*Atualizado em 18 de março de 2024
Toni Morrison, a primeira escritora afro-americana a ganhar o Prêmio Nobel de Literatura, morreu, aos 88 anos, após uma breve doença.
Morrison escreveu 11 romances em uma brilhante carreira literária e premiada que durou mais de seis décadas.
A estreia como romancista veio em 1970, com “O olho mais azul“. Dentre seus livros mais conhecidos, estão “Sula” (1973), que rendeu indicação ao National Book Award, e “Amada” (1987), com o qual ganhou o Pulitzer, um dos principais prêmios literários dos Estados Unidos.
Aqui no blog, já fizemos a resenha de Deus Ajude Essa Criança.
No discurso que proferiu ao receber o Nobel, Morrison disse: “Nós morremos. Esse pode ser o significado da vida. Mas nós fazemos linguagem. Essa pode ser a medida de nossas vidas.“
Para homenagear o legado dessa autora incrível, selecionamos as melhores frases e citações de Toni Morrison. Confira:
Frases e citações de Toni Morrison
“Se há um livro que você quer ler, mas não foi escrito ainda, então você deve escrevê-lo.”
“Quanto requintadamente humano foi o desejo de felicidade permanente, e quanto estreita se tornou a imaginação humana a tentar alcançá-la.”
“As definições pertencem aos definidores, não aos definidos.”
“Eu sonho um sonho que me sonha de volta para mim.”
“O amor nunca é melhor do que o amante.”
“Nós morremos. Esse pode ser o sentido da vida. Mas nós fazemos a linguagem. Essa pode ser a medida das nossas vidas.”
“Darem-te o domínio sobre outra pessoa é uma coisa pesada; execeres domínio sobre outra pessoa é uma coisa errada; dares o domínio de ti mesmo a outra pessoa é uma coisa perversa.”
“Escrever é realmente uma forma de pensar – e não apenas sobre sentimentos, mas também sobre coisas que são díspares, não resolvidas, misteriosas, problemáticas, ou apenas doces.”
“Eu sempre olhei para os atos de exclusão racista, ou insultos, como desprezíveis, para a pessoa que os pratica. Eu nunca absorvi isso. Eu sempre achei que havia algo de deficiente nessas pessoas.”
Frases de “Amada”
“Dez minutos para cinco letras. Com mais dez ela podia ter conseguido “Bem” também? Não tinha pensado em perguntar a ele e ainda a incomodava aquilo ter sido possível – que em troca de vinte minutos, meia hora digamos, ela podia ter conseguido a coisa toda, todas as palavras que tinha ouvido o pregador dizer no enterro (e tudo o que havia para dizer, com certeza) entalhado na lápide: Bem-Amada. Mas o que ela havia conseguido, que escolhera, era a única palavra que importava. Ela achou que podia bastar, copular entre as lápides com o entalhador, o filho dele, menino, olhando, tão velho o ódio em seu rosto; bem novo o apetite nesse rosto. Aquilo com certeza devia bastar. Bastar para responder a mais um pregador, a mais um abolicionista e a uma cidade cheia de aversão.” (P. 22)
“Todo mundo sentia meu cheiro antes de me ver. E quando me viam, viam as gostas de leite no peito do vestido. Eu não podia fazer nada. Só sabia é que tinha de dar meu leite para minha filhinha. Ninguém ia amamentar ela como eu. Ninguém ia dar leite para ela na hora certa, nem tirar quando ela já tivesse mamado bastante e não percebesse. Ninguém sabia que ela não conseguia arrotar se levantasse no ombro, só deitada em cima dos joelhos. Ninguém sabia, só eu e ninguém tinha o leite pra ela, só eu.” (P. 37)
“Os segredos de Denver eram doces. Acompanhados sempre de verônica silvestre até ela descobrir a colônia. O primeiro frasco foi um presente, o seguinte ela roubou de sua mãe e escondeu no meio do bruxinho até que ele congelou e rachou. Foi o ano em que o inverno chegou apressado na hora do jantar e ficou durante oito meses. Um dos anos da Guerra em que miss Bodwin, a mulher branca, trouxe a colônia de Natal para sua mãe e para ela, laranjas para os meninos e mais um bom xale de lã para Baby Suggs. Ao falar de uma guerra cheia de mortos ela parecia feliz – rosto afogueado e, embora sua voz fosse pesada como de homem, ela cheirava como uma sala cheia de flores, estímulo que Denver podia ter todo só para si no bruxinho.” (p. 54)
“Estava falando do tempo. É tão difícil para mim acreditar no tempo. Algumas coisas vão embora. Passam. Algumas coisas ficam. Eu pensava que era minha rememória. Sabe. Algumas coisas você esquece. Outras coisas, não esquece nunca. Mas não é. Lugares, os lugares ainda estão lá. Se uma casa pega fogo, desaparece, mas o lugar – a imagem dela – fica, e não só na minha rememória, mas lá fora, no mundo”. (P. 63)
“Denver mordeu as unhas.” Se ainda está lá, esperando, quer dizer que nada nunca morre.”
