Resenhas  |  12.08.2019

Resenha: Mulherzinhas – Louisa May Alcott

*Atualizado em 24 de setembro de 2024

O livro Mulherzinhas é um daqueles clássicos que já foram citados milhares de vezes no cinema, na TV e em outros livros.

Com várias adaptações, a obra de Louisa May Alcott tornou-se uma referência mundial na literatura jovem/infantil. A história das irmãs Jo, Amy, Beth e Meg fascina até hoje, com personagens únicas de personalidades fortes.

Vamos à sinopse:

As quatro irmãs March são muito diferentes entre si. A já adulta Meg; Jo, a moleca impulsiva; Beth, tímida e introvertida; e Amy, a precoce caçula. Mas com o pai longe de casa, na guerra, e a mãe trabalhando para sustentar a família, elas precisam coope­rar e apoiar umas às outras. Encenam peças, fundam sociedades secretas, preparam os festejos de Natal, dão os primeiros passos na sociedade adulta e aprendem o valor da amizade verdadeira. É com o coração pleno que acompanhamos as dúvidas, as aven­turas e desventuras dessas adoráveis meninas, nesta história atemporal emocionante que nos faz vibrar e sorrir. Publicado originalmente em 1868, nos Estados Unidos, o livro teve sucesso imediato de crítica e público, o que suscitou a publicação de várias continuações. Este belo romance de for­mação, que se lê num fôlego só, não cessa de encantar gerações e gerações de leitoras e leitores, tendo sido adaptado inúmeras vezes para o cinema e para a televisão.

Mulherzinhas oferece uma leitura encantadora e leve. A obra salienta os valores morais da época: civismo, amor à pátria e dedicação extrema ao lar e ao próximo.

Cada capítulo se fecha em si mesmo, como se fossem episódicos. Acompanhamos o crescimento das irmãs, que “um dia já foram ricas, mas hoje são pobres”, e vivem no aguardo do pai, cuja missão consistia em ajudar os soldados na guerra.

A história começa com elas bem jovens: a mais velha, Meg, com 16 anos, enquanto a mais nova, Amy, com 12. Acompanhamos as aventuras e desventuras das irmãs, que moram com a mãe e Hannah, ajudante da casa. Elas fazem amizade com o vizinho Laurie, um rapaz de 16 anos prestes a ir à faculdade, que torna-se praticamente membro da família.

Meg e Jo já trabalham para garantir o sustento da casa, portanto não vão à escola; Beth é extremamente tímida, então estuda em casa, por morrer de medo do convívio social; Amy, a mais nova, é a artista, mas também a mais fútil e inocente, querendo sempre se adequar aos moldes da sociedade, participar de festas, bailes, viagens, mesmo sem ter dinheiro para isso. 

Não tem como falar de Little Women sem comentar sobre Joa personagem é de longe a mais interessante. Ainda acho ousado uma personagem de 1868 ser tão livre, inteligente e diferente das outras meninas, sem se importar com moda, bailes, garotos ou qualquer futilidade destinada às mulheres.

Jo é explosiva, gosta de ler, escrever, criar peças de teatro, usar botas grosseiras, tem vontade de se alistar no exército, não perde uma aventura e nem aceita desaforos; renega tudo o que uma “boa moça” precisa ter para os padrões da época.

Boa parte dos livros do século XIX, sejam norte-americanos, britânicos, franceses etc., mostram as mulheres com interesses voltados à própria aparência, aos afazeres de casa ou relações amorosas: tricotar, cuidar do lar, casamentos e filhos, dançar em bailes, sem nem considerar o trabalho intelectual.

Elizabeth, de Orgulho e Preconceito, é um desses raros casos de mulheres interessantes, mas ainda cai naquele clichê do romance idealizado com a vida moldada por um homem. Jo, não. Ela poderia viver no século XX ou XXI tranquilamente.

Uma das interpretações possíveis é que Jo seria o alter-ego da autora, inconformada com as normas sociais impostas às mulheres. Louisa May Alcott foi, desde sempre, defensora dos direitos femininos e preocupava-se com questões como a educação, a liberdade e a saúde das mulheres, a igualdade salarial e de oportunidades, bem como o direito de voto.

Já as outras irmãs são bem distintas, mas menos “fora da curva”.

