*Atualizado em 24 de setembro de 2024
O livro Mulherzinhas é um daqueles clássicos que já foram citados milhares de vezes no cinema, na TV e em outros livros.
Com várias adaptações, a obra de Louisa May Alcott tornou-se uma referência mundial na literatura jovem/infantil. A história das irmãs Jo, Amy, Beth e Meg fascina até hoje, com personagens únicas de personalidades fortes.
Vamos à sinopse:
As quatro irmãs March são muito diferentes entre si. A já adulta Meg; Jo, a moleca impulsiva; Beth, tímida e introvertida; e Amy, a precoce caçula. Mas com o pai longe de casa, na guerra, e a mãe trabalhando para sustentar a família, elas precisam cooperar e apoiar umas às outras. Encenam peças, fundam sociedades secretas, preparam os festejos de Natal, dão os primeiros passos na sociedade adulta e aprendem o valor da amizade verdadeira. É com o coração pleno que acompanhamos as dúvidas, as aventuras e desventuras dessas adoráveis meninas, nesta história atemporal emocionante que nos faz vibrar e sorrir. Publicado originalmente em 1868, nos Estados Unidos, o livro teve sucesso imediato de crítica e público, o que suscitou a publicação de várias continuações. Este belo romance de formação, que se lê num fôlego só, não cessa de encantar gerações e gerações de leitoras e leitores, tendo sido adaptado inúmeras vezes para o cinema e para a televisão.
Mulherzinhas oferece uma leitura encantadora e leve. A obra salienta os valores morais da época: civismo, amor à pátria e dedicação extrema ao lar e ao próximo.
Cada capítulo se fecha em si mesmo, como se fossem episódicos. Acompanhamos o crescimento das irmãs, que “um dia já foram ricas, mas hoje são pobres”, e vivem no aguardo do pai, cuja missão consistia em ajudar os soldados na guerra.
A história começa com elas bem jovens: a mais velha, Meg, com 16 anos, enquanto a mais nova, Amy, com 12. Acompanhamos as aventuras e desventuras das irmãs, que moram com a mãe e Hannah, ajudante da casa. Elas fazem amizade com o vizinho Laurie, um rapaz de 16 anos prestes a ir à faculdade, que torna-se praticamente membro da família.
Meg e Jo já trabalham para garantir o sustento da casa, portanto não vão à escola; Beth é extremamente tímida, então estuda em casa, por morrer de medo do convívio social; Amy, a mais nova, é a artista, mas também a mais fútil e inocente, querendo sempre se adequar aos moldes da sociedade, participar de festas, bailes, viagens, mesmo sem ter dinheiro para isso.
Não tem como falar de Little Women sem comentar sobre Jo: a personagem é de longe a mais interessante. Ainda acho ousado uma personagem de 1868 ser tão livre, inteligente e diferente das outras meninas, sem se importar com moda, bailes, garotos ou qualquer futilidade destinada às mulheres.
Jo é explosiva, gosta de ler, escrever, criar peças de teatro, usar botas grosseiras, tem vontade de se alistar no exército, não perde uma aventura e nem aceita desaforos; renega tudo o que uma “boa moça” precisa ter para os padrões da época.
Boa parte dos livros do século XIX, sejam norte-americanos, britânicos, franceses etc., mostram as mulheres com interesses voltados à própria aparência, aos afazeres de casa ou relações amorosas: tricotar, cuidar do lar, casamentos e filhos, dançar em bailes, sem nem considerar o trabalho intelectual.
Elizabeth, de Orgulho e Preconceito, é um desses raros casos de mulheres interessantes, mas ainda cai naquele clichê do romance idealizado com a vida moldada por um homem. Jo, não. Ela poderia viver no século XX ou XXI tranquilamente.
Uma das interpretações possíveis é que Jo seria o alter-ego da autora, inconformada com as normas sociais impostas às mulheres. Louisa May Alcott foi, desde sempre, defensora dos direitos femininos e preocupava-se com questões como a educação, a liberdade e a saúde das mulheres, a igualdade salarial e de oportunidades, bem como o direito de voto.
Já as outras irmãs são bem distintas, mas menos “fora da curva”.
Beth é angelical, ama música e vive apaixonada pelo piano. A personagem é a bondade em pessoa – tão ingênua e fofa que chega a irritar, hahaha. Mas sempre traz alegria a todos a seu redor, com seu charme tímido.