Sethe olhou bem para o rosto de Denver: “Nada nunca morre”, disse ela.
“A senhora nunca me contou tudo o que aconteceu. Só que chicotearam a senhora e que a senhora fugiu, grávida. De mim.” (P.64)
“Sua mãe tinha seus segredos – coisas que ela não contava; coisas que contava pela metade. Bem, Denver também tinha suas coisas. E as suas eram doces – doces como colônia de lírios-do-vale.” (P.66)
“Arriscado, pensou Paul D, muito arriscado. Para uma mulher que era escrava, amar alguma coisa tanto assim era perigoso, principalmente se era a própria filha que ela havia resolvido amar. A melhor coisa, ela sabia, era amar só um pouquinho; tudo, só um pouquinho, de forma que quando se rompesse, ou se fosse jogado no saco, bem, talvez sobrasse um pouquinho para a próxima vez. “Por quê?”, ele perguntou. “Por que você acha que tem que fazer as coisas por ela? Se desculpar por ela? Ela é crescida.” (P. 77)
“Não estavam de mãos dadas, mas as sombras deles estavam. Sethe olhou para sua esquerda e as sombras deles três deslizavam pela areia de mãos dadas. Talvez ele tivesse razão. Uma vida.” (P. 79)
“Minha velha? Quer dizer minha mãe? (…) Uma coisa ela fez, sim. Ela me pegou e me carregou atrás da defumadora. Lá atrás ela abriu a frente do vestido, levantou o peito e apontou debaixo dele. Bem em cima das costelas tinha um círculo e uma cruz queimados direto na pele. Ela disse: ‘Esta aqui é a sua mãe. Esta`, e apontou, ‘Sou a única que tem essa marca ainda. O restou morreu. Se alguma coisa acontecer comigo e você não conseguir saber que sou eu pela cara, pode saber por esta marca.’ Me deu tanto medo. Eu só conseguia pensar que aquilo era importante e que eu precisava ter alguma coisa importante para responder, mas não consegui pensar em nada, então eu disse o que pensei. ‘Certo, mamãe’, eu disse. ‘Mas como a senhora vai conhecer eu? Como vai me conhecer? Me marque também’, eu disse. ‘Marque essa marca em mim também.” Sethe riu.
“Ela marcou?”, Denver perguntou.
“Ela me deu um tapa na cara”.
“Por quê?”
“Na hora eu não entendi. Só quando ganhei uma marca minha.” (P. 99)
“Voltar para a fome original era impossível. Para sorte de Denver, olhar era alimento bastante. Mas ser olhada de volta estava além do apetite; era romper sua própria pele até um lugar onde a fome não havia sido descoberta. Não precisava acontecer com frequência, porque Amada quase nunca olhava diretamente para ela, ou, quando olhava, Denver podia dizer que seu rosto era só o lugar onde aqueles olhos pousavam enquanto a mente por trás deles seguia em frente.” (P. 175)
Frases de “Deus Ajude Essa Criança”
“Não levou mais de uma hora depois que tiraram a criança do meio das minhas pernas pra perceberem que tinha alguma coisa errada. Muito errada. Ela era tão preta que me assustou”. (P. 11)
“O que eu sei é que dar de mamar pra ela era como botar uma macaquinha chupando minha teta. Passei pra mamadeira assim que cheguei em casa”. (P. 13)
“O que se faz com os filhos é importante. E eles podem não esquecer nunca”. (P. 46)
FONTE: Livros e Café, G1, IstoÉ, Companhia das Letras.
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Melissa Ladeia Schiewaldt é jornalista, especialista em Marketing Digital e tem MBA em Gestão de Projetos.