Beth é angelical, ama música e vive apaixonada pelo piano. A personagem é a bondade em pessoa – tão ingênua e fofa que chega a irritar, hahaha. Mas sempre traz alegria a todos a seu redor, com seu charme tímido. 

Meg é aquela que sonha com a riqueza, se ilude com amigas da alta sociedade, vive reclamando de ter que trabalhar como governanta. Sente vergonha de suas roupas e da pobreza, mas ainda assim é uma boa moça. Cuida das irmãs de bom grado e obedece à mãe sempre que possível. 

Amy é inocente e bobinha, vive em função das aparências. Gosta da beleza, da vaidade, e não quer sentir-se por fora de nenhum acontecimento. Pra mim, é a personagem mais desinteressante, quase que uma antagonista de Jo. Personalidades completamente distintas, mas se amam e respeitam como irmãs.

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Cada capítulo, sempre fechado em si mesmo, é uma lição de moral. A mãe das garotas, Sra. March, vive ensinando as meninas a terem amor pelo próximo, ajudarem os mais necessitados, darem valor ao que têm, demonstrarem seus sentimentos, ocuparem a cabeça com trabalho, entre tantas outros ensinamentos.

Por ser voltado a crianças, é um prato cheio para ensinar valores básicos (exceto o patriotismo exacerbado, que é mais voltado para norte-americanos). 

A leitura é bem prazerosa, não dá vontade de parar. Gostei bastante do ritmo e da forma com que a autora conduz, de forma sutil, o amadurecimento das garotas. Os personagens masculinos, de certa forma, são apagados, mas não deixam de ser interessantes, justamente pelo contraste com a família March.

A edição que eu li foi da Via Leitura (Edipro), que fez uma nova versão graças ao filme mais recente. Não conseguia encontrar esse livro no Brasil – estava tudo esgotado e bem antigo – então fiquei feliz com essa novidade. Porém, descobri ao final da leitura, que ele não é a versão completa. Na verdade, esse livro só contém a parte I – que conta o primeiro ano na vida da família March.

Eu já tinha a versão em inglês da Puffin in Bloom (que são edições maravilhosas!), então dei uma olhada no sumário para comparar. E realmente, faltou a parte 2 – a parte em que o tempo passa mais rápido e acompanhamos o crescimento das meninas. Veja:

Resenha: Mulherzinhas - Louisa May Alcott
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

Devia ter percebido que faltava uma parte, já que as edições têm tamanhos BEM diferentes:

Resenha: Mulherzinhas - Louisa May Alcott
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

Comecei a ler a segunda parte em inglês e não foi tão difícil. Claro que o ritmo é bem diferente do que ler na própria língua, mas ainda assim, por ter um tom juvenil, não são palavras tão complicadas. E a edição é uma fofura, como já comentei:

Resenha: Mulherzinhas - Louisa May Alcott
Foto: Isabela Zamboni/Resenhas à la Carte

Sem querer dar spoilers, mas temos uma tragédia durante a segunda parte do livro. Algumas reviravoltas vão trazer um tom mais melancólico, o que, pra mim, deixou a obra ainda mais diferenciada, já que a autora teve coragem de tomar alguns rumos que provavelmente ninguém esperava. 

Mulherzinhas é um romance de formação longo, mas eu sou apaixonada por essas histórias. Me encanto com a passagem do tempo, o amadurecimento das personagens, as mudanças que a vida traz… inclusive, já fiz várias resenhas de romances de formação aqui no blog:

Adaptações de Mulherzinhas

Uma das adaptações mais famosas de Mulherzinhas é o filme de 1994, com Winona Ryder, Christian Bale, Kirsten Dunst, Susan Sarandon e Claire Daines. Não cheguei a assistir, mas está na lista! Veja o trailer:

Uma mais recente (que eu assisti e adorei) é a da BBC, lançada em 2017. São quatro episódios, que ficaram bem fiéis ao livro. Quem faz o papel de Jo é a Maya Hawke, que brilhou na terceira temporada de Stranger Things. 

Veja o trailer:

[Atualização em nov/2020]

E uma adaptação recente que fez muito sucesso é a da diretora Greta Gerwig, que foi indicada ao Oscar por Ladybird. O elenco é de peso: Emma Watson, Meryl Streep, Laura Dern, Saoirse Ronan, Timothée Chalamet e muito mais. 

Veja o trailer:

E você, já leu? O que achou de Mulherzinhas? Conta pra gente nos comentários!

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