Meg é aquela que sonha com a riqueza, se ilude com amigas da alta sociedade, vive reclamando de ter que trabalhar como governanta. Sente vergonha de suas roupas e da pobreza, mas ainda assim é uma boa moça. Cuida das irmãs de bom grado e obedece à mãe sempre que possível.
Amy é inocente e bobinha, vive em função das aparências. Gosta da beleza, da vaidade, e não quer sentir-se por fora de nenhum acontecimento. Pra mim, é a personagem mais desinteressante, quase que uma antagonista de Jo. Personalidades completamente distintas, mas se amam e respeitam como irmãs.
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Cada capítulo, sempre fechado em si mesmo, é uma lição de moral. A mãe das garotas, Sra. March, vive ensinando as meninas a terem amor pelo próximo, ajudarem os mais necessitados, darem valor ao que têm, demonstrarem seus sentimentos, ocuparem a cabeça com trabalho, entre tantas outros ensinamentos.
Por ser voltado a crianças, é um prato cheio para ensinar valores básicos (exceto o patriotismo exacerbado, que é mais voltado para norte-americanos).
A leitura é bem prazerosa, não dá vontade de parar. Gostei bastante do ritmo e da forma com que a autora conduz, de forma sutil, o amadurecimento das garotas. Os personagens masculinos, de certa forma, são apagados, mas não deixam de ser interessantes, justamente pelo contraste com a família March.
A edição que eu li foi da Via Leitura (Edipro), que fez uma nova versão graças ao filme mais recente. Não conseguia encontrar esse livro no Brasil – estava tudo esgotado e bem antigo – então fiquei feliz com essa novidade. Porém, descobri ao final da leitura, que ele não é a versão completa. Na verdade, esse livro só contém a parte I – que conta o primeiro ano na vida da família March.
Eu já tinha a versão em inglês da Puffin in Bloom (que são edições maravilhosas!), então dei uma olhada no sumário para comparar. E realmente, faltou a parte 2 – a parte em que o tempo passa mais rápido e acompanhamos o crescimento das meninas. Veja:
Devia ter percebido que faltava uma parte, já que as edições têm tamanhos BEM diferentes:
Comecei a ler a segunda parte em inglês e não foi tão difícil. Claro que o ritmo é bem diferente do que ler na própria língua, mas ainda assim, por ter um tom juvenil, não são palavras tão complicadas. E a edição é uma fofura, como já comentei:
Sem querer dar spoilers, mas temos uma tragédia durante a segunda parte do livro. Algumas reviravoltas vão trazer um tom mais melancólico, o que, pra mim, deixou a obra ainda mais diferenciada, já que a autora teve coragem de tomar alguns rumos que provavelmente ninguém esperava.
Mulherzinhas é um romance de formação longo, mas eu sou apaixonada por essas histórias. Me encanto com a passagem do tempo, o amadurecimento das personagens, as mudanças que a vida traz… inclusive, já fiz várias resenhas de romances de formação aqui no blog:
- Grandes Esperanças
- Jane Eyre
- Cândido ou o Otimismo
- Tetralogia Napolitana
- A Redoma de Vidro
- Não me Abandone Jamais
- A Vida Invisível de Eurídice Gusmão
Adaptações de Mulherzinhas
Uma das adaptações mais famosas de Mulherzinhas é o filme de 1994, com Winona Ryder, Christian Bale, Kirsten Dunst, Susan Sarandon e Claire Daines. Não cheguei a assistir, mas está na lista! Veja o trailer:
Uma mais recente (que eu assisti e adorei) é a da BBC, lançada em 2017. São quatro episódios, que ficaram bem fiéis ao livro. Quem faz o papel de Jo é a Maya Hawke, que brilhou na terceira temporada de Stranger Things.
Veja o trailer:
[Atualização em nov/2020]
E uma adaptação recente que fez muito sucesso é a da diretora Greta Gerwig, que foi indicada ao Oscar por Ladybird. O elenco é de peso: Emma Watson, Meryl Streep, Laura Dern, Saoirse Ronan, Timothée Chalamet e muito mais.
Veja o trailer:
E você, já leu? O que achou de Mulherzinhas? Conta pra gente nos comentários!
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Isabela Zamboni Moschin é jornalista, especialista em Língua Portuguesa e Literatura e mestre em Mídia e Tecnologia. Adora café, livros, séries e filmes. Atualmente, trabalha como Analista de Conteúdo na Toro Investimentos