Resenhas  |  23.10.2020

Resenha: Do Amor e Outros Demônios – Gabriel García Márquez

*Atualizado em 6 de março de 2024

Já tinha o livro Do Amor e Outros Demônios, de Gabriel García Márquez, na estante há um bom tempo, mas só consegui ler agora, apesar de ser bem curtinho (192 páginas). Em poucos dias finalizei a leitura e posso dizer que, apesar de ser uma boa narrativa, achei uma das menos empolgantes do Gabo.

Resenha: Do Amor e Outros Demônios - Gabriel García Márquez
FOTO: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

Mas antes de tudo, vamos à sinopse:

“Um livro sobre o desejo que elege as paixões e atinge as raízes mais profundas do ser humano: o amor.

Em 1949, o convento histórico de Santa Clara seria vendido para a construção de um hotel cinco estrelas no local. E Gabriel García Márquez, um jovem repórter, é designado para acompanhar a remoção das criptas funerárias da capela. O que mais impressionou este colombiano foi o túmulo de uma menina, que o fez lembrar as lendas contadas por sua avó. Segundo ela, no Caribe, havia uma marquesinha que tinha uma “cabeleira que se arrastava como a cauda de um vestido de noiva”. Venerada por seus milagres, ela foi mordida por um cachorro e morreu de raiva. Seria aquela marquesinha de sua infância ali enterrada?

García Márquez conta a história da filha única de um marquês, criada no convívio de escravos e orixás, e um padre incumbido de exorcizar os demônios que se acredita terem possuído a pequena, cujos cabelos só seriam cortados em seu casamento. Do amor e outros demônios vem, assim, de uma inspiração de quase meio século. Mas sua história vai além. García Márquez viaja até a Colômbia, ainda colônia da Espanha, para compor uma história de amor, cercada por mistério, sortilégio e feitiçaria, culminando num processo instaurado na Inquisição.

Novamente um tema eternizado na literatura mundial – um dos desejos que elege as paixões e atinge as raízes mais profundas do ser humano: o amor. Uma terna evocação de um passado colonial que, de forma pungente, amplia a solidão de uma época e das pessoas, assim é Do amor e outros demônios. O mestre do realismo mágico cria uma história com força e a pungência de um drama de nossos dias.”

A história da filha do marquês – a jovem Sierva María de Todos los Ángeles – cujos cabelos nunca poderiam ser cortados até o dia do seu casamento, remonta ao tempo das colônias, quando a Colômbia ainda era um território dominado pela Espanha.

Sierva María é uma personagem misteriosa, quieta, revoltada, e uma das mais carismáticas do livro. Filha de um marquês, sofre rejeição pela mãe desde que nasceu e foi criada no pátio dos escravos, na Casa Grande comandada pelo pai, um homem altamente problemático.

Após ser mordida por um cachorro e contrair raiva, o marquês se sente tocado e busca ajuda de médicos, curandeiros ou qualquer outro tipo de misticismo para tentar expulsar a doença da filha.

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Quando não encontrou mais solução, foi atrás da Igreja Católica, pedindo ajuda do bispo, que acreditava que a menina estava “endemoninhada”. Assim, o padre Cayetano Delaura foi designado para ajudar a garota, que foi presa em um convento de freiras. Como o marquês acreditava que isolar a jovem seria a única solução pertinente, um dia levou Sierva María embora, sem ao menos contar para a esposa.

No convento de Santa Clara, Sierva foi odiada desde o primeiro dia pela abadessa, que fez da vida da menina um inferno. A garota, que só se comunicava com os escravos e criados, foi trancada em uma cela e isolada do restante, pois representava um perigo às outras freiras. Foi então que Delaura começou a se aproximar da garota e a se sentir encantado com a personalidade da jovem, sem acreditar que ela pudesse estar realmente possuída.

Resenha: Do Amor e Outros Demônios - Gabriel García Márquez
FOTO: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

A história de Delaura e Serva María, porém, só engata após metade do livro. Antes, conhecemos o passado dos pais da garota, os absurdos do tráfico de escravos da região, o poder exacerbado Santo Ofício, as sabedorias populares da época e os rituais mágicos para tratar doenças como a Raiva. O realismo fantástico, característica fundamental das obras de Gabriel García Márquez, nos presenteia com boas doses de ironia, humor e criticismo à intolerância religiosa. O livro, portanto, é um deleite narrativo: leve, divertido e com boas doses de reflexões.

“Às vezes atribuímos ao demônio certas coisas que não entendemos, sem cuidar que podem ser coisas que não entendemos de Deus.”

Envolta em misticismo, a narrativa discute o significado do amor em diferentes aspectos. Seria o amor o verdadeiro demônio a possuir a jovem garota? O amor pode nos levar a fazer qualquer coisa, romper qualquer paradigma?

Do Amor e outros demônios é essencial para discutir as questões ligadas ao colonialismo, numa época em que ideias como exorcismo faziam sentido para curar doenças consideradas fatais. O livro apresenta de maneira sutil o controle e preconceito das instituições religiosas sobre um povo que vivia na pobreza, rodeado pelo medo e sem perspectiva de um futuro melhor.

Entretanto, apesar de sua ótima premissa e narrativa afiada, o livro não me prendeu. Passei pelas páginas desanimada, sem muita vontade de finalizar a leitura. Fico triste, já que Gabo é um dos meus autores favoritos. Porém, ainda assim, recomendo a leitura para quem gosta de romances breves e, principalmente, de literatura fantástica.

NOTA:

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1 Comentário “Resenha: Do Amor e Outros Demônios – Gabriel García Márquez”
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  1. Melissa Marques      23 out 2020 // 03H18

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