Resenhas  |  19.05.2017

Resenha: Otelo – William Shakespeare

*Atualizado em 13 de março de 2024

Quando li Macbeth, fiquei bastante assustada com Shakespeare e não achei que fosse ler outra obra do dramaturgo tão cedo. Porém, quando recebi Otelo (da Penguin Companhia), me desafiei novamente na leitura de mais um clássico e deu muito certo!

Percebi que a tradução faz TODA a diferença, assim como o auxílio das notas de rodapé e dos textos de apoio. Essa edição foi uma luz, pois além de apresentar uma tradução relativamente simples de entender, também traz textos para explicar com detalhes essa grande obra da literatura universal.

Resenha: Otelo - William Shakespeare
FOTO: Isabela Zamboni | Resenhas à la Carte

A história gira em torno de quatro personagens: Otelo (um general mouro que serve o reino de Veneza), sua bela esposa Desdêmona, seu tenente e grande amigo Cássio, e seu sub-oficial Iago. Iago não aceita que Otelo nomeou Cássio como tenente e tenta, de todas as formas possíveis, destruir a vida de todos, plantando a “sementinha do ciúme” na mente do general para que ele desconfie de uma relação amorosa entre Desdêmona e Cássio.

A tragédia de Shakespeare trata de temas variados que são discutidos até hoje, como racismo, amor, ciúme, traição e até xenofobia. Quando você começa a ler esse tipo de clássico, é inevitável enxergar as referências em boa parte das séries e filmes atuais. Iago é aquele vilão persuasivo e inteligente que engana a todos ao se passar por um homem íntegro, obediente e conselheiro.

Desdêmona é a esposa fiel, casta e passiva que “abandona” seu pai Brabâncio para casar com Otelo, o mouro de Veneza. Ela precisa lidar com ofensas e críticas de todos os lados por ter se casado com um estrangeiro, que ainda por cima é negro e com “traços animalescos”.

Otelo é venerado como general, mas ainda sofre com o julgamento que recebe de todos ao seu redor. Cássio é um escudeiro fiel, porém de cabeça fraca: trata Desdêmona com educação e cavalheirismo, mas quando se trata de outras mulheres, é grosseiro e rude, como quase todos os homens da época. Ele cai direitinho nas mentiras de Iago e seu desfecho não é dos melhores.

A tradução de Lawrence Flores Pereira ajuda a recriar a linguagem grandiosa de Otelo e a prosa nefasta de Iago. Sem os comentários do tradutor e as explicações sobre cada trechinho da peça, a compreensão do texto diminuiria em 70%. Afinal, ler uma obra escrita por volta de 1603 requer um belo contexto histórico.

É interessante o modo como Shakespeare aborda o ciúme. Quem é ciumento e possessivo geralmente acredita em qualquer mentira bem elaborada, tanto que Iago nem precisa de grande esforço para ludibriar o general. Com suas falas venenosas, aos poucos, Iago finge que “sabe de algo, mas não pode contar” e deixa a entender (após muita insistência de Otelo) que Desdêmona e Cássio estão saindo às escondidas.

O vilão utiliza as fraquezas de Otelo (como sua baixa autoestima) e cria cenas visuais na cabeça do mouro. Otelo não suporta imaginar sua esposa fazendo sexo com Cássio, ferindo seu orgulho masculino. Nada é pior para os homens de cargo alto no exército que serem traídos. E é justamente essa a arma de Iago.

Resenha: Otelo - William Shakespeare
FOTO: Isabela Zamboni | Resenhas à la Carte

Queria ressaltar aqui uma cena em que Emília (esposa de Iago e aia de Desdêmona) faz um discurso feminista (SIM!) para a esposa do mouro. Ela diz que as mulheres também “têm sentimentos e sentem prazer da mesma forma que o sexo masculino”.

Enquanto conversa com a esposa de Otelo, Emília praticamente a incentiva a parar de ser submissa e não aceitar todas as ordens do marido. Claro que isso é apenas um embrião do que seria realmente o movimento feminista, mas é incrível ler isso em uma obra tão antiga. Porém, em várias encenações da peça esse diálogo não existiu.

Otelo é aquela obra que você precisa ler com calma, mas que vai abrir portas para a compreensão de arquétipos. É importante fazer uma análise aprofundada das personagens e relacioná-las com o contexto histórico da época. Entender passagens bíblicas também é um diferencial, já que Shakespeare as utiliza com frequência.

Porém, se você tiver medo de ler a obra no texto original, deixe isso de lado: aos pouquinhos é possível adentrar no universo shakespeariano e até se apaixonar pela desenvoltura dos personagens. É só dar uma chance 🙂

Nota: 

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