*Atualizado em 8 de março de 2024
Recebi da Edipro um exemplar de Walden, um dos livros mais famosos de Henry David Thoreau. Realmente, é muito difícil dizer exatamente sobre o que se trata o livro: não é apenas uma biografia, não é um estudo antropológico, não é um livro filosófico… Mas é tudo isso junto.
Confira a sinopse:
“Autobiografia de Henry D. Thoreau, Walden é a manifestação dos ideais de um dos maiores críticos da civilização industrial na história. Publicada em 1854, a obra passa por temas não superados até hoje pelo homem contemporâneo, como o direito à liberdade e o respeito à natureza. E tudo começa com um intrigante experimento social. Em 1854, buscando apartar-se de uma sociedade cada vez mais complexa, Thoreau retira-se para a propriedade de um amigo às margens do lago Walden. Na pequena cabana na floresta, adapta as suas habitações e constrói seus móveis, planta os alimentos que consome e os prepara, faz descobertas espirituais. Por meio de uma vida simples e autossuficiente, cria sua utopia. Ainda que seja uma crítica à vida urbana do século XIX, Walden ainda é capaz de suscitar importantes reflexões sobre nosso modo de vida. Em mais de um século de existência, tornou-se uma referência para movimentos libertários, ecologistas e todos os que buscam uma vida mais harmônica.”
O que mais me surpreendeu na leitura, sem dúvidas, foi perceber que – mesmo tanto tempo depois de escritas – as ideias de Henry David Thoreau expostas em Walden ainda continuam vanguardistas e chocantes.
“Eu fui à floresta porque queria viver livre. Eu queria viver profundamente, e sugar a própria essência da vida… Expurgar tudo o que não fosse vida; E não, ao morrer, descobrir que não havia vivido“.
Como eu sempre digo, é muito difícil julgar as ideias expostas em uma autobiografia, pois acredito que cada um – com sua cultura, vivências, costumes etc – tem um pensamento que, muitas vezes, só faz sentido para si.
Clique abaixo para comprar o seu:
Em Walden é difícil não se pegar “julgando” o autor, seja por seu desapego material, sua forte influência religiosa, por seus princípios extremamente convictos, ou por suas ideias “fortes”. Fato é que, mesmo dois séculos depois de ser escrito, o livro e o autor continuam extremamente relevantes.
Basicamente, podemos resumir Walden da seguinte forma:
E isso não é algo ruim, necessariamente, ok?
Para mim, o livro foi uma boa introdução sobre o que esperar ao ler suas obras mais profundas, que abordam – e criticam – a sociedade e o “atual” modo de vida que temos. Ótimo para quem quer conhecer mais sobre as ideologias de Henry David Thoreau, ou ainda, para quem se interessa por biografias.
De qualquer forma, trata-se de um livro com a narrativa bastante linear: não existe um “ápice” da história, portanto, se você procura uma leitura que te prenda fácil, esse não é o livro mais indicado. Eu mesma devo ter demorado um ano para lê-lo por completo: quando enjoava de Walden, começava outro livro, e voltava para ele meses depois.
Ainda hoje o modo de vida simples e o estilo nômade (além dos ensinamentos deixados em seus livros) fazem de Thoreau uma figura quase mitológica.
Sobre a edição da Edipro, achei o espaçamento entre as linhas um pouco pequeno, assim como a margem e o tamanho da fonte. Se a diagramação fosse mais espaçada, com certeza, seria melhor (mas também ficaria beeem maior e mais caro).
Curiosidades sobre Walden e Henry David Thoreau
Thoreau foi um autor estadunidense, poeta, naturalista, ativista anti-impostos, crítico da ideia de desenvolvimento, pesquisador, historiador, filósofo e transcendentalista. Entre seus escritos mais famosos estão: A Desobediência Civil, Walden e Caminhando.
Existe uma réplica da cabana feita por Thoreau, além de uma estátua em sua homenagem, no lago Walden:
A filosofia de Thoreau da “desobediência civil” influenciou o pensamento político e ações de personalidades notáveis que vieram depois dele, filósofos e ativistas como Liev Tolstói, Mohandas Karamchand Gandhi, e Martin Luther King, Jr., entre outros.
10 frases do livro Walden
“Por que exaltar um único tipo de vida em detrimento dos outros todos?” (p. 23)
“Nunca ninguém caiu no meu conceito por ter um remendo na roupa; embora eu tenha certeza de que as pessoas em geral se afligem mais por uma roupa da moda, ou pelo menos limpa e sem remendo, do que por uma consciência íntegra.” (p. 25)
“Os países são possuídos por uma insana ambição de perpetuar sua própria memória pela quantidade de pedra entalhada que deixam para trás. E se o mesmo esforço fosse empregado alisando e polindo seus modos?” (p. 54)
“Bater as botas levanta poeira.” (p. 63)
“Mas eu diria aos meus companheiros, de uma vez por todas: vivam o máximo possível livres e desimpedidos. Não faz muita diferença se o empecilho é um sítio ou uma prisão. (p. 75)
“Os ventos que passavam pela minha casa varriam as serras de montanhas, trazendo fragmentos de sons, ou apenas as partes celestiais, da música terrestre. O vento da manhã sobra eternamente, o poema da criação é ininterrupto; mas poucos são os ouvidos que o escutam. O Olimpo é apenas a superfície da terra em qualquer lugar.” (p. 76)
“Fui morar na floresta porque desejava viver deliberadamente, enfrentar apenas os fatos essenciais da vida, e ver se conseguia aprender o que ela tinha a ensinar, em vez de descobrir só na hora da morte que não tinha vivido. Não queria viver o que não fosse vida, sendo a vida tão preciosa; nem desejava praticar a resignação, a não ser que fosse muito necessário.
Eu queria viver profundamente e sugar a medula da vida, viver de maneira vigorosa e espartana a ponto de eliminar tudo o que não fosse vida, abrir uma faixa larga e cortar rente, levar a vida para um canto, e reduzi-la a seus termos mais elementares, e, se ela se mostrasse mesquinha, ora, então captar toda essa mesquinhez genuína e divulga-la ao mundo; ou, se fosse sublime, sabê-lo por experiência própria, e ser capaz de fazer um relato verdadeiro a respeito disso em minha próxima excursão. Pois a maioria dos homens, ao que me parece, vive uma estranha incerteza, sobre se a vida é obra do Diabo ou de Deus, e conclui algo apressadamente que o principal objetivo do homem na Terra é ‘louvar a Deus e gozar sua presença eternamente’.” (p. 81)
“Se respeitássemos apenas o que é inevitável e tem razão de ser, música e poesia ecoariam pelas ruas.” (p. 85)
“Deus culmina no momento presente, e jamais seremos mais divinos, nem no decurso de todas as eras, do que agora.” (p. 86)
“O tempo é apenas o rio onde pescamos.” (p. 87)
Nota:
Melissa Ladeia Schiewaldt é jornalista, especialista em Marketing Digital e tem MBA em Gestão de Projetos.