Resenha: O Nariz – Nikolai Gógol

O quão absurdo parece uma história sobre um homem que perde o nariz e depois o reencontra andando pelas ruas como se nada tivesse acontecido? Esse é o tema do conto O Nariz, de Nikolai Gógol, publicado em 1836.

Embora, a princípio, pareça uma história sem pé nem cabeça, ao avançar na leitura é possível perceber a genialidade do escritor, que faz uma sátira à burocracia de São Petersburgo.

Além disso, o absurdo e o grotesco tomam conta da história, mostrando uma certa incredulidade até por parte do narrador, que interrompe a narrativa para mostrar sua indignação em relação ao ocorrido.

Resenha: O Nariz - Gógol
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

Mas, antes de começar a resenha, leia a sinopse:

Em uma manhã como qualquer outra, um barbeiro, conhecido pela quantidade de sangue que faz jorrar do rosto de sua clientela, toma seu café da manhã. Ao afundar a faca sobre um pão recém-assado, encontra um ingrediente que não estava na receita: um nariz.

Do outro lado da cidade, seu cliente, o assessor colegial Kovaliov, acorda e dá de cara com uma panqueca. Não em seu prato, infelizmente – trata-se de seu próprio rosto no espelho, liso como uma massa corrida, carente de qualquer resquício de um nariz.

Publicado em 1836, este conto reúne o que há de mais marcante na escrita de Nikolai Gógol: a comédia, a cultura popular, a sátira política e a crítica à burocracia. A insólita história de um duplo, permeada pelo fantástico, absurdo e pelo grotesco, tem como cenário a fria e burocrática cidade de São Petersburgo.

Optei pela edição da Antofágica porque há dois posfácios excelentes que trazem o contexto histórico, a importância das obras de Gógol, as referências do autor e uma análise minuciosa da narrativa.

O mais interessante do conto é que, embora Kovaliov tenha perdido seu nariz, em nenhum momento ele se pergunta como aquilo era possível. A sua única preocupação era reaver o órgão perdido, para colocá-lo novamente no lugar e, assim, seguir sua vida.

O que ele mais temia era ser julgado pelas mulheres e por homens de alta posição na sociedade, pouco se importando como seu nariz poderia ter sumido de sua face.

Do mesmo modo, o barbeiro, que acorda e encontra o nariz do assessor colegial dentro do pão, só tem como objetivo se livrar do nariz e não descobrir o que de fato aconteceu para que ele tenha ido parar na sua casa, na mesa do café da manhã.

Enquanto isso, o nariz anda pelas ruas de São Petersburgo vestido com roupas de funcionário público e frequenta até mesmo a igreja. Assim, como bem apresentado no posfácio, “o título e a aparência formam a base da sociedade petersburguesa representada por Gógol, de modo que até mesmo um nariz é capaz de ganhar respaldo nessa sociedade, desde que agraciado com um título.”

Cada cena do conto é muito bem representada pela fria e misteriosa São Petersburgo, cidade de prédios retos e burocráticos. A cultura popular, uma característica comum nas obras do autor, também se faz presente neste conto.

Para comprar o livro, é só clicar no link abaixo (ele também está disponível para Kindle Unlimited):

o nariz gogol

Inclusive, “O Nariz é um conto que sintetiza bem características marcantes da obra de Gógol: o humor, a ironia, o apreço pelo grotesco e pelas deformidades como conceitos-chave para interpretação de valores da sociedade e, de modo mais abrangente, o conto nos mostra a relação do autor com o povo russo e a cultura da Rússia do século XIX.”

Essa breve narrativa, que provoca riso e angústia, também está recheada de significados, especialmente quando pensamos no contexto de vida do autor e da Rússia daquele período. É isso que me encanta na literatura: enquanto lemos um conto sobre um nariz fugitivo, estamos lendo também uma história sobre decadência e valores de um país.

Recomendo a leitura para quem gosta de contos e novelas, e, claro, porque literatura russa é sempre uma boa opção!

NOTA: ★★★★

banner classicos

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Rolar para cima