amor, o exílio, a revolta e principalmente o absurdo da existência. Podemos ver isso em O Mito de Sísifo e em O Estrangeiro, bem como em outros textos. Neste livro, Camus traz a percepção do individual sobre o coletivo; o modo como as pessoas veem seus cotidianos as unem e fortalecem, mas também as corroem. A peste é uma constante ameaça, não somente à saúde dos indivíduos, mas aos seus direitos humanos fundamentais.
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O narrador da história, revelado somente ao final do livro, tenta ater-se somente às suas percepções e aos contatos que manteve com os infectados pela peste. Ao conduzir o relato, conhecemos não somente as aflições e sofrimentos dos cidadãos de Orã, exilados e em medo constante, mas também as percepções de determinados personagens.
Em boa parte da narrativa acompanhamos a perspectiva do Dr. Rieux, o médico que desde o início precisa vencer o cansaço e a dor para cuidar dos enfermos. Também acompanhamos as trajetórias do jornalista Raymond Rambert; o viajante Jean Tarrou; o funcionário da prefeitura Joseph Grand; o desempregado Cottard; o Padre Paneloux, entre outros.
Sob a percepção desses homens que tentam a todo custo lidar com essas aflições, Camus conduz o livro que ficaria marcado como um dos maiores clássicos de todos os tempos.
“O sol da peste apagava todas as cores e escorraçava qualquer alegria.” (p.109)
Na contracapa do livro, a apresentação é de Savvas Karydakis, que explica a alegoria de Camus sobre o momento histórico da época. “Alegoria da condição humana, A Peste é também uma alegoria de acontecimentos históricos ainda recentes: a cidade de Orã assolada pela epidemia lembra a França ocupada da Segunda Guerra Mundial e a infecção do Nazismo”. Raphael Luiz de Araújo apresenta a mesma percepção em seu artigo na Revista Cult. Ou seja: quanto mais lemos esse livro, mais encontramos camadas de interpretação.
“O que é verdade em relação aos males deste mundo é também verdade em relação à peste. Pode servir para engrandecer alguns. No entanto, quando se vê a miséria e a dor que ela traz, é preciso ser louco, cego ou covarde para se resignar à peste.” (p.120)
Se somos covardes, resilientes ou solidários, somente em situações de crise e tragédia é que conseguimos observar nossas ações. Como a coletividade pode agir em momentos de tamanha tensão? Nosso instinto básico de sobrevivência prevalece? A solidariedade humana ascende ou apenas queremos nos tornar heróis solitários? Como vencer o absurdo da existência e continuar perseverando? Camus nos ensina e faz refletir sobre nossas próprias condições. O livro foi escrito há mais de 70 anos, mas ainda é atual.
Leitura recomendadíssima! E você, já leu? O que achou? Deixe sua opinião nos comentários!
NOTA:
Isabela Zamboni Moschin é jornalista, especialista em Língua Portuguesa e Literatura e mestre em Mídia e Tecnologia. Adora café, livros, séries e filmes. Atualmente, trabalha como Analista de Conteúdo na Toro Investimentos
Bem sei que sol, refresco e leitura leve, são mais agradáveis do que ler livros que fazem pensar com são os de Camus. Não posso, contudo, deixar de concordar com o autos do blogue recomendando a leitura da Peste de Camus.
Adorei conhecer este blog! Que tenha longa existência.
Obrigada Alexandre! 😀 Volte sempre
Desde que essa coisa toda de corona e quarentena começou, esse livro tem aparecido por todo canto haha nunca me interessei muito pelo livro e nem pelo autor, mas agora estou bem curiosa. De qualquer forma, vou esperar essa loucura toda passar e continuar nos livros mais leves por enquanto! Mas adorei a resenha!
Apareceu pra todo lado mesmo, Mari! Mas recomendo continuar nas leituras leves, ajuda bastante! Esse livro dá um pouco de tristeza nesse momento 🙁
Que bom que gostou, volte sempre! <3 Beijos